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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Por que pausa na temporada é um terror para os técnicos no Brasil?

Abel Ferreira durante partida do Palmeiras contra o Athletico-PR no Allianz Parque - Marcello Zambrana/AGIF
Abel Ferreira durante partida do Palmeiras contra o Athletico-PR no Allianz Parque Imagem: Marcello Zambrana/AGIF

Colunista do UOL Esporte

30/08/2021 06h43

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A Série A do Brasileiro terá uma pausa para metade dos times, com novos convocados para a seleção brasileira na data FIFA. Os outros dez jogam na semana que vem e Fluminense e Juventude pagam a partida adiada da 14ª rodada na quinta, dia 2 de setembro.

O adiamento dos jogos de volta das quartas da Copa do Brasil já abriria uma janela importante para os oito times envolvidos. Fortaleza, Athletico, Fluminense e Santos atuam no fim de semana. Flamengo, Atlético Mineiro, Palmeiras e São Paulo ganham quase duas semanas para trabalhar.

Importante, mesmo com desfalques relevantes na rotina de treinamentos. Repouso, recuperação e preparação para equalizar a parte física, exercitar a técnica e ensaiar a tática. Um tempo que deveria ser precioso.

Mas no Brasil costuma se transformar em razão do desespero de muitos treinadores. Abel Ferreira já disse que é difícil mobilizar e manter o atleta concentrado com jogo apenas no fim da semana. O Palmeiras, de fato, teve uma queda de desempenho nas partidas em que teve cinco ou seis dias para se preparar, por conta da eliminação precoce na Copa do Brasil.

O Flamengo forçou uma pausa para os titulares na semana do jogo da volta contra o ABC pelas oitavas do mata-mata nacional. No domingo, a equipe de Renato Gaúcho entrou desconcentrada, com baixa intensidade e foi atropelada pelo Internacional.

O time gaúcho, que não está mais envolvido em nenhuma competição além do Brasileiro, também teve tempo. Mas estava "mordido", com o rival que tirou o título brasileiro na última temporada e com o treinador que comandou o Grêmio em tantas derrotas doídas em clássicos. Tanto que, depois dos 4 a 0 apoteóticos no Maracanã, não repetiu o desempenho nas partidas seguintes.

A questão anímica pesa. Ainda mais quando é recurso dos treinadores usar as adversidades como combustível. "Contra tudo e contra todos". Até o português do Palmeiras entendeu rapidamente como as coisas funcionam por aqui.

Hernán Crespo também, por isso usou toda energia física e mental do elenco do São Paulo para que a conquista do estadual tirasse o peso do jejum de taças. Agora terá um tempo valioso para contar com mais jogadores à disposição e interromper a dura rotina de lesões que vem comprometendo a sequência da temporada.

O Galo de Cuca é uma grande incógnita, porque o desempenho coletivo vem evoluindo e seria interessante dar ritmo de jogo a Diego Costa, que já estreou com gol no empate por 1 a 1 fora de casa contra o Red Bull Bragantino. Mas parar para quem jogou três partidas nos últimos seis dias pode ser fundamental. A menos que o período sem jogos também desmobilize o favorito mais "faminto" da temporada.

Sylvinho é quem vem aproveitando melhor as semanas "cheias" e o Corinthians segue progredindo. Agora será hora de encaixar Renato Augusto entre os titulares e começar a preparar Roger Guedes e, muito provavelmente, Willian. Sem contar que uma vitória sobre o Juventude na Neo Química Arena deixará a equipe ainda mais próxima do G-4.

O desafio é manter todos ligados, até porque, em muitos casos, os titulares que ficaram podem relaxar sem a companhia dos que estão servindo as seleções. Como se aquele período não fosse muito útil para trabalhar coletivamente. Até faria algum sentido se não houvesse a perspectiva de jogos "encavalados" para quem seguir vivo na Copa do Brasil e na Libertadores - Flamengo e Galo, sendo mais específico. Rodar o grupo será uma necessidade básica.

No caso do atual bicampeão brasileiro, o cenário é ainda mais dramático. Pausa até dia 12, mas não se sabe quando os rubro-negros vão pagar os jogos adiados contra Grêmio, Athletico e Atlético-GO. E como será na data FIFA de outubro, também com rodada tripla na eliminatória sul-americana?

No pior cenário, se o time de Renato Gaúcho for eliminado nas semifinais do mata-mata, a única data aberta seria a da final da Libertadores, já que a decisão da Copa do Brasil está agendada, a principio, para depois do fim do Brasileiro. Isso se o vencedor da final em Montevidéu não estiver na decisão, porque o Mundial da FIFA está marcado para o mesmo período, em dezembro.

Aliás, a decisão continental está agendada para 27 de novembro. Um sábado. Se o Flamengo superar o Barcelona de Guayaquil e estiver no Uruguai nesse fim de semana, mais uma partida pelo Brasileiro será adiada. E joga quando?

Sim, é insano. Por isso os técnicos trabalham tanto o aspecto mental e, muitas vezes, as equipes, mesmo com elencos qualificados, apresentam um repertório limitado. Até porque, sem tempo para treinar, é mais prático simplificar processos, "fechar a casinha" e motivar os mais talentosos a decidirem a parada.

Um círculo vicioso que deixa os treinadores dependentes desta roda viva. Parar e baixar a adrenalina pode criar uma crise de abstinência. O vazio de ideias vem como efeito colateral.