Allan Simon

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ReportagemEsporte

O que sabemos sobre o futuro do Brasileirão na TV após acordo Libra-Globo

A principal notícia da semana passada sobre o futuro dos direitos de transmissão do Brasileirão foi a oficialização do acordo entre Globo e Libra para o ciclo entre 2025 e 2029. A emissora comprou os jogos como mandantes dos clubes que integram esse bloco comercial se comprometendo a pagar R$ 1,3 bilhão por temporada. O Corinthians ainda não aderiu ao contrato e isso pode influenciar os valores pagos pela Globo.

A coluna explica agora o que sabemos até o presente momento sobre o futuro do Campeonato Brasileiro na TV, como estão as negociações atuais em blocos, os valores envolvidos, a divisão do dinheiro, e como tudo isso vai impactar no consumidor final: o torcedor que só quer saber onde vai ver os jogos do seu time.

- O que a Globo comprou na última semana?

A Globo comprou os direitos de transmissão do bloco da Libra. Como não houve acordo entre todos os clubes participantes das duas divisões principais do Brasileirão para a formação de uma liga unificada que pudesse organizar e assumir o comando do Campeonato Brasileiro, ficaram dois blocos (Libra e Liga Forte) comerciais com os direitos de seus respectivos times como mandantes.

No cenário atual, a Libra possui oito times da Série A de 2024, mas vale lembrar que o acordo só será válido em 2025. Ou seja, os rebaixamentos e acessos deste ano poderão mudar as contas. A Libra hoje tem na primeira divisão: Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Atlético-MG, Grêmio, Bahia, Vitória e Red Bull Bragantino. O Corinthians sempre fez parte desse bloco, mas ainda não assinou o contrato com a Globo.

Se esse cenário continuar igual em 2025, a Globo terá direito aos 19 jogos de cada um dos oito times da Libra como mandantes. Na prática, isso representa 152 partidas. Se o Corinthians resolver aderir à Libra, a conta sobe para 171 jogos.

- Quanto a Globo vai pagar pelo pacote de jogos da Libra?

A Globo chegou a um acordo com a Libra para pagar R$ 1,3 bilhão pelos direitos de transmissão dos clubes do bloco em TV aberta e fechada.

Atualização: a Libra procurou a coluna para informar que a versão final do contrato com a Globo atualizou os valores. A proposta original era de R$ 1,1 bilhão fixo por TV aberta + fechada, com R$ 200 milhões de mínimo garantido pelo PPV, com pagamento extra do que ultrapassasse essa quantia em repasses das vendas do Premiere. No acordo efetivamente assinado, o contrato passou a valer R$ 1,3 bilhão por TV aberta + TV fechada, e haverá um repasse extra de PPV.

No entanto, há um desconto previsto no contrato de 11% caso a Libra tenha menos de nove clubes na Série A. E também um outro desconto de 10% caso o Corinthians não esteja no acordo. Ou seja, no cenário atual, com a Libra tendo oito times e ainda sem o time alvinegro no contrato, a conta já cairia para pouco mais de R$ 1 bilhão.

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- Como será a divisão do dinheiro da Libra no Brasileirão?

A divisão será feita pela própria Libra, diferentemente do modelo atual, no qual a Globo é quem faz os repasses para cada clube. A Libra vai adotar a fórmula "40/30/30", na qual 40% do bolo será dividido de forma igualitária entre os membros do bloco, 30% será destinado ao pagamento das premiações por posição na tabela, e os 30% restantes serão distribuídos com base em critérios de audiência.

Mas é importante destacar que o valor pago pela Globo à Libra também servirá para que o bloco destine 3% do valor aos clubes que estiverem na Série B. No cenário de R$ 1,3 bilhão com o Corinthians no acordo e a Libra batendo a meta de nove clubes na Série A, esse repasse que será dividido pelos times da segunda divisão seria de R$ 39 milhões.

A coluna teve acesso a uma projeção com números que circularam entre os clubes da Libra antes da atualização do valor do contrato. Nessa simulação, o valor total do contrato seria de R$ 1,35 bilhão, considerando um repasse de R$ 50 milhões pelo PPV. Nessa projeção, o valor líquido a ser dividido entre nove clubes (incluindo o Corinthians) seria de R$ 1,283 bi, já descontados os valores da Série B (3%) e também custos operacionais na casa de 2%.

Importante: não há mais a garantia mínima de PPV para nenhum clube. O que se comentou nos bastidores foi que os clubes manteriam os valores nos patamares atuais mesmo sem esse elemento. Mas isso dependerá dos repasses das vendas do Premiere e do saldo na divisão do modelo 40/30/30. Como vemos abaixo:

- Como funciona a divisão no modelo 40/30/30?

Os números da projeção consultada pela coluna (R$ 1,35 bi) apontam que o bolo de 40%, a ser dividido de forma igualitária entre nove clubes, seria de R$ 513,3 milhões. Ou seja, em uma conta básica, dividindo por nove, isso daria pouco mais de R$ 57 milhões fixos para cada um.

