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André Rocha

Raymond Kopa, o craque francês que Zidane "esqueceu" ao elogiar Benzema

Raymond Kopa (esq.) e Alfredo Di Stefano comemoram título do Real Madrid na Taça dos Campeões Europeus de 1957, contra a Fiorentina - AFP
Raymond Kopa (esq.) e Alfredo Di Stefano comemoram título do Real Madrid na Taça dos Campeões Europeus de 1957, contra a Fiorentina Imagem: AFP

Colunista do UOL Esporte

16/12/2020 09h54

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Feliz pela quarta vitória consecutiva do Real Madrid, apesar da atuação oscilante nos 3 a 1 sobre o Athletic Bilbao, Zinedine Zidane foi só elogios a Karim Benzema, autor de dois gols no Estádio Alfredo Di Stéfano.

"Para mim, ele é o melhor atacante da história da França. Demonstra isso a todo tempo aqui no Real Madrid. São mais de 500 partidas, sem contar os gols", exaltou o treinador.

São 529 jogos com a camisa do clube, o recorde de um estrangeiro, superando Roberto Carlos. 259 gols e 138 assistências. Números, de fato, impressionantes. Tão relevantes quanto as quatro Liga dos Campeões conquistadas, ainda que sempre como um coadjuvante de Cristiano Ronaldo.

Como treinador, líder e símbolo do Real Madrid, Zidane tem mesmo que elogiar seu compatriota. Sensível gestor de vestiário, sabe a hora de dar carinho e motivar um jogador fundamental no elenco merengue.

Mas a afirmação é polêmica se lembrarmos de Thierry Henry, campeão mundial em 1998 e vice em 2006 com protagonismo, inclusive marcando o gol que eliminou a seleção brasileira nas quartas de final. Ídolo e artilheiro no Arsenal.

O "decreto" de Zidane fica ainda mais controverso se considerarmos que Benzema não fez parte da campanha do bicampeonato mundial na Rússia em 2018. Giroud foi o camisa nove, campeão mesmo sem ir às redes. Didier Deschamps deixou o atacante do Real Madrid de fora por uma história até hoje mal explicada com Mathieu Valbuena, envolvendo chantagem por uma gravação deste fazendo sexo com a namorada. Benzema chegou a ser preso por envolvimento no caso, em 2015. E nunca mais foi convocado.

Mas se olhasse apenas para o próprio Real Madrid, Zidane teria um francês para lembrar como um dos maiores da história.

Raymond Kopa, citado recentemente pela "France Football" como um dos maiores meio-campistas ofensivos da história do futebol. No Real Madrid era atacante pela direita na linha de cinco formada na época. Tinha 1,67 m, era habilidoso, técnico, com visão de jogo de camisa dez e faro de gols.

Na memória do brasileiro que se interessa pela história da seleção, Kopa foi o responsável pela assistência sensacional para Just Fontaine no gol que empatou em 1 a 1 a semifinal da Copa do Mundo da Suécia, em 1958. A grande atuação de Didi na vitória por 5 a 2 foi decisiva para superar Kopa como o melhor jogador do torneio. Mas não impediu o francês de vencer naquele ano a Bola de Ouro da mesma "France Football", que na época premiava apenas os europeus.

Kopa venceu três Copa dos Campeões pelo Real Madrid, uma a menos que Benzema. Mas em apenas três temporadas no clube, de 1956/57 a 1958/59. Em 103 jogos, marcou 30 gols. Chamou atenção do Real Madrid na final europeia de 1955/1956 jogando pelo Stade de Reims. Vitória merengue por 4 a 3, mas atuação destacada de Kopa. Deixou o time espanhol justamente pela saudade de casa, depois de reencontrar e vencer novamente o Reims em outra final continental.

Uma trajetória fantástica de um integrante habitual de qualquer lista séria que se faça dos melhores de todos os tempos. Inclusive o "FIFA 100", de 2004. Por quase três décadas sustentou o nome do futebol francês pelo mundo, até o reinado de Michel Platini nos anos 1980 e depois Zidane alcançando a sonhada Copa do Mundo.

É claro que o futebol evoluiu demais nos últimos 60 anos. Mas vale a lembrança de um craque francês de passagem marcante no Real Madrid histórico, único pentacampeão consecutivo da Liga dos Campeões. O time de Di Stéfano, Gento e outros tantos craques lendários.

Kopa foi do tamanho de Benzema no Real e com feitos mais relevantes na seleção. Em 1958, só foi parado pelo time de Didi, Nilton Santos, Garrincha e Pelé. Com um a menos depois da perna fraturada do zagueiro Jonquet, numa época sem substituições. Pela seleção, marcou 18 gols em 45 jogos. Benzema foi às redes 27 vezes em 81 partidas pelos "Bleus".

"Zizou" nasceu em 1972, não viu Kopa jogar. Certamente ouviu muito seu nome, especialmente em 2017, nas muitas homenagens em Madrid pelo falecimento do craque, aos 85 anos. Não era obrigado a apelar para a memória no calor da emoção de uma vitória importante em 2020. Um "esquecimento" mais que compreensível.