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André Rocha

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

França e Portugal seguem fortes na Europa, mas treinadores renovam incômodo

França e Ucrânia estreiam nas Eliminatórias Europeias para a Copa do Qatar  - Aurelien Meunier/Getty Images
França e Ucrânia estreiam nas Eliminatórias Europeias para a Copa do Qatar Imagem: Aurelien Meunier/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

25/03/2021 09h01

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Começaram as Eliminatórias na Europa para a Copa de 2022, no Qatar. Mesmo sem Eurocopa e Liga das Nações decididas em um calendário ainda tentando se ajustar.

França e Portugal são as seleções mais vencedoras do continente nos últimos tempos. A primeira campeã mundial em 2018 e a segunda ostentando a última Euro, em 2016, e a primeira edição da Liga das Nações, em 2019.

Equipes fortes, mesclando experiência e juventude e com incrível capacidade de renovação ao adicionar uma geração talentosa de atletas. Neste caso, Portugal com maior quantidade e a França com o candidato a gênio Kylian Mbappé.

Mas as estreias das duas seleções na luta por vagas no próximo Mundial renovaram um incômodo que vem sendo compensado justamente pelos títulos recentes: os treinadores.

Didier Deschamps e Fernando Santos sabem montar equipes competitivas e gerir estrelas, mas parecem subaproveitar tanta qualidade pelo engessamento na execução do modelo de jogo.

O treinador francês até tentou uma variação do 4-3-1-2/4-2-3-1 que encaixou em 2018 com Matuidi, agora Rabiot, fazendo a função híbrida de meio-campista pela esquerda - ora meia, ora ponteiro. Deixou Pogba no banco e iniciou com Coman, que continua voando no Bayern de Munique, formando um quarteto mais ofensivo com Griezmann, Mbappé e Giroud.

Até fez bom primeiro tempo com a Ucrânia e abriu o placar com golaço de Griezmann, mas depois caiu de rendimento e cedeu empate no gol contra de Kimpembe. Uma felicidade nas três finalizações da seleção comandada por Andriy Schevchenko. Contra 18 dos "Bleus", que ainda tiveram Pogba, Martial e Dembélé na segunda etapa e pressionaram o adversário que golearam com uma formação "alternativa" em outubro por 7 a 1.

Deschamps tem vinte anos de carreira aos 52 anos e um currículo interessante, comandando o Monaco vice da Champions 2003/04 e o Olympique de Marseille campeão da Ligue 1 em 2009/10 e bi da Copa da França em 2010 e 2011. Mas a rigidez que dificulta a aplicação de uma proposta mais ofensiva e móvel é um obstáculo para a seleção decolar e marcar época pela bola jogada, além das conquistas.

O mesmo com Fernando Santos, de 66 anos, em Portugal. Ainda com Cristiano Ronaldo e o 4-3-3 que varia para 4-4-2 com o ponta pela direita voltando e o meio-campista à esquerda abrindo para liberar o camisa sete e maior jogador da história do país. Solução inteligente desde os tempos de Paulo Bento, mas que limita a incrível "fábrica" que produziu em fornadas diferentes Bruno Fernandes, Diogo Jota, Pedro Neto, Bernardo Silva, Rúben Neves, João Cancelo, Gonçalo Guedes, André Silva Rúben Dias...

Um gol contra de Medvedev garantiu a vitória sobre o Azerbaijão. Falha do goleiro Mahammadaliyev, que voltou para o segundo tempo disposto a compensar o erro e evitou derrota mais elástica com grandes defesas. O desempenho dos lusos, porém, foi muito inconstante. Por mais que se entenda um certo desentrosamento e a preocupação com a pesada sequência de três partidas em seis dias, é muito pouco para tamanho potencial.

Não por acaso a Bélgica de Roberto Martínez, ainda líder do ranking da FIFA, parece mais inquieta, criativa e capaz de momentos de maior brilho individual e coletivo. Venceu País de Gales de virada por 3 a 1 com um 3-4-2-1 que libera Meunier e Thorgan Hazard como alas e aproxima De Bruyne e Mertens de Lukaku no ataque.

É inútil imaginar um treinador de primeira ou segunda prateleira no futebol mundial comandando seleções, até porque neste universo vale mais ser bom selecionador e gestor de vestiário que um revolucionário em tática e estratégia. Guardiola, Klopp e os maiores preferem o trabalho diário e, claro, os salários mais robustos dos clubes mais ricos do planeta.

Santos e Deschamps seguem firmes e um deles pode ganhar a Euro. Mas é difícil ver os jogos das duas principais seleções europeias e não esperar algo condizente com tanta qualidade. Até aqui vieram as taças e não muito mais que isso.

(Estatísticas: UEFA)

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