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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Botafogo de Enderson Moreira é a redenção inesperada da Série B

Warley, Navarro e Chay fazem a "dança do gordinho" em comemoração de gol do Botafogo - Thiago Ribeiro/AGIF
Warley, Navarro e Chay fazem a 'dança do gordinho' em comemoração de gol do Botafogo Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Colunista do UOL Esporte

21/09/2021 08h18

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Dez vitórias, um empate e apenas uma derrota. 19 gols marcados, cinco sofridos. 100% de aproveitamento no Nílton Santos e terceira colocação, a apenas quatro pontos do líder do Coritiba.

O Botafogo de Enderson Moreira é a grande surpresa da Série B, depois do trabalho irregular de Marcelo Chamusca. Entregando respostas rápidas em campo, evoluindo e amadurecendo na sequência dos jogos, a ponto de virar em casa com autoridade sobre o Náutico, nos 3 a 1 pela 24ª rodada. O quinto triunfo consecutivo.

Enderson é treinador um tanto controverso, que foi expulso logo na estreia contra o Confiança por ofender o quarto árbitro. Ainda não conseguiu emplacar um trabalho consistente na Série A, mas no time carioca, mesmo com todas as dificuldades financeiras e limitações do elenco, constrói até aqui uma trajetória que pode ser considerada brilhante.

Time organizado que alterna o 4-4-2 e o 4-2-3-1, de acordo com a movimentação de Chay, que chamou atenção no Carioca pela Portuguesa da Ilha do Governador e agora se destaca fazendo boa dupla na frente com Rafael Navarro, artilheiro da equipe no campeonato com nove gols. Um a mais que Chay, que ajuda o Bota a ostentar a condição de ataque mais positivo, com 37 gols marcados.

Defende com duas linhas de quatro compactas e bem coordenadas, subindo e descendo a marcação de acordo com o contexto, embora não seja tão adepto da pressão no campo de ataque. Muitas vezes apela para a ligação direta procurando Navarro para ganhar o rebote e trabalhar já dentro do campo adversário.

Na construção desde a saída de bola, mantém o lateral Daniel Borges mais preso pela direita, com os zagueiros Kanu e Gilvan, liberando o veterano Carlinhos pela esquerda para abrir o campo e buscar o fundo. Quem dá amplitude pela direita é Warley, que foi lateral na base do Santa Cruz e no próprio Botafogo. Está bem adaptado à função que ocupa praticamente todo corredor direito.

Pedro Castro e Barreto formam a dupla de volantes que garante volume de jogo e proteção da retaguarda. Com a reposição de Luis Oyama, ex-Mirassol, que entrou no lugar de Castro ainda no primeiro tempo para manter ritmo e desempenho, além de marcar o gol que iniciou a virada sobre o Náutico.

Marco Antonio trabalha da esquerda para dentro, procurando Chay e Navarro por dentro, buscando espaços entrelinhas e abrindo o corredor para Carlinhos. Pode inverter o lado, caso Enderson opte pela entrada de Diego Gonçalves pela esquerda. Movimentos de ataque posicional simples, porém bem executados que vêm fazendo a diferença.

Além de Oyama e Gonçalves, Enderson conta com opções como Rafael Moura para o centro do ataque, Ricardinho e Luiz Henrique ara o meio-campo, além da liderança de Joel Carli, de volta ao clube, mas lesionado no momento. Na meta, Diego Loureiro vem correspondendo com segurança.

A nova direção trabalha dentro da difícil realidade financeira, mas busca credibilidade no mercado e modernizar a gestão, dentro e fora do campo. A chegada de Rafael, ex-Manchester United e apaixonado pelo clube, faz parte deste processo, podendo contribuir na lateral direita, mas também na reconstrução da imagem da Estrela Solitária.

Esperança de círculo virtuoso dentro de uma redenção inesperada. As expectativas eram maiores sobre Vasco e Cruzeiro, que, mesmo também vivendo crises gravíssimas, contam com elencos, em tese, mais qualificados.

A dura missão é trabalhar para confirmar o acesso e já planejar 2022 para evitar o bate-volta e se consolidar novamente na Série A. Para não deixar morrer uma história gloriosa, que se confunde com o passado dourado do futebol brasileiro.