Como o novo calendário do futebol vai mexer com as transmissões em 2025
A CBF divulgou hoje oficialmente o calendário do futebol brasileiro em 2025 com mudanças importantes provocadas pela realização do novo Mundial de Clubes da Fifa, agora em versão com 32 clubes, sendo quatro deles do Brasil, e com tamanho de Copa do Mundo no meio do ano.
Os estaduais vão começar e terminar um pouco mais cedo para que o Brasileirão possa ser iniciado no dia 29 de março, tenha espaço para ser paralisado por um mês entre junho e julho, e termine apenas em 21 de dezembro. A paralisação é necessária porque Palmeiras, Flamengo e Fluminense, além do vencedor da próxima final da Libertadores entre Atlético-MG e Botafogo, estarão nos EUA disputando o Mundial.
A coluna analisa agora quais serão os principais impactos desse novo calendário no mercado de transmissões do Brasil.
1 - Quem vive só de estaduais terá futebol por menos semanas
Emissoras que só possuem campeonatos estaduais como atrações envolvendo clubes brasileiros poderão sofrer, já que o período de realização dessas competições ficou comprimido entre 12 de janeiro e 26 de março, com o agravante de as duas últimas datas serem separadas por uma data Fifa na qual o Brasil enfrentará Colômbia e Argentina nas eliminatóras sul-americanas para a Copa do Mundo.
A CBF apertou o calendário e fez caber nele as 16 datas que o Paulistão, por exemplo, já vendeu para suas detentoras de direitos de transmissão. A Record, que exibe em TV aberta, teria se dado muito mal com um período reduzido de futebol na tela. Entre 2021 e 2024, a emissora de Edir Macedo mostrou apenas estaduais em cerca de três meses. Agora, o Paulistão terá pouco mais de dois meses. O número de transmissões fica mantido, então quanto a isso não haverá problemas.
Mas a Record tem outro trunfo na mão: não depende mais apenas do Paulistão, já que assinou contrato com a LFU (Liga Forte União) para transmitir 38 jogos do Brasileirão, que começa mais cedo, é um campeonato nacional, atrai mais relevância e chegará possivelmente embalado pelos resultados da emissora nos mata-matas paulistas. O mesmo se aplica ao YouTube, que colocará na CazéTV tanto o Campeonato Paulista quanto o Brasileiro, também via Liga Forte neste último caso.
A TNT Sports, que é a 'Casa da Champions', no futebol nacional conta atualmente apenas com as competições da Federação Paulista de Futebol, mas ainda pode negociar os jogos restantes que a LFU não vendeu até agora.
Emissoras locais que exibem seus estaduais, como a TV Verdes Mares no Ceará, a TVE Bahia, entre outras, terão menos tempo de futebol no calendário com essas mudanças. E para não dizer que não falamos de um lado bom: com menos tempo de disputa, a tendência é que rodadas chatas e sem emoção também passem mais rápido na cabeça do torcedor, que quer logo as decisões.
2 - Transmissões dos Nacionais ficarão um mês paradas
Com a realização do Mundial de Clubes da Fifa no meio do ano causando a paralisação das competições nacionais, como Brasileirão Série A e Copa do Brasil, as emissoras que possuem apenas essas competições vão ficar sem futebol durante esse período, como se fosse mais um ano de Copa do Mundo.
A Globo, em documento de apresentação do Futebol 2025 destinado aos anunciantes e obtido pela coluna, já alertava para isso no campo "observações comerciais". O oitavo tópico dizia: "No período de 15 de junho a 13 de julho de 2025, devido às transmissões e cobertura do Mundial de Clubes da Fifa 2025, não teremos transmissões e cobertura da Copa do Brasil e Brasileirão que compõem esse projeto".
Oficialmente, a Globo não detém ainda os direitos de transmissão do Mundial, mas é uma das emissoras interessadas no evento principalmente por causa dos times brasileiros envolvidos. Outras marcas que possuem o Brasileirão, como Record, YouTube e Amazon, esta última também detentora da Copa do Brasil em parceria com a Globo, podem ter uma pausa forçada em suas transmissões se não estiverem também de alguma forma com o evento da Fifa em junho e julho.
3 - Brasileirão diferente em ano de mudanças nos direitos
O Brasileirão terá um mês de pausa para o Mundial, como já observamos, mas o período de disputa fica maior: entre 29 de março e 21 de dezembro, aproximando a reta final do próprio fim do ano. É uma possibilidade ter o título definido apenas quatro dias antes do Natal, algo que remete a tempos antigos, como nas finais dos anos 1990 e mesmo na edição vencida pelo Santos nos pontos corridos em 2004, encerrada no dia 19 de dezembro.
