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Rocha: Nova versão do "Futebol Total" do Ajax pode ir longe na Champions?
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A campanha 100% no Grupo C da Liga dos Campeões, ajudando a empurrar o Borussia Dortmund de Erling Haaland para a Liga Europa, obriga a Europa e o planeta a olhar novamente para o Ajax.
Time holandês que está na história do futebol pelo tricampeonato europeu que foi a prévia do que a Holanda apresentaria ao mundo sem globalização e internet em 1974. O "Futebol Total", gestado pelo inglês Vic Buckingham e consagrado por Rinus Michels. Com Johan Cruyff como grande estrela, pela inteligência criativa dentro de um jogo essencialmente coletivo.
Erik ten Hag é o treinador desta espécie de segunda revolução, mas agora dentro do contexto de concorrência com verdadeiras seleções transnacionais nos clubes mais ricos do planeta. É difícil ser protagonista apenas pela competência na execução de uma proposta, como nos anos 1970.
O Ajax tenta sobreviver sendo formador, desenvolvedor e negociador. Com espasmos de grandes resultados, como a campanha na Champions de 2018/19, atropelando o então tricampeão Real Madrid com históricos 4 a 1 no Santiago Bernabéu e chegando até a semifinal, perdendo a vaga na decisão contra o Liverpool para o Tottenham, na noite fantástica de Lucas Moura.
Agora o trabalho de ten Hag ganha maturidade, perto de completar quatro anos. E o que o holandês propõe é mobilidade e protagonismo a partir da ocupação inteligente dos espaços. O sistema tático é quase sempre o 4-2-3-1, mas isso importa muito pouco. O que vale é a nova lógica do ataque posicional, com movimentos coletivos baseados em diagonais. Curtas ou longas.
Pense nos grandes passadores da história do esporte: Bozsik, Didi, Koppa, Gerson, Beckenbauer, Maradona, Matthaus, Zidane, Riquelme, Ronaldinho, Xavi...Todos eles sempre dependeram de uma conjunção precisa de tempo e espaço. Receber no espaço livre e ter um companheiro se deslocando no momento exato e infiltrando na brecha criada ou cedida pelo adversário. Quando tudo se encaixa é mágico!
O que ten Hag busca é que esse encaixe aconteça com a maior frequência possível, independentemente de quem seja o passador e o infiltrador. Então Antony, o ponta canhoto pela direita, pode ser o "meia" genial que encontra livre o sérvio Tadic, o camisa dez de fato da equipe. Ou o pivô e artilheiro sensação Haller, que já marcou dez gols em seis partidas, é quem atrai os zagueiros e, em um toque, acha o meia Steven Berghuis entrando nas costas da defesa rival.
Todos os conceitos estão lá: amplitude, profundidade, busca do homem livre, jogo entrelinhas, pressão pós-perda, muitos jogadores na zona de conclusão. O que muda é a dinâmica. A ideia central é a mesma de meio século atrás: surpreender pelo volume e pela frequência.
Só que o "arrastão" agora não se dá com todos saindo para pressionar o adversário com a bola. O Ajax de 2021 se propõe a atacar a última linha defensiva do oponente com o máximo de jogadores. Quem está com a bola pode passar para o companheiro indo em sua direção ou buscando outros dois entrando nas costas dos defensores. Sempre em diagonal.
O grande mérito é simplesmente não parar. ten Hag roda o elenco para ter gás e buscar o ataque o tempo todo. Por isso os números impressionantes na fase de grupos, que só podem ser superados pelo gigante Bayern de Munique, caso este vença em casa o Barcelona na última rodada do Grupo G.
O Ajax não é líder em posse de bola, nem a equipe que mais finaliza nas Champions. O time holandês procura ser prático e objetivo nos ataques, fazendo a bola chegar rapidamente perto da área adversária e lá movimentar as peças em busca da melhor chance de finalizar. Um passa, outro infiltra.
Quais as chances do no mata-mata? Depende fundamentalmente do sorteio. Pode cruzar com PSG, Atlético de Madri ou até o campeão Chelsea já nas oitavas. Aí a missão fica bem mais complicada.
Mas tem jogo, viu? Porque o time holandês, mesmo sem as estrelas milionárias dos clubes mais abastados, pode novamente igualar as forças com uma ideia poderosa bem executada. A nova versão do "Futebol Total".
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