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O bolo de 30% referente à premiação por posição na tabela ficaria em praticamente R$ 385 milhões, mesmo valor do bolo restante de 30% a ser distribuído por critérios de audiência.

No bolo de premiação, como a Libra não possui 20 clubes, haveria um escalonamento diferente por posição em relação ao modelo atual. O campeão leva hoje 10% do valor destinado aos prêmios, que são divididos por 16 times (só os rebaixados não recebem nada desse bolo no contrato atual).

No futuro contrato, pela projeção consultada, chegaria a 19,1% a parcela do campeão sobre o bolo de premiação. Ou seja, algo em torno de R$ 73,5 milhões para o campeão. O último colocado entre os times da Libra levaria cerca de 3,1%, ou R$ 12 milhões.

O bolo de audiência levaria em conta o alcance nacional em todas as mídias, TV Globo, sportv e Premiere. A projeção consultada indica 24% para o Flamengo (R$ 90,5 milhões) e 23% para o Corinthians (R$ 88,7 mi). Mas esses valores não devem ser levados a ferro e fogo, já que se referem a dados de audiência de 2021, e os números mudam ano após ano, são influenciados pela quantidade de jogos em cada mídia (TV aberta sempre tem mais alcance) e pela situação dos times em campo (quem está bem sempre tende a dar mais audiência). Esses percentuais da projeção são considerando apenas a audiência proporcional dentro do bloco dos times da Libra.

No cenário de repetição da tabela de classificação do Brasileirão 2023, o Palmeiras receberia R$ 57 milhões do bolo fixo e R$ 73,5 mi pelo título. Se repetisse os 16% de audiência proporcional de 2021, levaria mais R$ 60,5 milhões do bolo de exposição, chegando a R$ 191 milhões em ganhos totais.

O Flamengo, quarto colocado no ano passado na classificação do campo, levaria R$ 50,5 milhões pela posição alcançada na tabela e mais R$ 90,5 milhões pela audiência, totalizando R$ 198 milhões. Esse valor total seria maior em caso de uma posição melhor do Rubro-Negro, ou menor em caso de uma classificação inferior, além dos dados de exposição.

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Em 2023, como a coluna já mostrou, o Flamengo levou R$ 275 milhões. Com mais receita de PPV, o clube poderia se aproximar do valor do ano passado, mas isso dependeria das vendas do Premiere, que por sua vez vai depender da quantidade de clubes da Libra na Série A para saber quantos jogos exclusivos terá (já que o pacote desse bloco também precisa ser usado para jogos de acesso gratuito ao torcedor na TV aberta).

- E se o Corinthians não assinar com a Libra?

Depende do que acontecer na migração de times entre a Série A e a Série B para 2025. Se a Libra conseguir aumentar sua participação na primeira divisão e bater a meta de nove clubes sem o Corinthians, a Globo vai pagar R$ 1,17 bilhão ao bloco comercial. Descontando o que iria para a Série B e custos operacionais, o valor a ser dividido entre nove times ficaria em R$ 1,11 bi. O bolo igualitário (40%) ficaria em R$ 444,6 milhões, o que significaria uma cota fixa de R$ 49,4 milhões por clube.

A ausência do Corinthians poderia beneficiar os outros clubes porque o time tem grande potencial de audiência (23%, segundo a projeção que circula entre os times) que seria pulverizado entre os demais, como já explicaram os colunistas Danilo Lavieri e Rodrigo Mattos no UOL. No que se refere à posição na tabela, os valores por posição seriam os mesmos na distribuição entre nove times, mas a tendência é que a saída do Corinthians do bloco 'abra' uma posição melhor para um clube vindo da Série B em 2025.

Mas esse não é o cenário atual. O Corinthians não assinou com a Globo e a Libra só tem oito clubes na Série A. Por isso, o desconto seria ainda maior. Deixaria a conta total pouco acima de R$ 1 bilhão na divisão de receitas. Isso faria o bolo fixo (40%) chegar a R$ 405 milhões.

Dividindo por oito times, cada um levaria a cota igualitária de R$ 50,6 milhões. Um número maior, portanto, que no cenário sem Corinthians e com nove times (R$ 49,4 mi por time), mas menor que o cenário com nove times e o Corinthians incluso (R$ 57 mi por time).

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O bolo de premiação (30%) chegaria a R$ 304 milhões, praticamente R$ 81 milhões a menos que o cenário com nove clubes incluindo o Corinthians. O mesmo vale para o bolo de audiência, que é igual. A saída do clube alvinegro representaria uma perda de R$ 270 milhões na distribuição da Libra nesse cenário com apenas oito times.

O Flamengo, por exemplo, poderia ver sua receita cair de R$ 198 milhões (no cenário com nove times + Corinthians) para a casa dos R$ 175 mi no cenário de quarto lugar na tabela, como em 2023. Sempre lembrando que os valores poderiam aumentar ou diminuir de acordo com o desempenho técnico e de audiência do time nos jogos e transmissões, como também apontaram Lavieri e Mattos nesta semana. Afinal, são projeções dentro do sistema 40/30/30, que só pode ser exato com o resultado da vida real em mãos.

- Como ficariam as transmissões da TV Globo, sportv e Premiere?

