Saída de Cleber Machado expõe falhas graves no projeto de futebol do SBT
Quando Cleber Machado foi anunciado como novo reforço do SBT, em 1º de setembro de 2023, há pouco mais de um ano, esta coluna apontou que aquele movimento reafirmava o projeto de futebol da emissora fundada por Silvio Santos.
Afinal de contas, o canal já se movimentava nos bastidores para renovar os direitos da Champions League até 2027 (o que de fato aconteceu), prometia manter Téo José no time de narradores (o que não aconteceu) e era visto como um possível comprador do Brasileirão na venda promovida pela LFU (Liga Forte União).
Era uma resposta depois da desconfiança que o SBT despertou em seu retorno ao futebol nacional, em 2020, após 17 anos de ausência no esporte entre as transmissões esporádicas do Paulistão e de torneios da seleção em 2003 até a compra da final do Carioca com o Flamengo usando a Lei do Mandante há quatro anos. A compra da Libertadores até 2022, na esteira da desistência da TV Globo, foi o motor que levou adiante o projeto esportivo do canal da família Abravanel.
Cortamos para 11 de outubro de 2024. O SBT perdeu Cleber Machado para a Record, Téo José está na TV Sucesso, afiliada à Band em Goiânia, faz transmissões nacionais no canal na Liga Europa, nenhum outro direito foi comprado além da renovação da Champions e de jogos do Vasco como mandantes no Campeonato Carioca de 2024, e o Brasileirão foi parar no canal de Edir Macedo.
O SBT se acostumou nos últimos anos a perder oportunidades no mercado de direitos. Não conseguiu renovar a Libertadores na licitação promovida pela Conmebol em 2022, mas saiu pelo menos com a Copa Sul-Americana no bolso, contando com muita sorte para ter o Corinthians chegando a duas semifinais seguidas e dando muita audiência para a emissora nos mata-matas.
Não teve forças na disputa pelos direitos do Paulistão, promovida pela LiveMode e pela FPF (Federação Paulista de Futebol) em 2021, e viu a Record levar o contrato até 2025, agora já renovado até 2029. Perdeu o Brasileirão da LFU para a mesma emissora até 2027. A Copa do Brasil não teve nem chances, a CBF negociou diretamente com a Globo até 2026. O que sobrou? Além de tudo, ainda reconheceu na nota oficial de saída de Cleber que ainda tenta mantê-lo para as partidas finais da Sul-Americana.
Entre a emissora que contratava um nome que se consolidou durante mais de três décadas na TV Globo, a maior emissora do país, e prometia manter um time com três ótimos nomes na narração (Cleber, Téo e Luiz Alano), e o SBT de hoje, vai uma distância repleta de frustrações. Na contratação de Cleber Machado, a coluna escrever o seguinte trecho sobre a dúvida entre Record e SBT que pairou sobre o narrador nos meses anteriores:
"A Record, porém, não era a casa ideal para Cleber Machado. A emissora pouco se movimenta no mercado de direitos de transmissão. Tem apenas o Paulistão em sua grade, contrato atualmente previsto até 2025. Dispensou nomes importantes de sua equipe esportiva, como o narrador Lucas Pereira. O SBT também não tem sido um grande competidor nas disputas por direitos, mas pelo menos possui um portfólio interessante que garante futebol o ano inteiro. A emissora tem a Champions League, que está em seu último ano de contrato, mas negocia ainda a possível permanência em TV aberta, é detentora da Copa Sul-Americana em TV aberta até 2026, e transmite fases finais de torneios da Uefa, como a Europa League e a Conference League".
Em um ano, um mês e 10 dias, tudo mudou. A Record agora é o canal que tem o Paulistão até 2029, o Brasileirão até 2027, e vai ter a partir do ano que vem 54 datas de futebol garantidas, além da provável implantação de um programa esportivo e de mais cobertura da área nos telejornais da casa. O SBT perdeu as finais da Europa League e Conference League, ganhou quatro datas com a Champions League em seu novo formato, e ainda tem mais duas temporadas inteiras de Sul-Americana depois da atual.
O SBT negociou e disse publicamente que se retirou da disputa pelos 38 jogos em plataformas abertas da LFU no Brasileirão, um movimento ainda no mês de agosto. Pelo que a coluna apurou, isso aconteceu depois que o canal já havia perdido para a Record, ou seja, desistiu do que não poderia alcançar já naquele momento. O resultado final da passagem de Cleber Machado é uma emissora que perdeu um dos narradores mais identificados com sua marca, Téo José, e acabou ficando sem Cleber também.
Uma história que poderia ter sido diferente se o canal fosse mais ousado nas disputas por direitos de transmissão. Enquanto isso, a Record terá futebol envolvendo grandes clubes de janeiro a dezembro, sem depender o tempo todo da sorte nos mata-matas.
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