Allan Simon

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Na Olimpíada da economia, só Galvão narra medalha em Paris. E posta na rede

A medalha de prata conquistada por Isaquias Queiroz na prova da categoria C1 1000m na canoagem de velocidade hoje nas Olimpíadas de Paris-2024 teve uma narração diferente das três emissoras oficiais que exibem o evento no Brasil. Ninguém menos que Galvão Bueno, assistindo como praticamente um torcedor nas arquibancadas, munido de um microfone simples de lapela sem fio e um celular.

Galvão aproveitou para relembrar uma narração histórica de sua carreira há 24 anos nas Olimpíadas de Sydney-2000, quando a equipe brasileira levou a medalha da mesma cor no revezamento 4x100m do atletismo e o narrador eternizou sua voz nos arquivos do feito com o grito de "É PRATA! É PRATA! É PRATA!", repetindo essa fala para Isaquias.

A curiosidade é que essa narração não apareceu ao vivo em lugar algum. No Brasil, quem viu na TV Globo conferiu um show de Everaldo Marques - mais um - nas Olimpíadas de Paris-2024. Jader Rocha, no sportv, e Rômulo Mendonça, na CazéTV, também foram muito bem, colocando emoção na medida certa. Mas todos eles nos respectivos estúdios de suas emissoras no Brasil. Só Galvão, entre os narradores tradicionais de TV, estava em Paris, fora narrações do rádio que possam ter ocorrido de lá.

Galvão Bueno postou o vídeo em suas redes sociais. Em quatro horas, só no X (antigo Twitter), já eram 350 mil visualizações. O Instagram não exibia o número de views, mas o post naquela rede já contava com mais de 42 mil curtidas. Não foi uma transmissão ao vivo, mas bastante gente na internet viu. E foi a única narração 'in loco'.

Os Jogos de Paris se consolidam como a 'Olimpíada da Economia'. Os narradores da TV Globo, sportv e CazéTV trabalham concentrados no Rio de Janeiro nos respectivos prédios desde o início das competições. A exceção foi a Cerimônia de Abertura, no dia 26 de julho, quando Luis Roberto e Milton Leite estiveram na capital francesa por TV Globo e sportv.

São sinais dos tempos. Galvão, que não consegue largar nem em um momento "família" o ofício que o marcou por quase cinco décadas na TV, quatro delas completas na Globo, está em Paris como parte de projetos ligados ao seu canal no YouTube, o Canal GB, uma produção de conteúdo com o COB, o COBCast, e boletins diários na TV Globo durante o 'Central Olímpica'.

Seus sucessores, especialmente na Globo, narram a Olimpíada do Brasil. Não viajam mais. E faz total sentido, afinal, por que enviar narradores, bancar suas hospedagens em uma cidade cara por mais de duas semanas, se a força de trabalho deles ficaria limitada a um local físico por vez, enquanto nos estúdios confortáveis e no ambiente controlado da emissora no Rio de Janeiro é possível "passear" de uma modalidade para a outra, de um evento para o outro?

A Olimpíada de Tóquio-2020, realizada em 2021 ainda em meio à pandemia quando Galvão estava como narrador da TV Globo, já foi um aviso de que era totalmente possível fazer tudo do Brasil. Vai ser difícil, agora, imaginar outra narração in loco na televisão em Jogos Olímpicos.

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As últimas também foram no Rio de Janeiro, sede de 2016, mas fora do país esse tipo de acontecimento vai ficando na história com uma já distante edição de Londres-2012 exibida só pela Record em TV aberta, além de canais pagos com sportv, ESPN e BandSports.

Mas se você é jovem, sonha ser narrador de TV e viajar o mundo como a geração anterior fazia nos grandes eventos, as notícias para o futuro não são muito boas...

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

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