Allan Simon

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ReportagemEsporte

Domínio da Globo nos direitos esportivos pode voltar? O que a emissora acha

O domínio exercido pela Globo sobre os direitos de transmissão dos principais eventos esportivos no Brasil por mais de duas décadas ainda é muito lembrado e comentado por fãs de esportes, principalmente nas redes sociais, onde o chamado 'monopólio' que a emissora teve no futebol e demais modalidades nas duas primeiras décadas deste século vira alvo de discussões frequentes em tempos de pulverização dos direitos em canais de TV e plataformas de streaming, abertos e pagos.

Durante o evento em que apresentou os detalhes da transmissão dos Jogos Olímpicos de Paris-2024 em todas as suas plataformas, realizado nesta semana no Rio de Janeiro, a Globo fez questão de mostrar o quanto investiu em tecnologia para fazer a melhor cobertura, apresentou cenários virtuais feitos com efeitos modernos e iguais aos usados em videogames de última geração, e ressaltou a presença de 16 equipes de reportagem na capital francesa.

Se quer fazer a "melhor", é porque haverá outra cobertura. No caso, a da CazéTV, canal produzido pela LiveMode em parceria com o streamer Casimiro Miguel, que possui os direitos digitais das Olimpíadas após a Globo renegociar seu acordo com o COI e abrir mão de todas as exclusividades sobre o evento, mais um capítulo do fim do domínio absoluto que a maior emissora do país teve sobre eventos esportivos. Mas esse domínio tem volta? A Globo não se interessa mais por exclusividades totais?

Foi o que a coluna perguntou durante a coletiva de imprensa concedida pelos principais nomes que comandam hoje o esporte da Globo. Como a emissora vê o conceito de exclusividade em 2024, depois de tanto tempo no qual esse foi o objetivo de emissoras e empresas de comunicação no mundo inteiro?

"Eu acho que mudou muito nos últimos anos, e muito pelos movimentos que a Globo fez no mercado de direitos esportivos. Em cada evento a gente está pronto para estabelecer relações diferentes na aquisição de direitos esportivos", disse Renato Ribeiro, diretor de esporte da Globo.

Os movimentos aos quais Renato Ribeiro se referia não ficam restritos à renegociação com o COI. Na Copa do Mundo, por exemplo, e demais eventos de seleções da Fifa, como a edição feminina realizada no ano passado, a Globo abriu mão da exclusividade e da totalidade dos jogos.

O pacote comprado garante metade da Copa de 2026 (52 jogos) e todos os duelos com participação da seleção brasileira, além da final. Qualquer outra emissora ou plataforma pode comprar alguns dos outros 52 jogos que a Globo não terá, ou ainda um pacote completo com os 104 que está sendo comercializado pela LiveMode, também parceira da Fifa na negociação de direitos de transmissão.

A visão que a Globo tem hoje sobre o conceito de exclusividade foi explicitada pelo diretor da área do esporte usando justamente exemplos de eventos que acontecem entre junho e julho deste ano.

"Alguns, a gente vai ter exclusividade plena, como na Copa América. Outros, a gente não tem exclusividade, como nos Jogos Olímpicos. Em outros a gente divide o evento, como é o caso da Eurocopa agora, que a gente tem metade dos jogos. Cada direito a gente pode adquirir de uma forma. É um jeito novo, e a gente está pronto para ter visões diferentes nessa aquisição de acordo com o evento e com o interesse que a gente tem sobre o evento. Em alguns, a gente pode abrir mão da exclusividade, em outros a gente pode dividir. É melhor ter o evento de alguma forma e ter dentro de casa de alguma forma, do que não ter. A gente está pronto para qualquer tipo de formato de aquisição. E cada vez vai ser mais comum, e a gente acredita nisso", disse Ribeiro.

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"No fim das contas, a gente está vivendo dois meses espetaculares porque a gente está com os três grandes eventos do ano", completou. A diretora de transmissões esportivas e gestão de elenco do esporte da Globo, Joana Thimoteo, seguiu a mesma linha e disse que a prioridade da emissora é o conjunto de produtos que será oferecido ao público nas plataformas da empresa.

