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A queda de Luxemburgo com o Vasco e o que é um treinador ultrapassado
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O Vasco comunicou ontem ao treinador Vanderlei Luxemburgo que não pretende contar com seus serviços depois do jogo contra o Goiás, pela última rodada do Brasileiro. Com o inevitável rebaixamento, o clube precisará fazer uma reestruturação dentro do novo orçamento, muito mais baixo, e o salário do técnico não caberia.
Também porque Luxemburgo falhou na sua missão de fugir do Z-4. Em 11 jogos, duas vitórias, quatro empates e cinco derrotas. Dos 33 pontos possíveis ganhou dez. Menos de 30% de aproveitamento. O time marcou oito gols e sofreu 15, contribuindo para o péssimo saldo de gols que inviabiliza a manutenção na Série A. Recebeu em 16º e entrega na 17º - pode terminar uma posição abaixo, caso seja derrotado pelo Goiás em São Januário.
O treinador honrou sua palavra de não receber qualquer remuneração do clube, já que o time foi rebaixado. Era o mínimo a fazer, embora a responsabilidade pelo quarto descenso vascaíno não seja apenas dele. Ramon Menezes e Ricardo Sá Pinto também falharam e todo contexto, de turbulência política e enorme dificuldade financeira, pese bastante.
Mas o fato é que Vanderlei Luxemburgo começou 2020 assumindo o Palmeiras com projetos ambiciosos e termina a temporada no ocaso. Talvez definitivo. Compreensível em uma carreira de quase quatro décadas.
O treinador ainda pode seguir trabalhando? Claro, é direito dele continuar na ativa e opção do clube que quiser contratá-lo. Ainda pode ser campeão? Evidente, inclusive ganhou o Paulista que o Palmeiras não via desde 2008, também sob o seu comando.
É preciso entender as razões de se considerar um técnico ultrapassado. Ninguém quer aposentar um profissional. Seria cruel, até do ponto de vista pessoal. É saudável se sentir produtivo, independentemente da idade. Luxemburgo tem 69 anos, venceu recentemente a Covid-19. Tem força para continuar trabalhando.
A questão é a mudança de patamar. Para um treinador multicampeão, cinco vezes do Brasileiro e nove do Paulista, estadual mais competitivo do país, a realidade hoje é tentar salvar o Vasco e não conseguir. Natural, ninguém vive o auge da carreira até o fim. O problema no Brasil é achar que o que deu certo nos anos 1990 pode funcionar agora.
Luxemburgo ainda tem o ônus de um discurso saudosista e negacionista, sem aceitar as mudanças no esporte. Com oscilações nessa convicção ao falar eventualmente sobre a dinâmica do Liverpool de Klopp ou buscar um auxiliar mais jovem e antenado, como Mauricio Copertino.
Mas a dificuldade de renovar os métodos é clara. Seus times não atingem a intensidade máxima, são mais espaçados e lentos na circulação da bola. E compreensível, já que o ser humano tende a se agarrar ao que deu certo anteriormente. O talento das sacadas táticas e estratégicas e o olhar aguçado para pinçar jovens com potencial ainda estão lá, só não são mais suficientes para competir no mais alto nível nacional.
Pode acontecer um brilho aqui, uma conquista acolá. Muitas vezes hipervalorizadas, como o empate por 4 a 4 do Vasco contra o Flamengo de Jorge Jesus e a conquista estadual com o Palmeiras. Aqui e ali ecoa o "Professor voltou!" e os mais delirantes falam até em volta ao comando da seleção brasileira. Até pela figura carismática, engraçada mesmo na verborragia repleta de palavrões. O discurso de "resgate" do futebol brasileiro, do drible e do improviso também seduz muita gente.
Só não sustenta um trabalho para competir no topo. Luxemburgo cai com o Vasco e agora será bem mais difícil voltar a um time de Série A. O tempo passou e ele é inexorável. Para todos. Simples assim e nada pessoal.
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