Apolinho, Antero e Silvio Luiz: a dor de perder três referências de uma vez
Quando a gente escolhe ser jornalista, normalmente o faz com o sonho de contar grandes histórias, ser a voz que leva ao público momentos importantes, e 'mudar o mundo'. Mas não sem termos referências, aqueles que vieram antes e pavimentaram um caminho com a criação de modelos e formas de fazer Jornalismo. Com 'J' maiúsculo.
Essas referências nos guiam desde o começo de nossas carreiras e servem como balizas para sabermos o que fazer, como nos comportarmos. Um dia, eventualmente, perdemos essas referências que vão deixando este mundo. Mas três de uma vez? Às vezes, a vida sabe ser dura.
Washington Rodrigues, o Apolinho, nome histórico do rádio no Rio de Janeiro por décadas em emissoras como a Rádio Nacional, Rádio Globo e a Super Rádio Tupi. O Show do Apolinho, a passagem como técnico do Flamengo em pleno ano do centenário do clube rubro-negro, com direito a um vice na Supercopa Libertadores.
Antero Greco, com 50 anos de profissão e um legado gigantesco com passagens pela ESPN, Estadão e tantos outros veículos, com destaque para a dupla histórica formada com Paulo Soares, o Amigão, na condução do SportsCenter, referência de noticiário esportivo na TV por assinatura com bom conteúdo, bom jornalismo, e que furou a 'bolha' pelo lado bem-humorado característico de seus apresentadores.
Silvio Luiz, um dos maiores narradores da televisão brasileira em todos os tempos, que formava ao lado de Luciano do Valle e Galvão Bueno uma espécie de 'Santíssima Trindade' da narração esportiva televisiva no país. Um profissional cuja história se confunde com a própria história da TV, já que começou a trabalhar nesse veículo em seus primeiros anos de existência, na TV Paulista (emissora que uma década mais tarde se transformou na TV Globo SP), e depois passou a fazer história na Record, canal que tinha menos de 20 dias no ar quando Silvio chegou.
Pioneiro na reportagem de campo, ousado em diversas funções até nos bastidores, como diretor de programas, de programação, até câmera ele operava se precisasse naqueles primórdios da televisão. Silvio Luiz foi até ator de novelas. Sua faceta hoje mais conhecida pelo público, a de narrador, só surgiu para valer quando ele já tinha 20 anos de carreira, nos anos 1970. E como soube se reinventar. Virou lenda, referência, rompeu com tudo o que havia até então. Criou bordões, se recusou a 'contar o que a imagem já está mostrando'. Foi irreverente em tempos sisudos. Incomodou a Globo na audiência trabalhando em uma TV Record cheia de dificuldades. Foi gigante.
Em poucas horas, perdemos Apolinho, Antero Greco e Silvio Luiz. Três notícias que infelizmente já se anunciavam nos últimos dias com o agravamento do estado de saúde dos três profissionais. Mas que não doem menos por isso. E que se somam em uma dor que vai demorar a passar.
Antero, palmeirense, morreu logo depois de mais uma vitória do Palmeiras na Libertadores. Apolinho, com sua ligação histórica com o Flamengo, nos deixou durante uma goleada rubro-negra na mesma competição. Silvio Luiz, que trabalhou desde menino, nos anos 1950, e não parou até o último instante possível, passou mal em abril justamente durante uma final de Paulistão que ele narrava na plataforma digital da Record.
São simbolismos, mas que também ajudam a contar a história das tristes horas que tiraram da mídia esportiva três de seus maiores nomes. Fica aquele vazio, aquele sentimento de viver em um mundo que cada vez menos tem as referências que nos guiaram lá atras, quando optamos por esse caminho, por essa profissão. Mas cabe a nós, agora, levar adiante o legado de Apolinho, Antero e Silvio. Valeu, gigantes.
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