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Flamengo é melhor, mas futebol da pandemia dá favoritismo ao Internacional
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Dos quatro jogos pelas oitavas de final realizados nesta semana, apenas um vencedor teve mais posse de bola: o Liverpool, com 54%. Mas venceu por 2 a 0 com gols em contragolpes aproveitando falhas da defesa do Leipzig. O único mandante a faturar os três pontos foi justamente a "zebra": o Porto, que superou a Juventus de Cristiano Ronaldo por 2 a 1. O time português teve 39% de posse.
Não é exatamente uma regra. O Manchester City atropelou como visitante o Everton por 3 a 1, com 71% de posse e 16 finalizações a 3. Mas quando visitou o Liverpool em Anfield e goleou por 4 a 1, soube recuar as linhas e acelerar as transições ofensivas para matar o jogo.
A temporada atípica, a falta de tempo de preparação, a sequência insana de jogos e tudo o que ainda não sabemos sobre as sequelas da Covid-19 em atletas de alto rendimento aumentaram a incidência de erros. Forçados pelo adversário ou não. Quem tem a bola corre mais riscos. Quem recua e espera, com um plano de jogo bem pensado e executado, tem mais chance de golpear o rival.
"O problema é quando você tem a bola". A frase de Abel Braga em entrevista para este colunista em 2012 ecoa forte nesse Brasileiro. O líder Internacional construiu sua sequência de nove vitórias, um recorde nos pontos corridos com 20 clubes, com menos posse de bola em todos os jogos. Manteve no empate com o Athletico e repetiu na vitória por 2 a 0 sobre o Vasco. Quando precisou atacar e foi obrigado a trabalhar as jogadas perdeu a invencibilidade para o Sport no Beira-Rio.
Mas o contexto de domingo torna a partida decisiva no Maracanã contra o Flamengo mais confortável, ao menos em tese, para o Inter. Visitante, um ponto à frente na tabela. Nunca houve desde 2003, com a mudança na fórmula do campeonato, uma partida entre os dois primeiros colocados tão próximos na tabela na penúltima rodada.
A tendência é o time de Abel Braga negar espaços compactando os setores em um 4-1-4-1. Até para proteger a zaga reserva, que provavelmente terá Lucas Ribeiro e Zé Gabriel, este substituindo o suspenso Victor Cuesta. Rodrigo Dourado entre as linhas de quatro e Yuri Alberto na frente.
Velocidade pelos flancos, com Patrick e o auxílio de Moisés contra Isla, que costuma se desconcentrar no trabalho defensivo e ceder generosos espaços em seu setor. Ou a velocidade de Rodinei e Caio Vidal dando trabalho para Filipe Luís e a cobertura de Gustavo Henrique, o substituto de Willian Arão, que deve ficar de fora pela fratura no dedo do pé em acidente doméstico.
A dúvida é se o Inter vai recuar desde o início ou vai arriscar, ainda que por pouco tempo, uma marcação mais adiantada. Como fez até abrir o placar em São Januário, com quatro finalizações em nove minutos. Ou se fechar, como no empate sem gols na Arena da Baixada. Abel foi a Curitiba buscar um ponto. Será que vai ao Maracanã para vencer e levar para Porto Alegre o título que não é comemorado pelo clube desde 1979?
O calor será uma variável importante. A previsão é de máxima de 30 graus, porém com possibilidades de chuva à tarde. Caso não esteja muito abafado, a intensidade poderá ser maior. Ainda mais sem jogos das equipes no meio da semana. É a chance do Flamengo tentar amassar o adversário com desarmes no campo do oponente e definição rápida dos ataques. Como nos melhores momentos das últimas partidas.
O risco é, diante de um Internacional fechado, apelar novamente para um ataque mais posicional, com Isla e Bruno Henrique abertos para dar amplitude e Arrascaeta centralizado num 4-2-3-1 com pouca mobilidade. Com Gerson e Diego Ribas vigiados por Edenilson e Praxedes, o time de Rogério Ceni pode perder articulação. Bater no muro e levar contra-ataques fulminantes.
A solução pode estar nos movimentos em "x" entre meias e atacantes. Everton Ribeiro é canhoto e parte da direita, Corta para dentro e precisa de alguém infiltrando para dar a bola. A ultrapassagem de Isla está "manjada". Em bons momentos do segundo tempo contra o Grêmio e da primeira etapa diante do Sport, houve uma inversão de Gabigol e Bruno Henrique. O camisa nove procurou o lado esquerdo e o 27, o direito.
Com Bruno Henrique entrando pela direita quando Everton Ribeiro corta para dentro, o atacante tem o pé direito para finalizar ou tentar a assistência. O mesmo do lado oposto, com o destro Arrascaeta cortando da esquerda para o meio e o canhoto Gabigol entrando no espaço. Movimentação e objetividade para abrir o "ferrolho".
Outro trunfo pode ser Gerson, pela capacidade de driblar em progressão. Com a bola colada no pé é difícil parar. Só precisa ser mais ambicioso e arriscar o chute, mesmo que de pé direito, sem a preocupação de servir à dupla de ataque. Defensivamente, concentração máxima nas transições, especialmente o perde-pressiona e o posicionamento da última linha.
Porque se o Inter sair na frente a missão, que já é difícil, ficará quase impossível. Os espaços ficarão mais generosos, a confiança rubro-negra ainda mais abalada. A colorada reforçada. O Flamengo tem a experiência em jogos desse tamanho, o time gaúcho a fome de uma grande conquista.
É decisão e, por isso, a tendência é não ser um grande jogo. Muita tensão, além de toda polêmica sobre arbitragem ao longo da semana. Segue muito forte a cultura de "final se ganha, não se joga". Talvez seja essa a grande desvantagem do Flamengo: sempre quer jogar, mesmo quando falta bola. O Internacional deve abrir mão dela sem culpa. É como gosta, focado exclusivamente no resultado. Jogando no erro.
O futebol da pandemia dá o favoritismo aos gaúchos. O Flamengo é mais time, até pela maior capacidade de investimento. Mas o Brasileiro pode ter um campeão já no domingo.
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