Topo

André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Inferno do Grêmio é alerta para todos os clubes no Brasil

Nino jogador do Bahia disputa lance com Ferreirinha jogador do Gremio durante partida no estadio Arena Fonte Nova pelo campeonato Brasileiro A 2021. Foto: Jhony Pinho/AGIF - Jhony Pinho/Jhony Pinho/AGIF
Nino jogador do Bahia disputa lance com Ferreirinha jogador do Gremio durante partida no estadio Arena Fonte Nova pelo campeonato Brasileiro A 2021. Foto: Jhony Pinho/AGIF Imagem: Jhony Pinho/Jhony Pinho/AGIF

Colunista do UOL Esporte

27/11/2021 08h09

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

Em 17 minutos, duas falhas da defesa na Arena Fonte Nova, a mais grotesca no recuo bizarro de Pedro Geromel para o goleiro Gabriel Chapecó, ajudaram o Bahia a abrir 2 a 0 e consolidar os 3 a 1 que decretaram mais uma derrota do Grêmio no Brasileiro. A 19ª em 35 jogos. Das mais doídas, quase uma condenação.

Com 36 pontos e só mais três partidas a cumprir, estando quatro abaixo do próprio Bahia, agora o 16º e ainda com um jogo a menos, só 100% de aproveitamento contra São Paulo e Atlético Mineiro em casa e Corinthians fora, mais uma combinação improvável de resultados para salvar o tricolor gaúcho.

Desfecho inimaginável em maio, quando o time, ainda comandado por Tiago Nunes, aparecia como uma das atrações da temporada, com a chegada de Douglas Costa e a manutenção de uma base tetracampeã estadual, que chegara à final da Copa do Brasil poucos meses antes, ainda sob o comando de Renato Gaúcho.

O que deu errado? Em campo, praticamente tudo. Time quase sempre desorganizado, com uma espinha dorsal envelhecida - Geromel, Kannemann, Maicon e Diego Souza - que não conseguia mais entregar desempenho em bom nível. Mais reservas, incluindo os revelados no clube, que não sustentaram quando a equipe mais precisou.

Para completar, Rafinha e Douglas Costa não contribuíram como se imaginava. Uma coisa é entrar em equipe ajustada, outra é encontrar terra arrasada e fazer a diferença. Falharam miseravelmente.

Culpa de quem? Clube estruturado, sem crise financeira e investindo no futebol. Em contratações e também nas divisões de base. Em linhas gerais, gestão não foi exatamente o problema, certo?

Eis o ponto. Gerir é tomar decisões e o Grêmio começou a temporada com um erro crasso: manter Renato Gaúcho, em um trabalho que já fedia a podre desde 2019, quando foi humilhado pelo Flamengo na Libertadores. Qualquer treinador teria sido demitido no vestiário, ou ao menos no final do ano. Mas era o maior ídolo da história do clube e insistiram mais um pouco. Em nome da invencibilidade nos Grenais.

Tiago Nunes não foi exatamente uma escolha errada, mas não deu certo no momento de evolução do trabalho após a conquista estadual. Veio Luiz Felipe Scolari, outra aposta mais que equivocada. A coincidência feliz de 2016, com um ídolo veterano apenas dominando o vestiário e ajustando o trabalho consolidado de Roger Machado, não acontece toda hora.

Vagner Mancini largou o América para ser "bombeiro". O estrago, porém, já estava feito e a pressão sobre time grande no desespero suga todas as energias. Também os pontos na tabela, no momento de agonia lenta a caminho do terceiro rebaixamento na história gremista.

Contrariando a história recente de clubes desorganizados e vivendo sérias crises financeiras sucumbindo e penando na Série B. Sem salários atrasados, contratando com responsabilidade. O futebol, porém, acontece no campo de jogo. Foi lá que o Grêmio se afundou e agora vive o inferno.

Serve de alerta para todos os clubes no Brasil. Até os mais abastados, como Atlético, Flamengo e Palmeiras. Uma sequência de escolhas ruins no departamento de futebol pode desgraçar qualquer um. O Grêmio tem elenco de G-6, mas está no Z-4 e de lá não deve mais sair. Nunca foi só dinheiro.