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André Rocha

Messi precisa de um Barcelona pelo avesso: menos posse, mais intensidade

Messi sofre com um Barcelona na contramão do futebol mundial - David Ramos/Getty Images
Messi sofre com um Barcelona na contramão do futebol mundial Imagem: David Ramos/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

17/07/2020 09h30

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Intensidade, estatura, jogo físico. Obviamente, sem abrir mão de técnica e estratégia. Um estilo versátil, que não se prenda a uma característica marcante e consiga se impor de várias maneiras. Até porque cada jogo tem seu roteiro e sua demanda.

Eis o espírito do tempo do futebol mundial. Da Atalanta ao Liverpool, passando pelo Real Madrid "mutante" de Zinedine Zidane, campeão espanhol. Até Pep Guardiola vai adaptando suas convicções no Manchester City. A posse de bola hoje é mais útil no volume de jogo que constroi do que pelo controle, negando ataques ao oponente.

Assim o Barcelona foi atropelado nas últimas duas edições da Liga dos Campeões, por Roma e Liverpool. Até conseguiu prevalecer no Camp Nou com duas grandes vitórias, mas a necessidade do adversário de atacar de várias formas criou um cenário de massacre que deixou claro que o se convencionou chamar de "escola Barcelona" ganhou lacunas de difícil preenchimento.

Mas para isso é preciso renegar o próprio estilo. Virar do avesso. Ou adequá-lo à realidade. Não há mais Xavi e Iniesta para fazer tudo girar e hipnotizar os adversários com a bola.

Restou Messi com sua genialidade, mas que também precisa de mais estatura, intensidade e agressividade ao redor. Companheiros capazes de compensar a letargia sem bola e as limitações físicas, inclusive nos choques, do gênio argentino aos 33 anos. Em um jogo de pressão na bola e transições rápidas, um time baixo, lento e sem "punch" vira presa fácil. Porque está na contramão do futebol atual.

As arrancadas conduzindo a bola grudada ao pé esquerdo desde a intermediária ficaram mais raras. Agora é o momento de tocar e se deslocar. Se tiver colegas mais rápidos, o camisa dez blaugrana pode participar da articulação e aparecer na área para finalizar. Dentro de um contexto mais competitivo, ainda que não entregue os 40 gols por temporada.

Até porque na atual deve manter a hegemonia na artilharia da liga espanhola, mas com "apenas" 23 gols - a menor marca da década. Os gols rarearam pela marcação mais forte e porque há a certeza de que Messi é o único ponto de desequilíbrio.

Um desperdício o melhor do mundo não contar com um treinador que potencialize o talento e saiba encaixar as peças que combinem as características, fazendo o Barça novamente dominante no mais alto nível. As lembranças da conquista da última Champions vão ficando distantes.

Ainda há vida na Europa, mas até o confronto com o Napoli no Camp Nou parece complicado. E Messi não demonstra força e ânimo para uma jornada "maradoniana" de protagonismo heroico, desequilibrando contra o time italiano e quem mais aparecer pela frente nos outros três jogos em Lisboa.

Mais realista é já pensar em 2020/21. Sem Quique Setién, uma escolha equivocada justamente pela proposta de resgatar algo que já ficou no passado. O próprio Guardiola, mentor da última "revolução" na Catalunha, já afirmou que aquele modelo de jogo está na história, mas precisa de outra execução.

Um time da "Era Klopp" que guarde um lugar especial para o mais talentoso dos últimos 12 anos. Virando tudo do avesso, a começar pelas velhas convicções que hoje soam como teimosia e irritam o próprio Messi. Ele merece bem mais que isso.