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André Rocha

O grande dilema do treinador europeu que suceder Jorge Jesus no Flamengo

O técnico Jorge Jesus chega a Lisboa para acertar seu retorno ao Benfica - Reprodução/Correio da Manhã TV
O técnico Jorge Jesus chega a Lisboa para acertar seu retorno ao Benfica Imagem: Reprodução/Correio da Manhã TV

Colunista do UOL Esporte

21/07/2020 11h32

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Jorge Jesus já retornou a Portugal depois de uma despedida alegre e emocionada no Ninho do Urubu. Sem pressa, o Flamengo procura um novo treinador. Decisão acertada, pois não é trabalho simples. Diria que é a reposição mais traumática da história recente do futebol brasileiro.

O clube sondou Leonardo Jardim, que prefere no momento seguir na Europa em busca de nova oportunidade. Domènec Torrent, ex-auxiliar de Pep Guardiola que treinou o New York City FC, é nome que ganhou força nos últimos dias, mas ainda em observação. Outros também estão sendo analisados.

Depois do sucesso de Jesus, o Flamengo só não terá um treinador europeu caso não haja um mínimo consenso e o clube volte os olhos para a América do Sul. Não parece o objetivo inicial.

Seja quem for o profissional, haverá pelo caminho um grande dilema ao chegar no Brasil: como o país no mercado da bola é apenas um ponto de passagem, ou trampolim, o técnico precisa, além dos resultados, apresentar um trabalho contundente, disruptivo. Deixar a própria marca, uma assinatura forte. Para fazer justamente o que Jesus conseguiu, embora não exatamente como desejava: entrar novamente no radar de grandes clubes da Europa.

Só que ao chegar aqui será pressionado por dirigentes, torcedores e, principalmente, pelos jogadores a não mudar a linha de trabalho do antecessor, mais que bem-sucedido em resultados e desempenho. Algo que envolve uma humildade difícil de encontrar nos treinadores, sempre ávidos por deixar as equipes com a própria "cara". E por mais que perfis sejam parecidos é praticamente impossível que nada se altere.

No Brasil este colunista só se recorda de um técnico que, mesmo enxergando futebol de forma diferente, manteve a estrutura do time que assumiu por reconhecer que era, de fato, a melhor decisão: no próprio Flamengo, em 2008, o saudoso Caio Júnior observou que a equipe de Joel Santana funcionava melhor com Fábio Luciano na zaga, um volante-zagueiro, os laterais Léo Moura e Juan liberados como alas. Preservou o desenho, mesmo preferindo conceitualmente a defesa com linha de quatro.

Uma raridade em qualquer canto deste planeta. Até o finado Tito Vilanova tentou mexer em uma ou outra característica do fantástico Barcelona do início da década, como adiantar Messi e tornar o argentino praticamente a única referência de ataque do time catalão. O camisa dez bateu o recorde de gols naquele 2012, mas a equipe perdeu coletivamente.

Tudo que o Flamengo não quer em 2020. O problema é achar quem aceite esse papel de "dublê" no meio em que todos querem ser protagonistas. Haja cuidado neste palheiro para encontrar a agulha.