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Quero receberÉ uma vitória de quem possui os direitos dessa competição, que vai concentrar atenções por mais tempo, apesar da paralisação, mas já deixando os estaduais para trás ainda no mês de março. A Globo até agora possui os times da Libra (Flamengo, Palmeiras, São Paulo, Atlético-MG, Grêmio, Bahia, Vitória e Red Bull Bragantino fazem parte na Série A deste ano, enquanto o Santos já garantiu vaga para 2025). A LFU está na Record, no YouTube e na Amazon, e ainda comercializa cerca de 4 jogos por rodada, se mantida a quantidade atual de times na elite, 12. Tem no pacote equipes como Corinthians, Botafogo, Cruzeiro, Vasco, Fluminense, Internacional, Fortaleza, entre outros.
Serão 11 rodadas de meio de semana entre as 38 da competição. O principal desafio não mudou: será lidar com as escolhas dos jogos em canais tão diferentes, já que isso também é influenciado pelas outras competições. Por exemplo: se um meio de semana tem a realização de uma rodada da Libertadores e da Copa Sul-Americana, os jogos dos fins de semana anterior e posterior no Brasileirão são afetadas pelas escolhas da TV nas competições da Conmebol.
Se um time é escolhido pela ESPN, Paramount ou SBT para jogar na terça-feira, ele não pode jogar no domingo anterior, inviabilizando sua escolha pela TV Globo e pela Record, se estas quiserem sempre manter o padrão de exibir partidas aos domingos. Se a escolha nos torneios da Conmebol for pela quinta, o dia inviabilizado é o sábado seguinte, o que pode modificar planos de plataformas pagas no Brasileirão.
O lado bom, porém, será forçar para mais cedo a definição da tabela básica do Brasileirão. Os mandos de campo serão cruciais, já que a lei determina que os jogos são transmitidos por quem tem contrato com os times mandantes. Esse tipo de informação já deverá sair até 45 dias antes do início do Brasileirão, ou seja, até o começo de fevereiro. Aí saberemos quantos jogos cada bloco terá a cada rodada, mesmo sem ainda saber datas e horários exatos, o que só acontece ao longo do ano.
4 - Copa do Brasil definitivamente nos fins de semana na semifinal
Depois de toda a polêmica neste ano com a troca das datas dos jogos de volta das semifinais da Copa do Brasil entre Flamengo e Corinthians e Atlético-MG e Vasco, que a princípio seriam realizadas em uma quinta-feira logo após a data Fifa de outubro, mas acabaram trocando com o Brasileirão e ocupando o fim de semana seguinte, a CBF resolveu estabelecer de vez que esse será o expediente adotado em 2025. Ida e volta serão em domingos (ou sábados) separados novamente pela data Fifa de outubro.
É um ganho para a Globo, detentora da Copa do Brasil e que só divide os direitos com a Amazon, que vai 'desalojar' as concorrentes Record e YouTube dos domingos por mais vezes naquela época.
A Record, por exemplo, deverá ter um jogo do Brasileirão no dia 1º de outubro, domingo, retornar apenas no dia 16, uma quarta, e ficar mais dez dias sem partidas até 26 de outubro, outro domingo, e então retornando apenas no dia 5 de novembro, uma quarta, já que a ida da final da Copa do Brasil ficará no dia 2, domingo. Como a volta será no dia 9 e depois haverá outra data Fifa, a Record voltaria apenas no dia 20 de novembro, uma quinta pós-data Fifa.
Em compensação, a partir do dia 30 de novembro, será uma maratona de Brasileirão quarta e domingo até 21 de dezembro. Resta saber o que será da Copa Intercontinental da Fifa, a versão anual realizada no fim do ano.
5 - Todas as atenções voltadas para o Mundial de Clubes
Se a Fifa precisava de mais um trunfo para vender os direitos de transmissão do novo Mundial no Brasil, a paralisação do Brasileirão e da Copa do Brasil veio como algo indispensável para tal. Durante um mês, sem as principais competições nacionais, o torcedor vai se voltar para a competição interclubes nos Estados Unidos. Mas isso também leva a alguns desafios.
A primeira comparação é evidente: parece uma Copa do Mundo. Mas na Copa do Mundo muita gente se interessa, os índices de audiência são acima da média mesmo quando a seleção brasileira cai fora nas quartas de final. E em um Mundial de Clubes com 32 participantes, como será? Até onde vão Palmeiras, Flamengo, Fluminense e Botafogo ou Atlético-MG?
Caso todos eles sejam eliminados, por exemplo, até oitavas de final, o futebol brasileiro - e consequentemente a TV - viverá um momento de menor interesse pelo Mundial, os times nacionais todos ainda sem jogar, e a própria expectativa da população em geral ainda é uma interrogação. Será que os quatro representantes do Brasil serão capazes de atrair o povo brasileiro para a frente da TV tal qual ocorre em uma Copa? Corintianos, são-paulinos e santistas darão audiência aos jogos do Palmeiras? Vai ser um novo teste muito interessante para quem gosta do tema "mídia esportiva".
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