CazéTV suspende transmissão do Francês por uso de VPN no exterior; entenda
A CazéTV anunciou hoje que não vai transmitir os jogos do Campeonato Francês neste fim de semana. O canal produzido pela LiveMode e pelo streamer Casimiro Miguel, que é detentor dos direitos da Ligue 1, afirmou ter sido informado de que "usuários franceses estavam utilizando métodos para contornar o geoblocking (ou bloqueio geográfico) e assistir às transmissões dentro da França".
Direitos de transmissão são vendidos por territórios. A CazéTV possui os direitos sobre o Francês para o Brasil, e oficialmente ninguém pode ver a transmissão brasileira em outros países. Mas internautas podem usar o recurso da VPN (sigla em inglês para rede privada virtual), que cria um canal direto entre um dispositivo como computadores, celulares, tablets, e um site ou banco de dados, muitas vezes mudando a origem dessa conexão e contornando mecanismos de bloqueio de geolocalização.
Ou seja, um usuário na França poderia usar uma VPN para acessar o canal da CazéTV no YouTube por meio de uma conexão brasileira, e assim ver de graça um jogo da Ligue 1 que é restrito ao PPV ou streaming em território francês. O canal de Casimiro tinha programado Lyon x Monaco para hoje, mas agora a expectativa é de retorno apenas na próxima rodada.
A CazéTV não informou que tipo de notificação foi realizada além do aviso sobre o uso de mecanismos para driblar o bloqueio geográfico, mas normalmente isso ocorre devido a reclamações dos detentores de direitos de transmissão. Nos últimos anos, as exibições gratuitas de competições esportivas sofreram com alguns problemas em plataformas no YouTube. Em alguns casos, um erro na hora de montar a live que transmite um jogo, ou um "esquecimento" de fechar o acesso para fora do país, gerou uma queda da transmissão, o que não foi o caso de hoje no Francês.
Classificação e jogos
Outro exemplo bem diferente: o canal GOAT, que também transmite eventos gratuitamente no YouTube, sofreu recentemente na Série B com a exclusão de uma live de um jogo entre América-MG x Santos, mas neste caso o ocorrido se deu por causa de uma falha no sistema antipirataria da Globo, que identificou a transmissão como se fosse um link pirata 'furando' a exclusividade do Premiere (que não existia naquela partida). A emissora carioca pediu desculpas na ocasião e cedeu um jogo exclusivo do Santos para o GOAT como compensação.
Problemas com localização nos direitos de transmissão podem ficar mais frequentes com as exibições gratuitas na internet e vão requerer das plataformas mecanismos para evitar as conexões por meio de VPN. Mas não são inéditos na era do streaming. Em 2002, semanas antes da Copa do Mundo que o Brasil venceria na Coreia do Sul e do Japão, o governo do então presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) precisou baixar um decreto proibindo a Globo de codificar o sinal do evento nas antenas parabólicas.
O decreto não foi feito contra a Globo, como parece à primeira vista, e sim para liberar a emissora de uma exigência contratual da Fifa, que não queria que o sinal fosse acessado em países vizinhos do Brasil. Na época, havia 50 milhões de telespectadores dependentes do sinal de parabólicas para terem acesso à Copa. O contrato entre Fifa e Globo obrigava a ação do canal para impedir pirataria de sinais, ou seja, a codificação deles.
Como o sistema brasileiro ainda era analógico, a codificação impediria que o público com antenas parabólicas visse o Mundial. A Globo tinha obrigação de cumprir esse contrato, mas o decreto de FHC "blindou" a emissora de consequências legais. Ou seja, a Copa não foi bloqueada nesse sistema e não houve qualquer processo da Fifa, já que legalmente a Globo estava cumprindo uma decisão com efeito de lei.
Veja a íntegra da nota da CazéTV:
"A CazéTV, que detém os direitos de transmissão da Ligue 1, foi informada que usuários franceses estavam utilizando métodos para contornar o geoblocking (ou bloqueio geográfico) e assistir às transmissões dentro da França em algumas de suas plataformas parceiras, o que é ilegal. O geoblocking é uma tecnologia que restringe o acesso a conteúdos com base na localização geográfica do usuário, utilizando diversas ferramentas para determinar de onde ele está acessando o conteúdo. No caso da CazéTV, que possui direitos de transmissão da Ligue 1 apenas para o Brasil, as transmissões não podem ser visualizadas em outros países, como a França.
Como medida de precaução, a CazéTV decidiu não exibir as transmissões dos jogos deste fim de semana, até que todas as plataformas de distribuição garantam que o conteúdo estará corretamente bloqueado para usuários fora do Brasil. As transmissões serão retomadas na próxima rodada, com a segurança de que o geoblocking está efetivamente funcionando para todos os usuários fora do Brasil."
Deixe seu comentário
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Leia as Regras de Uso do UOL.