Fora da Globo, Galvão entende como é dura a vida de youtuber
Galvão Bueno chegou aos Jogos Olímpicos de Paris-2024 com missões bem diferentes das últimas edições de Olimpíadas. Fora da função de narrador da TV Globo, o locutor embarcou para a capital francesa para participar da transmissão da cerimônia de abertura e fazer boletins diários para a emissora, mas também para participar e produzir conteúdos em parceria com o COB (Comitê Olímpico do Brasil) na internet.
Fora da Globo, os principais destaques de Galvão Bueno antes de começarem os jogos eram o COBcast, um podcast com imagens exibido diariamente no canal do Time Brasil no YouTube, além do 'Paris é Aqui', do Canal GB, que Galvão toca há mais de um ano com a agência Play9. Ambos produzidos na Casa Brasil em Paris, mas que estão funcionando de formas diferentes na relação do público com o algoritmo da plataforma.
Como os canais com conteúdos de Galvão funcionam no YouTube
No Canal GB, que conta com mais de 1 milhão de inscritos e já tinha uma rotina de produção de vídeos, Galvão Bueno tem conseguido passar de 100 mil visualizações com o 'Paris é Aqui'. É um local onde o narrador já possui sua base de fãs e público fiel. No canal do Time Brasil, que é mais diverso em termos de conteúdos publicados sobre esportes olímpicos em vários formatos, as produções ficam abaixo de 5 mil views. Muito diferente para um profissional acostumado a números na base de milhões de espectadores na Globo.
Depois de passar quatro décadas na maior emissora do país, que é tão "dona" de sua audiência a ponto de eventos perderem alcance quando mudam de canal na TV aberta, como aconteceu com a própria Olimpíada em 2012 na Record e com campeonatos como a Libertadores no SBT, Galvão Bueno agora está no jogo dos algoritmos da internet.
As maiores audiências do Canal GB são normalmente quando Galvão faz comentários pós-jogos da seleção brasileira de futebol. A opinião depois do primeiro gol de Endrick com a camisa do time brasileiro, por exemplo, teve 1,1 milhão de visualizações. A eliminação na Copa América, no mês passado, rendeu 914 mil.
Dentro da realidade do YouTube, são números expressivos que mostram que o torcedor ainda procura Galvão Bueno nesses momentos, provavelmente com saudades por seu papel opinativo com forte tom de crítica não ter sido suprido por Luis Roberto nas transmissões da Globo. Mas, no geral, o canal de Galvão ainda briga em um cenário difícil para criadores de conteúdo que não possuem direitos de transmissão na internet.
O algoritmo da plataforma prioriza um modelo que busca entregar ao usuário as melhores recomendações, ou seja, conteúdos parecidos com o que o internauta costuma interagir, consumir, engajar. Se não houver uma ação propriamente dita do espectador em buscar um conteúdo de determinado criador, como Galvão Bueno, o canal vai depender das recomendações da plataforma, que podem se dar na página inicial, nas laterais de outros vídeos, ou na página de inscrições do usuário logado.
É diferente quando há uma propagação em massa da notícia de que um canal está transmitindo um evento ao vivo de interesse popular, o que leva a uma massiva busca por aquele conteúdo. Também há diferença importante entre o rendimento de um canal que é de Galvão Bueno, leva a marca do narrador, e um canal como o do Time Brasil, já que os usuários mais frequentes de cada um deles são diferentes e nem sempre se interessam pelo mesmo formato de conteúdo.
A estreia do Canal GB, em março do ano passado, foi justamente baseada em direitos de transmissão com um jogo do Brasil que não tinha sido adquirido pela Globo e ficou disponível no mercado. Galvão narrou a partida em seu canal no YouTube, o jogo contra Marrocos não foi exclusivo (também transmitido pela Band e ESPN), e rendeu quase 10 milhões de visualizações. Um ponto de partida que mostrava o potencial do projeto, mas que acabou ficando como algo quase isolado pela falta de continuidade na aquisição de novos eventos.
Canal de Galvão ainda pode buscar direitos de transmissão?
Durante entrevista ao programa Roda Viva, da TV Cultura, exibida no mês passado, Galvão Bueno disse que "teve que parar" por causa do contrato existente entre ele e a Globo na área do Esporte, e deixou no ar a possibilidade de voltar a buscar competições para transmitir a partir de 2025. Após o Brasil x Marrocos, o Canal GB exibiu apenas corridas da Stock Car, enquanto CazéTV e GOAT ocuparam o espaço do que Galvão chama de "quarta camada" de transmissões - as gratuitas na internet.
A CazéTV, produzida pela LiveMode em parceria com o streamer Casimiro Miguel, consegue números elevados, como alcançar perto de 20 milhões de dispositivos únicos durante as Olimpíadas, mas isso com os direitos de transmissão do evento, assim como alcançou 31 milhões com a Eurocopa, fez recordes com a Copa do Mundo de 2022, entre outros feitos.
Para quem toca o projeto de um canal no YouTube sem um grande evento de transmissão, a missão é disputar o interesse e a atenção do público em meio a todos os conteúdos que os criadores de conteúdo produzem e são oferecidos pelo algoritmo.
Em conversa com a coluna pouco antes do início das Olimpíadas de Paris, João Pedro Paes Leme, CEO e sócio-fundador da Play9, falou sobre o sucesso que os vídeos de Galvão Bueno fazem em dias de jogos da seleção brasileira, e se existe o sonho de transmitir, por exemplo, a próxima Copa do Mundo em 2026, cujos direitos não são exclusivos da Globo e estão à venda no mercado pela agência LiveMode, parceira da Fifa.
"Se eu dissesse que não (há o sonho), estaria mentindo ou sendo hipócrita. Eu acho que dá para sonhar, não é uma coisa fácil, não está distante do que a gente imagina, mas tem algumas composições de cenário (necessárias), disse Paes Leme. "Pode ser que até lá a gente veja um 'gatekeeper' do digital da quarta camada, pode ser que a LiveMode (produtora da CazéTV) queira bancar tudo e ficar dona da quarta camada inteira, mas eu acho improvável, teria que ser muita grana", continuou o CEO da Play9.
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Quero receber"Como eu acho isso improvável, o que me parece é que vai ter cada vez mais fragmentação (dos direitos), e aí sim o Canal GB surge como uma oportunidade de rever o Galvão narrando em 2026. A não ser que alguma coisa impeça, como um direito muito caro, ou algum outro fator, é um senhor de 74 anos e pode não querer. Mas no fundo eu acho que ele quer", completou João Pedro Paes Leme.
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