Flamengo vence clássico sem sofrer gols, mas time piorou na criação
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Depois de nove partidas, o Flamengo passou 90 minutos sem sofrer gols. Importante, até porque garantiu a vitória sobre o Botafogo por 1 a 0 no Estádio Nílton Santos.
Rogério Ceni insistiu com o contestado Gustavo Henrique ao lado de Rodrigo Caio na zaga, mas a justificativa na coletiva pós-jogo foi até plausível, já que era importante ter o zagueiro mais alto contra o rival alvinegro que aposta muito na estatura de seus atacantes de referência: Pedro Raul e Matheus Babi. E quando a coisa complicou por baixo, com vacilo de Willian Arão contra Kalou, o zagueiro acertou ao trocar a chance clara de gol aos 43 minutos do segundo tempo pela falta fora da área em Lucas Campos e a consequente expulsão.
No final do jogo e com o adversário já com um a menos por conta da expulsão de Victor Luis, era melhor mesmo deixar o campo do que permitir o empate. Por outro lado, a suspensão do defensor deve servir como o empurrão para o treinador enfim escalar o jovem Natan, melhor zagueiro pela esquerda do elenco, para atuar com Rodrigo Caio. Ou será que o instável Léo Pereira volta?
Seja como for, vale uma reflexão: por que o Flamengo correu o risco de sofrer o empate diante de um Botafogo tão fragilizado, sem vencer agora há nove partidas? Por que a superioridade flagrante não se traduziu em uma vantagem confortável que talvez nem obrigasse Gustavo Henrique a apelar?
A confiança abalada pelas eliminações na Copa do Brasil e na Libertadores seria uma resposta mais que aceitável. Alguns erros técnicos incomuns acontecem claramente porque a perna "encurtou". O medo de errar, mesmo em um estádio vazio e imune às vaias, tira a fluência das jogadas. Há também a questão física, com alguns mais desgastados e outros ainda sem o ritmo de jogo ideal.
Mas não é só isso. O time rubro-negro piorou na criação com Ceni. Os tempos de Domènec Torrent foram caóticos, com problemas crônicos na transição defensiva e falta de sintonia entre treinador e atletas, porém a equipe sabia se comportar diante de sistemas defensivos fechados e criava espaços.
Com Ceni, as inversões que encontravam jogadores abertos contra apenas um marcador ficaram mais raras. A equipe circula a bola com mais lentidão, de pé em pé. Sem surpresas. O Botafogo recuava o ponteiro Rhuan pela esquerda para negar a profundidade a Isla e induzia o Fla a acionar Filipe Luís, que é melhor articulando por dentro.
Descendo aberto, a jogada do lateral é sempre a mesma: cruza sem chegar ao fundo e facilita o corte da defesa congestionando a área. Foram nove cruzamentos de Filipe Luís, apenas dois corretos, do total de 22 da equipe. Dezoito no primeiro tempo.
As chances do Flamengo de Ceni quase invariavelmente aparecem em contragolpes ou bolas roubadas no campo de ataque. No primeiro tempo, lançamento de Arrascaeta para Bruno Henrique em diagonal. Muito parecido com gols do atacante contra Del Valle e Vasco, ainda com Dome. Desta vez, porém, o chute desviou em Marcelo Benevenuto e saiu.
Aos nove do segundo tempo, a pressão na saída de bola, o erro de Marcinho, a bola recuperada por Gerson, que serviu Everton Ribeiro no gol único do clássico. A mais bem-sucedida das 14 finalizações, apenas três no alvo. Com 66% de posse e 89% na efetividade nos passes.
É pouco para quem busca uma arrancada no Brasileiro e duelar com São Paulo e Atlético-MG pelo título. As semanas livres para treinamentos são a esperança de Ceni para alinhar os jogadores fisicamente e trabalhar coletivamente para ser mais efetivo. Os gols perdidos incomodam, mas a piora na criatividade, ainda mais com Everton Ribeiro e De Arrascaeta em campo, é mais grave.
O time avassalador de Jorge Jesus não volta mais e a ausência da torcida torna tudo ainda mais complicado. Mas com tanta qualidade disponível é obrigatório produzir mais no ataque. Até porque a "sangria" da defesa já foi estancada.
(Estatísticas: SofaScore)
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