Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.
Palmeiras de Abel não é reativo, só se enrola quando o jogo sai do roteiro
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O conceito de "jogo reativo" vem do início da década passada, como o oposto, ou a resposta ao "jogo propositivo". No marcante duelo Pep Guardiola x José Mourinho, especialmente nos lendários confrontos entre Barcelona e Real Madrid por La Liga, Copa do Rei e Champions em 2010/11. Um tinha a bola e tentava propor o jogo, o outro recuava as linhas e apenas reagia.
Era algo quase binário e que contaminou o futebol mundial. O jogo começava e ou você sabia o papel de cada um dos times pelas diferenças em camisa, história e poder de investimento, ou aguardava para ver qual equipe se instalaria no campo de ataque e ficaria com a posse, relegando a outra ao papel de esperar e contragolpear.
Hoje a palavra é versatilidade. Até porque os treinadores notaram que seria impossível jogar sempre da mesma forma. Times que tinham propostas reativas precisariam atacar em muitos jogos e os mais ofensivos precisariam se defender quando necessário. Os velhos tons de cinza entre preto e branco.
O Palmeiras de Abel Ferreira não é reativo. O treinador português, junto com sua comissão, estuda detalhadamente os adversários e elabora um plano para cada partida. Tenta ser proativo, sem esperar as ações do oponente para responder.
No 4-2-3-1 ou no 3-1-4-2, já se viu o atual campeão sul-americano e da Copa do Brasil pressionando no campo rival, adiantando linhas e tocando a bola ou recuando para atrair e matar na velocidade. Usando o goleiro Weverton como opção na saída de bola para gerar superioridade numérica. Sempre competitivo e tentando se impor.
O problema na maioria das vezes é a capacidade de adaptação ao longo da partida. Não exatamente em substituições ou na leitura de jogo. Só que o time paulista se enrola na execução quando o jogo sai do roteiro esperado.
Contra o Tigres, pela semifinal do Mundial de Clubes, Abel sabia que o forte da equipe mexicana não era a velocidade nas transições. Tentou marcar mais à frente, mas o campeão da Concacaf, muito técnico, saía da pressão e conseguia acelerar e fazer a bola chegar a Gignac. Com o gol sofrido, além da tensão da estreia e da responsabilidade de se impor como campeão sul-americano, o Palmeiras não conseguiu envolver um adversário cascudo que recuou, mas sempre tinha o contragolpe engatilhado.
Quase sempre, a ideia na fase ofensiva é circular a bola com calma. Rodando entre goleiro, zagueiros, o volante mais fixo, um meia ou lateral/ala que volta. Não cria o espaço, sempre espera aparecer. O oponente desconcentra, permite a movimentação de Luiz Adriano ou Raphael Veiga entre a defesa e o meio, a diagonal de Rony ou a infiltração de um dos laterais e acelera a ação ofensiva com o passe longo. Assim atropelou o Corinthians nos últimos clássicos.
Se o adversário se defende bem, com concentração para não cometer deslizes, o Palmeiras simplesmente trava. Contra o Flamengo, o problema costuma ser a dificuldade para sair da pressão no campo de defesa. Se a bola não chega a Veiga ou Luiz para a conexão com Rony, o time é empurrado para trás.
Na Supercopa, o contexto da partida às 11 horas em Brasília mudou o plano inicial. Foi intensidade máxima para abrir logo o placar e condicionar o jogo. Conseguiu com o golaço de Veiga, mas o Flamengo alcançou a virada ainda no primeiro tempo. Na volta do intervalo, a obrigação de atacar o rival que sofre quando precisa defender e o fôlego renovado pelas substituições fizeram o time atacar e criar. Na prática, porém, foi a exceção que confirma a regra neste cenário.
Na final paulista, jogo travado com os times marcando por encaixe. Rony e Luiz Adriano pegavam Arboleda e Leo, deixando Miranda sem muitas soluções na saída de bola, mas Luan perseguia Veiga e matava a criação alviverde. Só um gol mudaria a decisão e o chute desviado de Luan trouxe conforto ao São Paulo. O Palmeiras precisou atacar, fugir das perseguições dos marcadores e falhou miseravelmente, nada criou.
Abel tem razão ao se irritar com a expressão "reativo". De fato, reduz muito o trabalho do português. Mas precisa ter a humildade de admitir que o repertório dentro da proposta de ser um "camaleão" é limitado. A falta de tempo para trabalhar vem sendo um problema desde a chegada em novembro. Mas nas sessões de treino possíveis o técnico tem que encontrar soluções.
Focar mais no campo, menos em arbitragem, polêmica com jogador adversário, discussões com a imprensa. O português conseguiu o mais difícil para um estrangeiro no Brasil: respaldo de títulos importantes logo no início do trabalho, mesmo com os três vices recentes. Agora é preciso evoluir, até para não ficar previsível e ser atropelado pela concorrência.
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