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André Rocha

São Paulo agora é o "time da moda". Quais os desafios pelo caminho?

Jogadores do São Paulo comemoram gol de Reinaldo contra o Botafogo - Bruno Ulivieri/Bruno Ulivieri/AGIF
Jogadores do São Paulo comemoram gol de Reinaldo contra o Botafogo Imagem: Bruno Ulivieri/Bruno Ulivieri/AGIF

Colunista do UOL Esporte

11/12/2020 09h04

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Líder do Brasileiro com sete pontos de vantagem sobre o Atlético Mineiro e oito acima do Flamengo, que tem um jogo a menos. Defesa menos vazada, segundo ataque mais positivo. Em 24 jogos no Brasileiro, apenas duas derrotas. Invencibilidade de 17 partidas no campeonato e 12 em todas as competições.

O São Paulo é o "time da moda" no Brasil. Com todos os méritos, já que vem trabalhando certo dentro e fora de campo. Apostando na continuidade de Fernando Diniz e comissão técnica e praticamente não sofrendo com baixas em uma temporada atípica, com muitas lesões e surtos de Covid-19. Forte também nos bastidores, conseguindo encaixar jogos adiados sem atropelar o próprio calendário.

Lembrando muito o último período glorioso do clube, de 2005 a 2008 com conquistas de Libertadores, Mundial e um tricampeonato brasileiro. A "Era do Reffis", o auge do "Soberano" neste século. Uma referência de excelência no futebol nacional.

Diniz ajustou a sua proposta de jogo resolvendo dois problemas crônicos: primeiro a falta de efetividade no ataque, resolvida com encaixe perfeito das características do quarteto ofensivo, o entrosamento de uma formação que muda pouco e o momento iluminado da dupla Luciano-Brenner, que já foi às redes 35 vezes na temporada - 20 de Brenner, 15 de Luciano.

Também a solidez defensiva. Ajustada com sequência de jogos, a entrada de Luan que protegeu melhor o setor e a concentração de todos, inclusive na saída de bola que em outros tempos proporcionava com erros grandes chances de gol para os adversários.

Tudo dando muito certo. A ponto de Diniz virar o "rei dos memes" nas redes sociais e uma conversa com Luciano à beira do campo na goleada por 4 a 0 sobre o Botafogo, com o atacante jogando água em cima do treinador, se transformar na imagem que reflete o bom relacionamento entre técnico e elenco - se fosse meses atrás, no período conturbado de eliminações na Libertadores e Sul-Americana, provavelmente seria tratado como um "sinal de crise" no nosso resultadismo cotidiano.

O São Paulo nunca pareceu tão perto do fim do jejum de oito anos sem conquistar títulos, nem estaduais. Jogando o melhor futebol do país, ao contrário do que diz Renato Gaúcho, o tricolor do Morumbi é favorito, inclusive, para vencer a primeira Copa do Brasil de sua história.

Mas há desafios pelo caminho. Estamos em dezembro, quando normalmente o campeão brasileiro já está comemorando. Mas o ano maluco de 2020 só termina em fevereiro de 2021.

Logo, o primeiro obstáculo é o tempo para quem vive a ansiedade de levantar taças. Ainda faltam 14 rodadas no Brasileiro e, no melhor cenário, mais quatro partidas pelo mata-mata nacional. Para quem está em alta e parece viver o ápice, o maior medo é oscilar. O velho clichê do desafio de se manter no topo.

Agora o São Paulo será mais estudado pelos rivais e a motivação para encerrar esse período invicto será multiplicada. A começar pelo clássico com o Corinthians na Neo Química Arena, no domingo. As disputas ficam mais duras e o risco de lesões aumenta, inclusive pelo desgaste. O elenco ainda não foi testado com muitas baixas em uma sequência de jogos difíceis.

A concorrência é uma incógnita. O Atlético Mineiro de Sampaoli tem vacilado, mesmo com semanas livres para trabalhar. Mas nada impede uma nova tendência de alta, inclusive no confronto direto da próxima quarta-feira, no Morumbi. Se o São Paulo quer pôr fim a uma seca de oito anos, o Galo é obcecado pelo título brasileiro que não conquista há quase meio século. O investimento foi altíssimo e a resposta é obrigatória.

O Flamengo de Rogério Ceni é um ponto de interrogação ainda maior. Como o outrora grande favorito reagirá às eliminações no mata-mata e agora dedicado apenas ao Brasileiro, com mais tempo de recuperação, descanso e treinamentos? No rigor dos números, o Fla só precisa de uma derrota do tricolor para outro time. São oito pontos de distância, mas considerando o jogo a menos que os rubro-negros precisam cumprir contra o Grêmio, em Porto Alegre, e o confronto direto da última rodada, no Morumbi, o time depende de três pontos perdidos pela equipe de Diniz nas demais rodadas.

E o São Paulo terá um período em que a divisão de atenções será inevitável. No final do ano, jogando as semifinais de Copa do Brasil contra o Grêmio. E se passar, uma hipotética e histórica decisão paulista com o Palmeiras, que enfrenta o América, poderia gerar uma onda inevitável com risco grande de deixar pontos pelo caminho no Brasileiro. Seja pelo "luto" de um possível revés ou a ressaca do título inédito e conquistado em cima de um rival histórico.

A solução para evitar os percalços é uma só: pensar dia a dia, treino a treino, jogo a jogo. Sem pressa e buscando evolução constante. Como tem feito neste período de afirmação de tudo que foi construído em meio à tempestade de críticas. Agora os elogios chegam rápido, mas o nível de exigência também sobe. Como será o caminho até fevereiro?