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André Rocha

Corinthians é gigante, mas é bom que Mancini saiba o tamanho de sua missão

Vagner Mancini, técnico do Corinthians - Marcello Zambrana/AGIF
Vagner Mancini, técnico do Corinthians Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Colunista do UOL Esporte

08/11/2020 08h54

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Um dos grandes erros do Cruzeiro em 2019 foi não perceber rapidamente que o ciclo de Mano Menezes havia acabado. O treinador não conseguia mais mobilizar os jogadores, nem fazer competir em alto nível e as ambições do clube no ano deveriam ter sido bem mais modestas.

Não é pensar pequeno, nem se contentar com pouco. Apenas noção da realidade dentro do contexto. Um clube pode ser gigante, mas cometer erros seguidos, no campo e na gestão, que empurram para baixo e só resta se salvar para evitar o pior.

E agora o desastre para times grandes com problemas financeiros é ser rebaixado. Com as novas regras para as cotas de TV, sem a proteção que existia no primeiro ano na Série B com receita de A, um vacilo e o clube se enfia nas trevas. O único recurso garantido e normalmente a maior parte da grana a receber em um ano ruim reduz drasticamente.

O Corinthians vive esta realidade em 2020. É claro que os três milhões de reais pela classificação para as quartas de final da Copa do Brasil seriam muito bem-vindos aos cofres do clube e não deixa de ser vergonhoso e preocupante cair nas oitavas para um time da Série B - apesar da tradição do América em Minas Gerais e do bom trabalho de Lisca no comando técnico.

Mas a meta tem que ser fugir do Z-4 e dividir esforços com outra competição seria exigir muito de um elenco que não consegue entregar o básico. Sim, o pênalti marcado pelo toque no braço de Lucas Piton que decretou a eliminação no mata-mata nacional foi absurdo, embora o anotado a favor e convertido por Fagner seja discutível. Mas precisa ser página virada e não tão lamentado.

Vagner Mancini sabe disso. Também entende que só está no comando do Corinthians pelas circunstâncias. Em um cenário mais favorável ele não estaria lá. O treinador entende também que dentro de sua prateleira no mercado, evitar o rebaixamento de um dos times mais populares do país vai contar no próprio currículo.

É diferente, por exemplo, de um Vanderlei Luxemburgo chegar no Vasco, exaltar os próprios feitos no passado, correlacionar com a grandeza do clube carioca, projetar G-4 em um momento de alta e depois valorizar uma 12ª colocação porque foi baixando o sarrafo ao longo do campeonato com as derrotas.

"Não adianta ficar sonhando com coisas irreais. Sou verdadeiro nas cobranças e nas metas que passo aos jogadores", afirmou Mancini na coletiva depois do empate por 1 a 1 fora de casa contra o Atlético-GO, na abertura do returno do Brasileiro.

É irreal cobrar que esse Corinthians enfrente de peito aberto um candidato ao título, como o Internacional. Mesmo em casa, tem que recuar linhas, negar espaços e esperar um contragolpe certeiro. Contra o Atlético, mesmo em Goiânia, a missão é pontuar.

Porque é difícil criar sem que as grandes contratações para o meio-campo na temporada, Luan e Cantillo, consigam entregar o mínimo por questões físicas que diminuem a capacidade de competir. E Matheus Davó no ataque não pode passar de um "plano C" por força das circunstâncias.

Resta proteger a defesa que ganha Jemerson como reforço na zaga. E não dá para esperar muito de Jonathan Cafu, mais um que chega para encorpar o elenco.

O problema é ter mais de cem jogadores sob contrato no profissional e não conseguir formar uma equipe qualificada. Irresponsabilidade financeira que se junta à turbulência política em ano de eleição, com o estilo verborrágico do presidente Andrés Sanchez atrapalhando ainda mais qualquer movimento que gere um mínimo de paz para o time trabalhar.

No olho do furacão, Mancini conta com providenciais semanas livres de trabalho para fazer a equipe evoluir coletivamente. A meta é eficiência no confronto direto com adversários da metade de baixo da tabela e surpreender os da metade de cima com solidez defensiva e proposta reativa.

Muito pouco para a história de um clube heptacampeão brasileiro, o maior vencedor no século XXI, último do país a vencer um Mundial de Clubes. O torcedor tem todo direito de se revoltar com o cenário caótico, mas evitar a repetição de 2007, ou a via-crucis atual do Cruzeiro, no momento precisa estar no topo de prioridades. O técnico sabe disso e não deixa de ser uma boa notícia.