Com oito times da Libra na Série A, a Globo garante 152 jogos para usar em suas plataformas. A média é de 4 jogos por rodada, mas esse valor não seria exato, pois a tabela flutua muito nesse sentido. Por exemplo, se valesse no Brasileirão 2024, a Globo teria apenas dois jogos na primeira rodada, com mandos de Vitória contra o Palmeiras e São Paulo contra o Fortaleza (os outros oito jogos são de times da Liga Forte e mais o Corinthians). Na segunda rodada, porém, os times da Libra seriam mandantes em seis partidas. Flutua demais.

A TV Globo conseguiria dar conta da média de dois jogos por rodada com divisão de praças por rodada. Mas o sportv sairia prejudicado quando uma rodada tivesse apenas dois jogos com mandos da Libra, por exemplo, como é a rodada de abertura deste ano. Teria que exibir os mesmos jogos da TV aberta ou ficar sem nada. Ou ver a TV aberta transmitir apenas um jogo em rede nacional e deixar o outro exclusivo para o sportv. Mas tem o Premiere nessa conta também. É confuso.

Em uma rodada com seis times da Libra mandantes, a TV Globo teria sua cota tranquilamente, o sportv também poderia exibir outros jogos, e ainda sobrariam exclusividades para o Premiere. O problema é essa flutuação. Se fosse fixo o número de quatro jogos toda rodada, a Globo conseguiria se planejar melhor para distribuir as partidas entre seus três canais.

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Mas é fato que o PPV fará muito mais sentido se a Globo negociar também com a Liga Forte, já que o Premiere sempre teve como trunfo ser um agregador de jogos que facilita a vida do assinante. No contrato atual, o pay-per-view só não tem os jogos do Athletico em casa, ou seja, possui 361 partidas da Série A. Perderia 209 partidas no cenário de oito times da Libra na Série A.

- E os outros times que não estão na Libra?

A Liga Forte Futebol opera em conjunto com o chamado "Grupo União", formado por Vasco, Cruzeiro, Botafogo e Coritiba. Atualmente, desses, apenas o Coxa está na Série B. No cenário atual, a Liga Forte possui 11 times da Série A e um pacote de 209 jogos para vender. Sempre houve discussões sobre quanto esse pacote vale. A LFF tem atualmente na primeira divisão, além de Vasco, Cruzeiro e Botafogo, o Fluminense e o Internacional, além de Athletico, Fortaleza, Atlético-GO, Criciúma, Cuiabá e Juventude.

Defensores da Libra dizem que os times de maiores torcidas e audiências estão com eles, o que faria o pacote da Liga Forte valer 'bem menos'. Defensores da LFF sempre apontaram que a 'Lei do Mandante' equilibrava o jogo, já que partidas de Flamengo, Corinthians, São Paulo, Palmeiras e Santos estariam no pacote deles quando esses times fossem visitantes contra os clubes componentes da Liga Forte.

Com a indefinição do Corinthians, a possibilidade de adesão ao pacote da Liga Forte Futebol de um dos times com mais torcida e audiência no país mudaria bastante esse jogo. A começar, deixaria o pacote da LFF com 228 partidas, sendo 30 do Corinthians, incluindo jogos importantes em termos de ibope nos principais mercados publicitários do país, como Corinthians x Flamengo, Corinthians x Palmeiras e Corinthians x São Paulo.

A Liga Forte ainda não negocia oficialmente com ninguém, apesar de manter conversas com players do mercado de mídia. A tendência é um modelo de divisão em pacotes, como já foi dito publicamente pelo presidente da LFF, Marcelo Paz, CEO da SAF do Fortaleza.

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- E como fica o torcedor?

Quem torce por um clube fechado com a Libra sabe que terá os 19 jogos de seu time como mandante garantidos nos canais da Globo, seja a TV Globo, o sportv ou o Premiere. Mas alguns jogos fora de casa seriam uma incógnita.

Quando fossem contra times da própria Libra, estariam nas plataformas da Globo também. Ou seja, são mais sete no cenário atual, totalizando 26. Mas quando forem contra times da Liga Forte, estarão nos canais de quem comprar esses direitos. São 11 jogos nessa situação, podendo ser 12 caso o Corinthians tope fazer parte do bloco da LFF.

O único jeito de tudo ficar concentrado em um só lugar seria a Globo comprar todos os jogos da Liga Forte. Aí, nesse caso, a empresa teria 380 jogos para usar em diferentes maneiras entre TV Globo, sportv e Premiere. Em qualquer outro cenário, haverá pulverização de jogos transmitidos em diferentes empresas.

O torcedor de um time da Liga Forte viveria a mesma situação, só que do outro lado. Hoje, teria oito jogos de seu time nos canais da Globo (quando fossem visitantes contra times da Libra). Os outros 29 (ou 30, se o Corinthians aderir) serão das empresas que comprarem os direitos do bloco da LFF.

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Texto que relata acontecimentos, baseado em fatos e dados observados ou verificados diretamente pelo jornalista ou obtidos pelo acesso a fontes jornalísticas reconhecidas e confiáveis.

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