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André Rocha

ANÁLISE

Texto baseado no relato de acontecimentos, mas contextualizado a partir do conhecimento do jornalista sobre o tema; pode incluir interpretações do jornalista sobre os fatos.

Rocha: Flamengo goleia no jogo do avesso do avesso em Porto Alegre

Vitinho e Michael comemoram gol do Flamengo sobre o Grêmio - Pedro H. Tesch/AGIF
Vitinho e Michael comemoram gol do Flamengo sobre o Grêmio Imagem: Pedro H. Tesch/AGIF

Colunista do UOL Esporte

26/08/2021 00h54

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O final do primeiro tempo da ida das quartas de final da Copa do Brasil contra o Grêmio em Porto Alegre foi caótico para o Flamengo.

Expulsão de Isla nos acréscimos, discussão feia entre Willian Arão e Gustavo Henrique na saída para o intervalo e a sensação de que o time estava desmoronando em campo.

Muito pela nova maneira de defender da equipe rubro-negra, saindo da marcação por zona com algumas variações nos tempos de Rogério Ceni e Domênec Torrent para o encaixe com perseguições individuais, preferência do treinador Renato Gaúcho.

Escolha arriscada e de difícil adaptação, não só pela falta de costume. O Flamengo tem Isla, Filipe Luís e Diego, jogadores com importantes responsabilidades defensivas, acima dos 30 anos. Ainda Gustavo Henrique, zagueiro alto e lento, e Bruno Viana, muito contestado e irregular.

Muito espaço para cobrir, até pela proposta de se instalar no campo de ataque. Levou um drible, o instinto é fazer falta porque vai estourar lá atrás. Gustavo Henrique e Diego, já com amarelo, se livraram da expulsão por critério da arbitragem na punição. O lateral chileno não se safou.

45 minutos de pouco brilho de Arrascaeta, Bruno Henrique saindo lesionado depois de arrancada e finalização e muitos espaços entre os setores. O Grêmio se aproveitava com movimentação do meia paraguaio Villasanti e as diagonais da esquerda para dentro de Alisson, concluindo para fora a melhor oportunidade gremista. Do lado oposto, Douglas Costa também foi substituído por contusão muscular e deu lugar a Ferreira.

O time de Felipão estava pronto para matar em sua arena o time visitante com velocidade e jogo físico. Só que a vantagem numérica criou uma responsabilidade inesperada: a de ser protagonista, ficar com a bola e criar espaços. Claramente o tricolor gaúcho não estava minimamente preparado para tal missão.

Renato também teve seus méritos. Foi preciso nas substituições para reorganizar a equipe num 4-4-1. Manteve Everton Ribeiro, que compõe bem a segunda linha de quatro pela direita e sacrificou Arrascaeta para recompor a lateral com Matheuzinho. E ainda tirou o "pendurado" Diego e colocou Thiago Maia, de volta após contrair Covid-19.

O time espaçado e descoordenado se recolheu no próprio campo e encontrou espaços generosos para as transições ofensivas. Abriu o placar na bola parada, escanteio da direita, com Bruno Viana, em chute desviado por Rafinha, na primeira partida do lateral contra o ex-time no Brasil. O suficiente para o Grêmio entrar em parafuso e ceder chances seguidas, desperdiçadas por Michael, nas habituais tomadas de decisão erradas, e Everton Ribeiro, que, livre e com tempo para dominar e finalizar com o pé esquerdo, resolveu arriscar com o direito e errou.

Felipão foi desorganizando sua equipe com substituições. Primeiro o estreante Campaz no lugar de Lucas Silva, depois Luiz Fernando e Diego Souza nas vagas de Alisson e Thiago Santos, deixando Villasanti como meio-campista mais recuado. Pouco criou, além de um chute de Alisson no travessão, logo após o primeiro gol sofrido, e uma cabeçada de Borja.

O desespero ficou claro no comportamento do jovem Vanderson. Agiu de forma atabalhoada em dois "enroscos", com Everton Ribeiro e Thiago Maia, e conseguiu ser expulso no final, por falta dura em Vitinho.

Camisa onze que substituiu Everton Ribeiro e depois foi para o centro do ataque, como uma espécie de "falso nove", quando Rodinei entrou no lugar de Gabigol e foi ocupar o lado direito. Desequilibrou com assistências para Michael e Rodinei, ainda cobrou o pênalti no último lance, fechando os 4 a 0 históricos.

Protagonistas apagados ou lesionados, contestados rubro-negros em noite mágica. Quem diria às 21h30, ou por volta das 22h15, que este seria o roteiro do jogo? Que o Flamengo se arrumaria com um homem a menos e o Grêmio ficaria perdido em casa, mesmo com 56% de posse e 16 finalizações, apenas uma no alvo. Contra sete de onze do rival cirúrgico.

Foi o jogo do avesso do avesso em Porto Alegre. No final, o favorito absoluto goleou, mas de maneira totalmente aleatória. Do banco, o recém-chegado Andreas Pereira não deve ter entendido muita coisa. Porque o time de Bruno Viana, Michael, Rodinei e Vitinho já está nas semifinais do mata-mata nacional.