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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Futebol resiste em parar porque não há um plano claro para a volta segura

Estádio do Volta Redonda, no Rio de Janeiro - Reprodução
Estádio do Volta Redonda, no Rio de Janeiro Imagem: Reprodução

Colunista do UOL Esporte

23/03/2021 08h10

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Ninguém em sã consciência pode defender a prática do futebol profissional no Brasil com média móvel acima de duas mil mortes/dia por Covid-19. Não é serviço essencial, então tem que parar.

A grande questão que faz clubes e federações resistirem e tentarem preservar a disputa ao menos dos estaduais é a incerteza. O futebol para, mas até quando?

Não há um plano unificado no país que combine lockdown e aplicação de vacinas em massa para achatar a curva de contágio. O governo federal tem postura dúbia, mudando a narrativa de acordo com os ventos políticos e o presidente mantendo o discurso contra as medidas restritivas de governadores e prefeitos. Cedendo um auxílio emergencial cujo valor irrisório não atende os mais necessitados e defendendo o direito de sair para trabalhar, mesmo com uma nova cepa do coronavirus mais contagiosa e letal.

O negacionismo reduziu, mas ainda existe. O uso de máscaras nas ruas, ao menos aqui no Rio de Janeiro, oscila muito. Muitas pessoas não estão informadas sobre a mutação do virus e ainda acham que não há reinfecção, ou que apenas os idosos morrem de Covid. Neste cenário é difícil prever um controle mínimo para que o fechamento de empresas e serviços tenha um prazo e a retomada garanta a sobrevida financeira.

É preciso ser ético e empático, mas também prático. Parar sem previsão de volta segura é quebrar de vez. Por isso clubes paulistas e a FPF forçam jogos em Volta Redonda e cariocas devem seguir o mesmo caminho. O Mineiro para até abril, mas o que garante uma melhora do quadro geral? Há cinismo e interesses mesquinhos no processo, mas também o desespero de ver o país sem rumo e perspectivas, tratado como pária mundial e a economia indo para o buraco. Sem jogos, a receita de TV mingua e inviabiliza o negócio.

Devemos ainda ter muitos capítulos lamentáveis de idas e vindas. São vidas em jogo e a ideia de colocar em risco a integridade física de profissionais nem deveria ser uma hipótese. O problema é o tempo, que joga contra. Não é rolar a bola sobre os cadáveres, mas driblar as incertezas. A cada dia fica mais difícil mirar um horizonte de normalidade mínima. O que fazer? Não há resposta, a não ser o instinto de seguir em frente. O futebol é só mais um setor tentando respirar em meio ao caos.