"Eu acho que é mais sobre o nosso portfólio, o portfólio que a gente quer ter, acho que esse é o ponto. E o modelo que a gente vai criar para ter aquele direito. E aí a gente vai topar o que nos interessar, mas é sobre a gente ter o maior portfólio, um dos maiores do mundo, e com certeza o maior do Brasil em esportes. A gente precisou repensar como a gente modelava isso. A gente parou, repensou, e hoje a gente está bem confortável com isso", disse Joana.

O diretor de canais esportivos da Globo, Eduardo Gabbay, lembrou que em plataformas pagas a concorrência já existia em outros tempos, e afirmou que a empresa já era acostumada a lidar com a concorrência a partir das experiências do sportv na TV por assinatura.

"A história passa por isso. A Globo navega, e principalmente o sportv no modelo pago, em grandes eventos dividindo com Fox, com ESPN, é nossa tradição ter grandes direitos de forma não exclusiva. E é como o Renato [Ribeiro] falou, a gente realmente vai fazer um olhar crítico, decisão a decisão, caso a caso, em muitos casos até a decisão nem passa só por nós, passa pelo próprio detentor da forma como organiza a venda dos direitos", disse Gabbay.

"E é interessante falar que às vezes a não exclusividade vem até como benefício, vide aqui as nossas marcas. Temos aqui futebol sendo transmitido na TV Globo, ao mesmo tempo às vezes no Premiere, no sportv, e as coisas se retroalimentam. Então eu acho que a gente vai ter um olhar para saber que portfólio que a gente quer priorizar, que histórias a gente quer preservar, e aí a gente vai atrás dos modelos de aquisição de direitos também navegando na capacidade e no formato que o próprio detentor traz para negociar", completou o diretor de canais esportivos da Globo.

Concorrência da CazéTV nas Olimpíadas

Sobre a presença da CazéTV, um canal que surgiu com as transmissões da Copa do Mundo em 2022 na esteira de um direito digital do qual a Globo abriu mão da exclusividade, na transmissão olímpica de Paris-2024, a visão da Globo não é a de uma concorrência direta com seus veículos de TV, e sim uma oportunidade de ampliar o público que consome o produto Olimpíada.

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"A existência da concorrência nos Jogos Olímpicos não é uma novidade para a gente, sempre teve ao longo dos anos, mesmo em Tóquio (edição de 2020 realizada em 2021 por causa da pandemia) o sportv tinha a concorrência do BandSports, enquanto na TV aberta era só a TV Globo. Mas historicamente a gente sempre teve muita concorrência, plataformas diferentes, enfim. E nesse caso específico (da CazéTV), a nossa visão é que é uma audiência que agrega ao conjunto de quem vai consumir a Olimpíada. É mais gente chegando para ver a Olimpíada", disse Renato Ribeiro.

"Acho que tem um olhar aí, quando a gente fala de 'concorrência', eu não sei se a gente está concorrendo entre a gente, eu acho que hoje a gente está concorrendo pela atenção do consumidor. Essa concorrência é que a gente tem que estar preocupado. A gente tem que ser suficientemente relevante para que o consumidor queira assistir ao que a gente faz está fazendo, que ela queira saber sobre Olimpíadas, que ele queira estar informado sobre quem é o novo medalhista. Porque ele pode estar vendo uma série, pode estar na academia, pode estar fazendo outras coisas, porque hoje isso tudo está muito pulverizado", disse Joana Thimoteo.

A diretora de transmissões completou falando sobre a mudança de perfil e hábitos de consumo da população, especialmente da nova geração. "Quanto tempo a gente passa (vendo um conteúdo)? Eu acho que a gente aqui é de um grupo até mais velho que ainda assiste a algumas coisa por duas horas. Mas se você pega uma moçada, eles já não assistem. Porque eles estão realmente fazem muitas coisas ao mesmo tempo. Acho que esse é o olhar que a gente tem que colocar", afirmou.

O colunista viajou ao Rio de Janeiro a convite da Globo.

Reportagem

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