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André Rocha

OPINIÃO

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Sem "combo" de erros no Corinthians, Tiago Nunes pode ajustar o Grêmio

Tiago Nunes é apresentado como treinador do Grêmio - Lucas Uebel/Grêmio FBPA
Tiago Nunes é apresentado como treinador do Grêmio Imagem: Lucas Uebel/Grêmio FBPA

Colunista do UOL Esporte

24/04/2021 08h39

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É bem provável que, numa temporada brasileira normal terminando em dezembro, o fim do ciclo de Renato Gaúcho se desse naturalmente na virada do ano. Os sinais de desgaste eram claros e as escolhas infelizes na final da Copa do Brasil, principalmente de Paulo Victor na meta, cobrariam o preço com a saída amigável do maior ídolo da história do clube.

Com o atropelo de datas, Renato ficou e a despedida fora dos gramados, por conta da Covid, depois das derrotas para o Independiente del Valle e a consequente eliminação antes da fase de grupos, não deixou de ser melancólica e um anticlímax para um trabalho de quase cinco anos que, no saldo final, foi vencedor.

Tiago Nunes chega e não recebe terra arrasada, assim como Renato não herdou de Roger Machado um trabalho sem legado. Além dos títulos de Copa do Brasil e Libertadores que tiraram o clube de um incômodo jejum de 15 anos sem grandes conquistas além dos estaduais, o Grêmio apresentou um modelo de jogo que teve momentos de encantamento, combinando posse de bola e jogo mais vertical quando chegava próximo à área do adversário.

Nos últimos tempos, principalmente em Gre-Nais e na semifinal da Copa do Brasil contra o São Paulo, um estilo reativo ficou mais frequente. Acelerando pelas pontas em contragolpes e aproveitando também a eficiência de Diego Souza no jogo aéreo. O desgaste, porém, foi inevitável.

A impressão de estagnação ficou muito forte. As declarações públicas e a postura de Renato também não ajudaram, sempre transferindo responsabilidades e superdimensionando títulos gaúchos que não são mais tão relevantes e relativizando derrotas impactantes, como as goleadas sofridas para Flamengo e Santos nas últimas edições da Libertadores.

Mas a ideia de jogar de várias maneiras, adaptando-se ao contexto e às demandas de cada partida, é válida. E certamente será aproveitada por Tiago Nunes. A missão do novo treinador é parecida com a que recebeu no Athletico-PR: fazer os devidos ajustes em ideias interessantes, mas que não tinham boa aplicação prática.

Recebeu de Fernando Diniz uma equipe organizada para atacar, mas sem efetividade na frente e com muitos problemas defensivos. Formou um time versátil, aproveitando jogadores promissores que comandou no sub-23 que venceu o estadual - Léo Pereira, Renan Lodi e Bruno Guimarães são os exemplos mais emblemáticos - e conquistando Sul-Americana e Copa do Brasil.

O salto na carreira em um clube de maior projeção nacional não foi dado no Corinthians. Por um "combo" de erros. Tiago foi anunciado oficialmente em novembro de 2019, mas só assumiu em janeiro. Já com Florida Cup para detonar a pré-temporada e Libertadores cobrando capacidade competitiva em fevereiro. E ainda com a difícil missão de mudar a identidade construída e solidificada por Mano Menezes, Tite e Fabio Carille.

Durou até setembro de 2020 porque houve uma pandemia no meio do processo. Não tinha como dar certo, também por responsabilidade do técnico, que errou também ao tentar se impor com discurso de disciplina acima do tom e uma contundência que não tinha respaldo no currículo de um jovem técnico. Afinal, Sul-Americana e Copa do Brasil não dão estofo para falar tão grosso com jogadores como Cássio e Fagner. Faltou sensibilidade.

Agora chega mais devagar no Grêmio, falando em ser um "facilitador". Além da estrutura e da saúde financeira do clube, tempo não faltará para implementar o modelo de jogo. Sem Libertadores é possível trabalhar com calma mirando o Brasileiro que não foi prioridade nos últimos anos. Um título que não vem desde 1996. Tiago também tem a vantagem de não ser um "forasteiro", já que trabalhou nas divisões de base. Comandou Jean Pyerre e Darlan, inclusive. Mas já buscou contato mais próximo com Geromel, Kannemann e Maicon, lideranças que agora ganham a companhia de Rafinha.

É aposta com boas chances de vingar. A tendência é não ter muitas baixas por convocações, o grande tormento da temporada. O tricolor gaúcho pode, inclusive, crescer no "vácuo" de Flamengo, Palmeiras, São Paulo e Atlético-MG, que devem perder mais jogadores para as seleções sul-americanas.

Tiago volta ao cenário nacional com mais "casca" e vivência, além da visão de futebol que tem tudo para ajustar a equipe, aparando arestas sem grandes rupturas com o trabalho de Renato Gaúcho. Aliando valorização da posse com eficiência e agressividade. Combinando experiência e juventude. Menos "boleiro", mas entregando conteúdo. Deve dar liga.