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Rocha: Clima de "fim de mundo" pode fazer bem à seleção, como em 2002
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Este texto se propõe, sim, a tentar ver o copo meio cheio da seleção brasileira. Esse fenômeno que faz história com 100% de aproveitamento em nove jogos das eliminatórias, está praticamente classificado para a Copa do Mundo no ano que vem, mas leva pancadas de todos os lados.
Justas, porque a equipe de Tite vence de forma protocolar, sem um mínimo lampejo de bom futebol. Com pilares como Alisson ou Ederson, Thiago Silva, Marquinhos, Casemiro e Neymar, mas nenhuma definição sobre os demais titulares, sequer o sistema tático.
Um contraste grande em relação às semifinais da Liga das Nações, especialmente o jogaço entre França e Bélgica que colocou os atuais campeões mundiais na decisão. O Brasil parece atuar em outra rotação, impossível de acompanhar a intensidade e a qualidade das principais seleções europeias.
Sensação parecida com a que o país viveu em 2001. Este que escreve lembra de demorar a dormir na noite em que a seleção, então tetracampeã, fora eliminada da Copa América por Honduras. 2 a 0, com direito a caneta humilhante em Juninho Pernambucano. Um vexame sem precedentes.
Não eram 20 anos sem título mundial, mas a impressão era de que, ao contrário dos nossos pais, que viram um tricampeonato, a geração atual de torcedores da seleção, algo cada vez mais raro atualmente, só ficaria com aquela conquista sofrida de 1994.
Felipão era a última esperança, depois do fracasso de Luxemburgo. Romário, aos 35 anos, não poderia ser o "salvador" novamente, havia dúvidas se Ronaldo Fenômeno poderia atuar em alto nível, Rivaldo também convivia com problemas físicos e ninguém sabia se conseguiria repetir o nível de 1999. Ronaldinho Gaúcho era apenas uma esperança, incógnita depois da saída conturbada do Grêmio para o PSG.
Parecia impossível duelar com França e Argentina, as grandes favoritos. Isso se o Brasil confirmasse a vaga no Mundial na Ásia, o que aconteceu apenas na última rodada das eliminatórias, com vitória sobre a Venezuela por 3 a 0.
Seleção "Vinotinto" que foi batida de virada, em Caracas, por 3 a 1. Com atuação constrangedora da equipe de Tite na maior parte do tempo, valendo-se apenas da superioridade física e da participação direta de Raphinha, do Leeds United, nos três gols. O ponteiro foi a melhor notícia para uma seleção que se tornou "refém" de Neymar e sofre para encontrar soluções ofensivas que não passem pelo seu camisa dez e estrela solitária.
As vitórias significam pouco, ou apenas uma tranquilidade matemática que não existia, por exemplo, em 2001. Mas o clima de "fim de mundo" é parecido. Nenhuma esperança e, agora, uma aversão que não existia na mesma intensidade há duas décadas, por conta da figura, para muitos, antipática de Neymar e o personagem enfadonho que é Tite.
Principalmente, a raiva que passa os torcedores dos clubes brasileiros que têm atletas convocados e os veem fora de seus times em um calendário que quase nunca respeita datas FIFA. Isso quando os jogadores não voltam lesionados. Todo mês esse tormento e, em setembro e outubro, para três partidas de uma eliminatória longa demais, com 18 jogos para cada seleção.
Mas, acreditem, é possível ser campeão mundial no ano que vem. Hoje é fácil dizer que em 2002 havia craques para desequilibrar, mas na época não era essa a percepção. Longe disso. O cenário era apocalíptico. Mas tudo mudou, porque o que importa é ser o melhor naquele mês em que a Copa é disputada.
França e Argentina chegaram estropiadas fisicamente e caíram na primeira fase. Felipão só achou o time nas quartas, com Kléberson entrando no lugar de Juninho Paulista Nas oitavas, contra a Bélgica, precisou do "apito amigo" na anulação absurda do gol de Marc Wilmots.
Mas venceu e fica apenas a memória seletiva. A partir daí, o Brasil terminou todas as eliminatórias na liderança - com exceção de 2014, por ser o país sede. Parreira, Dunga, Felipão e o próprio Tite fecharam o grupo e uma ideia de jogo muito cedo. Em 2013 por conta da conquista da Copa das Confederações.
Otimismo, favoritismo e...eliminações para seleções europeias nas quartas. Quando chegou à semifinal veio o 7 a 1 no Mineirão...
Agora o cenário é "híbrido" e inédito. O Brasil vence, encaminha a classificação, porém não empolga ninguém. Mesmo descontando o ranço e o nariz torcido, de fato vem faltando futebol. A seleção não é intensa, móvel e criativa, como em 2016. Transmite apenas segurança de que será sólida atrás, levando poucos gols. Também a cultura de vitória no contexto sul-americano, abalada pela derrota em casa para a Argentina na final da Copa América.
Muito pouco para sonhar com o hexa no Catar. Qual é a chance? Talvez encontrar a formação ideal no próprio Mundial, como em 2002. Chegar sem "oba oba", nem pensamentos cristalizados, certezas e cadeiras cativas. Há jovens pedindo passagem e vagas em aberto. Assim como no Japão/Coreia do Sul, será uma Copa diferente, até no período do ano. Quem sabe?
A história da seleção mostra que a desconfiança sempre foi uma boa aliada.
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