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André Rocha

Em um futebol cada vez mais coletivo, ainda vale a pena se render a Messi?

Colunista do UOL Esporte

26/08/2020 10h36

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Lionel Messi comunicou seu desejo de sair do Barcelona. Através de um protocolar "burofax", sem grande respeito pelo clube que o acolheu quando ainda era um menino mirrado e ajudou a consagrar como um dos maiores da história. Por mais que tenha entregado desempenho e resultados e a direção atual cometa muitos erros de gestão, a relação foi de troca e merecia mais cuidado.

Inclusive com a própria biografia. Vale lembrar que sua despedida terá sido a surra do Bayern de Munique por 8 a 2 pelas quartas da Champions. Ainda assim, o clube catalão ainda pensa em demovê-lo da ideia, com forte pressão de torcedores que protestaram em frente ao Camp Nou. Mas a dispensa do amigo Luís Suárez pelo novo treinador Ronald Koeman joga contra qualquer reconciliação.

E a disputa pode parar nos tribunais, já que a multa de rescisão unilateral é de 700 milhões de euros, mas há no contrato uma cláusula de liberação gratuita ao fim de cada temporada. Só que ela expirou no fim de maio, quando normalmente a temporada europeia se encerra. Com a pandemia, porém, o prazo se esticou e agora a Justiça provavelmente vai definir quem tem razão. Em um processo que pode se arrastar neste "divórcio litigioso". Difícil imaginar o Barça aceitando sair de mãos vazias.

Com a cobrança da multa, o investimento para contratar Messi seria altíssimo e poderia furar o fair play financeiro. Sem contar o salário que, no Barcelona, gira em torno de 8 milhões de euros mensais. É claro que em termos de mídia e vendas de camisas e produtos licenciados, a contratação de um ídolo global sempre vale muito a pena, mesmo em meio à crise mundial por conta da pandemia.

A grande questão é no campo: em um futebol cada vez mais coletivo, ainda vale a pena se render de joelhos a um jogador, mesmo genial como o argentino?

Messi é do tipo que tem caprichos. Gosta de estar cercado de amigos no elenco, ser comandado por um treinador em que confia plenamente e ocupar sua faixa de campo preferida: da direita para dentro buscando os espaços entre a defesa e o meio-campo do adversário. Tudo isso "trotando" sem bola e só acelerando quando recebe e conduz.

Os problemas coletivos do Barcelona vinham prejudicando seu rendimento, mas será que a baixa intensidade do camisa dez também não contribuiu para os últimos "colapsos" na Liga dos Campeões, contra Roma, Liverpool e, principalmente, Bayern?

Messi tem 33 anos, está na reta final da carreira. Rumores o colocam no Manchester City, de Pep Guardiola. Só que a ideia de futebol do treinador mudou muito desde que se despediu do Barça e do jogador que ajudou a transformar no melhor do mundo há 8 anos. Na dinâmica atual do esporte é uma eternidade. Como será esse reencontro para jogar uma Premier League de intensidade crescente, onde quem manda atualmente é o elétrico Liverpool de Jürgen Klopp?

E o Bayern campeão europeu sinaliza um futebol ainda mais rápido, físico e intenso. Pressão no homem da bola, bola roubada e definição rápida do ataque. "Saque e voleio" em um ritmo frenético. Messi vai se adaptar a esta nova realidade a ponto de entregar gols, assistências e magia proporcionais ao valor desembolsado pelo clube bilionário e com pretensões gigantescas?

Muitas questões que merecem reflexão. Talvez nem tanto no Brasil que ainda vê o futebol como esporte individual, com o "dogma" de que vale qualquer loucura para contratar um craque. Só que o mundo e, consequentemente, o esporte muda a cada segundo e as verdades de ontem não valerão muito amanhã.

E mesmo um gênio como Messi precisa se adaptar a novos contextos. Como nunca saiu de Barcelona, até ele se torna uma incógnita.