Se o campo é de Klopp e Guardiola, o vestiário é de Zidane
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Em fevereiro, o Real Madrid foi eliminado da Copa do Rei pela Real Sociedad. Derrota doída, em casa por 4 a 3. Chegou a estar 4 a 1 para o time basco. Seria bomba devastadora em um clube gigante multicampeão, uma marca global. Mas Zinedine Zidane, ídolo e hoje treinador, tratou de deixar tudo bem claro logo após a partida:
- Estamos todos juntos aqui e tivemos uma partida ruim. É verdade que quatro gols é muita coisa e isso machuca, mas não vamos mudar nada no plano de rotação. Eu acredito nesse elenco e esse jogo não muda nada.
Cinco meses depois, Zidane grita de alívio pela vitória por 2 a 1 sobre o Granada. A nona consecutiva depois da volta da liga espanhola. Com nove escalações diferentes, rodando o elenco como planejava. Colocando quatro pontos de vantagem sobre o Barcelona faltando duas rodadas para confirmar o título nacional.
Será o 12º em cerca de quatro temporadas e meia no comando técnico do Real Madrid. E ainda vivo para tentar a quarta conquista de Liga dos Campeões em quatro tentativas. Um fenômeno em resultados que não gera o mesmo impacto, por exemplo, que o início igualmente meteórico de Pep Guardiola no Barcelona.
Talvez porque "Zizou" interfira menos no jogo. Não é revolucionário, mas um administrador. Como Carlo Ancelotti, referência como treinador desde quando o francês foi auxiliar do italiano na conquista histórica de "La Decima" em 2014. Zidane não criou, nem atualizou conceitos. Como Guardiola ou Jürgen Klopp, os mais influentes da atualidade. O "zeitgeist", ou espírito do tempo, no campo é deles. Hoje até mais do alemão, por conta dos títulos recentes e de um jogo intenso no mais alto nível.
Não que Zidane seja medíocre em termos táticos ou estratégicos. Pelo contrário. O Real Madrid sob seu comando trabalha jogo a jogo. Pode investir em velocidade nas transições ofensivas com os jovens brasileiros Rodrygo e Vinícius Júnior ou apostar em um meio-campo recheado para controlar o jogo pela posse de bola. Como no triunfo fora de casa sobre o Granada, com Casemiro, Modric, Kroos, Valverde e Isco.
Este um dos "renegados" que Zidane administra com cuidado. Assim como a irregularidade de Eden Hazard. Jogadores ainda capazes de entregar desempenho em situações específicas, ao contrário de James Rodríguez e Gareth Bale. Mas nada que gere uma profunda crise. Porque todos que demonstram algum interesse ganham minutos em campo.
O vestiário é de Zidane, a liderança tranquila que impõe respeito pelo tamanho que tem no clube e pelo jogador extraordinário e vencedor que foi. Que entende olhares, expressões corporais, entrelinhas e segue em frente. Se confirmar o título da liga, tão valorizada pelo francês por premiar o melhor time, será novamente com mudanças constantes na equipe.
Já na Champions o histórico é de manutenção. O único a ser bicampeão repetindo a escalação nas finais. Na primeira conquista do tri, em 2016, apenas duas mudanças em relação às seguintes: Pepe na zaga, não Varane. E Bale no ataque, ao invés de Isco que entrou para compor o 4-3-1-2 "móvel" que entrou para a história. E agora mostra que ainda pode ser vencedor, mesmo sem Cristiano Ronaldo.
Porque Zidane é um grande treinador. Com ele, o time merengue é inteligente, versátil. Joga por demanda, de acordo com a necessidade. Combinando as características certas, como um chef francês escolhendo ingredientes e temperos. Às vezes se arriscando demais, no fio da navalha. Mas sabendo que pode tirar o melhor de cada comandado.
Sem "tiki-taka" ou "gegenpressing". Ou com os dois, quando necessário. Talvez Zidane não carregue grandes pretensões na nova carreira, de vencer em outros clubes, ligas e ambientes. É possível que seja bem sucedido apenas dentro do contexto do Real Madrid, que conhece tão bem. Só saberemos se acontecer uma mudança de ares.
A única certeza é de que ele não faz questão de deixar assinatura em suas equipes. Apenas caminhar junto com os jogadores, como se ainda fosse um deles. Em um esporte cada vez mais mental, o olhar sereno e a confiança de Zidane fazem diferença.
Na videoconferência de imprensa, depois do triunfo na Andaluzia, a cumplicidade ficou bem clara:
- Estou feliz, porque o futebol é muito bonito, mas faz sofrer. Quando vejo meus jogadores sofrerem este grito é normal. Podemos recordar o primeiro tempo, pelos dois gols. Mas prefiro o segundo, porque soubemos sofrer.
Típico Zidane. Pode soar como "papo de boleiro", mas funciona. E merece respeito.
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