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Gostem ou não, Sampaoli deixa legado no Brasil com Crespo e Holan
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Jorge Sampaoli deixa o Atlético Mineiro com um título estadual, que era obrigatório, e campanha no Brasileiro com terceira colocação e a vaga na fase de grupos da Libertadores. Positiva para o clube, mas nem tanto para o contexto criado pelo treinador argentino.
Decepciona justamente porque Sampaoli é melhor que os demais treinadores da série A. Tanto que, mesmo em baixa para o seu patamar, deve treinar o Olympique de Marselha. Que outro técnico daqui despertaria esse interesse num clube de primeira divisão da França?
O ocaso no mais alto nível começou com o fracasso na seleção argentina em 2018, depois de abandonar um trabalho que se mostrava promissor no Sevilla. No Santos e no Atlético Mineiro, muito desgaste pela exigência de contratações e um temperamento irascível. No Brasil o contato humano é fundamental, ainda mais para jogadores acostumados com o paternalismo de nossos treinadores.
A frustração no Atlético foi pela chance de se impor num Brasileiro atípico, de muitas oscilações. Com elenco reforçado e homogêneo e que só tinha uma competição no horizonte. Duas vitórias sobre o favorito e agora líder Flamengo, mas derrotas para Fortaleza, Bahia, Goiás, Vasco e Botafogo. Imperdoável.
Vai embora sem títulos, mas deixa um legado de ideias. Jogo de posição, variações táticas, inquietação e, principalmente, capacidade de competir e proporcionar espetáculo em seus melhores momentos. Especialmente na passagem pelo Santos, quando contou com jogadores melhores e mais desequilibrantes, como Marinho, Carlos Sánchez e Soteldo. Ainda desenvolveu atletas como Lucas Veríssimo e Diego Pituca, negociados recentemente e que deram retorno técnico e financeiro a um clube que tenta se reestruturar.
Por mais que as contratações de treinadores no Brasil sejam feitas de modo aleatório, sem muito critério, é impossível não olhar as chegadas de Hernán Crespo no São Paulo e Ariel Holan no Santos e não ver a influência da passagem de Sampaoli pelo país.
Muitas ideias parecidas, como o cuidado com a posse, a intensidade na pressão pós-perda, a importância da participação do goleiro na saída de trás e de abrir o campo (amplitude) e se estruturar bem na hora de atacar. Acima de tudo, a busca constante pelo gol. Nível alto de competição. Também o mesmo problema: a transição defensiva, consequência natural de tanta fome pelo ataque - Ariel um pouco menos que Crespo. Todos bebendo na fonte de Marcelo Bielsa.
Gostem ou não, Sampaoli deixou uma marca, mesmo sem taças. Um olhar menos preconceituoso e xenofóbico verá que em 2019 havia um Flamengo avassalador no caminho do Santos e no Galo faltou talento no elenco. Também paciência do treinador. São Paulo e Santos buscam um maior equilíbrio entre o trabalho no campo e as relações humanas.
Impossível prever o sucesso dos novos comandantes argentinos no Brasil. São cenários complexos, principalmente no São Paulo. Os currículos não são tão robustos para dar estofo - a rigor, apenas conquistas de Copas Sul-Americanas por Independiente (Holan) e Defensa y Justicia (Crespo). Assim como é difícil vislumbrar como será Sampaoli no futebol francês - isso se ele assinar mesmo o contrato, considerando o temperamento imprevisível.
Fica claro, porém, que os clubes paulistas, ainda que de maneira pouco metódica e racional, querem vencer. Mas se for com espetáculo, chamando atenção para o estilo de jogo e sem o pragmatismo que entrega pouco além do resultado, melhor.
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