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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Crespo merece uma pré-temporada no São Paulo

Técnico Hernán Crespo durante empate sem gols entre São Paulo e Atlético-MG, pela 22ª rodada do Brasileirão - Marcello Zambrana/Marcello Zambrana/AGIF
Técnico Hernán Crespo durante empate sem gols entre São Paulo e Atlético-MG, pela 22ª rodada do Brasileirão Imagem: Marcello Zambrana/Marcello Zambrana/AGIF

Colunista do UOL Esporte

05/10/2021 09h13

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O empate do São Paulo por 1 a 1 com a lanterna Chapecoense, mesmo na Arena Condá, é o típico jogo que deixa a sensação de terra arrasada. Mesmo com o golaço de Rigoni e desperdiçando boas chances, inclusive com o próprio atacante argentino.

Porque é a típica partida em que fica claro que um pouco de disposição a mais seria suficiente para voltar com os três pontos. Ficou uma impressão de certa indiferença com a situação do clube no Brasileiro. Até pela posição no meio do caminho, literalmente: a seis pontos do Corinthians, sexto colocado, e cinco na frente do Bahia, primeiro da zona de rebaixamento.

Os questionamentos em relação ao trabalho do treinador Hernán Crespo são legítimos. Agora o time concentra atenções em apenas um campeonato e o desempenho não evolui para construir os resultados esperados e condizentes com a qualidade do elenco, dentro da realidade brasileira.

Crespo tenta, variando sistemas e testando formações. Mas a temporada atípica cobra o preço de forma implacável. E é bom voltar ao final de fevereiro deste ano para compreender o quanto foi fora da curva o início de trabalho no tricolor paulista.

O São Paulo venceu o Flamengo pela última rodada em 25 de fevereiro. No dia seguinte, Crespo, contratado duas semanas antes, assumiu o comando e o time estreou pelo Paulista no domingo, 28, contra o Botafogo. A necessidade desesperada de uma conquista criou um cenário inédito, de um time sem férias ou uma pausa mínima para reflexão ou planejamento.

Era preciso deixar tudo no estadual, enquanto os demais, excluindo o Santos que já se envolveria nas etapas preliminares da Libertadores, improvisaram um recesso parcial. Tamanho esforço físico e mental vem cobrando o preço desde a esperada conquista, tratada como prioridade.

No aspecto físico, não só pela sequência insana, mas também pela maneira de jogar com Crespo. Com marcação individual que exige demais. É marcar correndo, não posicionado. Requer intensidade e concentração, sem um período de adaptação com treinamentos específicos. Então era na tentativa e erro, compensando as falhas correndo ainda mais.

A sequência de lesões pode motivar críticas ao departamento médico e à preparação física, mas o ineditismo do cenário precisa ser pesado na avaliação. Mesmo com o "caso Benítez", uma possível referência técnica que não consegue ser minimamente competitivo para disputar a Série A.

Na questão emocional, o sacrifício teve a catarse com o título, valorizado por ter sido em cima do Palmeiras campeão da Libertadores e da Copa do Brasil. Mas o que poderia ser alavanca para buscar algo mais na temporada se transformou em âncora.

É claro que a turbulência política e as dificuldades financeiras tornam tudo ainda mais complicado. O comportamento de Daniel Alves, que deveria ser uma liderança, aumentou a sensação de descaso. Ou de que a temporada já acabou e agora é esperar uma próxima, mais perto da realidade.

Pois é justamente isso que Crespo merece. A missão dada foi cumprida, o São Paulo não vive mais seca de títulos, por mais que se questione o valor dos estaduais. Agora é tentar conter os danos. E, pensando de forma pragmática, talvez a classificação para a Libertadores fora da fase de grupos nem seja interessante, para não queimar etapas de preparação novamente.

O São Paulo precisa de férias, pré-temporada, início com calma no Paulista, sem grandes pressões. Nenhum atropelo. Trabalho com sequência e análise constante da evolução. Ou seja, o justo.

Agora é administrar a insatisfação do torcedor, naturalmente imediatista. E tentar encerrar o Brasileiro sem sustos, longe do Z-4. O time do Morumbi fez escolhas, com consequências. Crespo tem créditos e merece começar 2022 no clube.