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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Flamengo vai contratar treinador para demitir em junho?

Rogério Ceni cumprimenta Filipe Luís em seu primeiro dia como técnico do Flamengo - Alexandre Vidal / Flamengo
Rogério Ceni cumprimenta Filipe Luís em seu primeiro dia como técnico do Flamengo Imagem: Alexandre Vidal / Flamengo

Colunista do UOL Esporte

09/12/2021 06h55

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Marcelo Gallardo fica no River Plate por mais um ano. O Benfica está classificado para as oitavas da Liga dos Campeões e Jorge Jesus declarou logo após a vitória por 2 a 1 sobre o Dinamo de Kiev que vai cumprir o contrato até o final (junho de 2022).

Ou seja, o Flamengo, a princípio, não terá um daqueles nomes inquestionáveis, com estofo e currículo robusto para aguentar pressões internas e externas em um clube cuja direção ouve até demais as redes sociais e os jogadores mais experientes e influentes do elenco.

Depois de Jesus, as demissões de Domênec Torrent e Rogério Ceni seguiram um padrão: aconteceram sempre na virada da fase de grupos para o mata-mata da Libertadores. Um em novembro, outro em julho. Alguma instabilidade no início do Brasileiro, gritaria na internet, muros pichados e técnico na rua. Com multa rescisória para pagar.

A temporada europeia termina no dia 28 de maio, com a final da Champions em São Petersburgo, na Rússia. Muito provavelmente com Jorge Jesus fora do Benfica e livre no mercado. As oitavas da Libertadores começam exatamente um mês depois. O Brasileiro estará rolando desde abril, já que a temporada se encerra em novembro para a Copa do Mundo no Catar.

O Flamengo se dispõe, corretamente, a buscar o melhor profissional disponível para comandar o time a partir de janeiro. Com pré-temporada e o estadual como período de adaptação de um estrangeiro ao futebol brasileiro.

A primeira grande questão é que Marcos Braz e Bruno Spindel não são exatamente os melhores interlocutores para as entrevistas com os nomes que passarem pela sondagem inicial. O clube precisava de um profissional qualificado, com conhecimento técnico para fazer as perguntas que, muito provavelmente, não foram feitas a Dome. Para depois todos se surpreenderam quando o catalão, na segunda partida, mexeu nas estruturas da equipe implementando os primeiros conceitos do jogo de posição, bem diferente da dinâmica implementada por Jorge Jesus.

A segunda, não menos importante, tem a ver com respaldo. Este que escreve já leu no Twitter um youtuber muito influente junto à direção desmerecendo o currículo de Carlos Carvalhal, treinador do Braga que interessa ao Flamengo desde a saída de Jesus.

Independentemente do nome escolhido, tudo terá que dar muito certo até o meio do ano. Com título estadual atropelando os rivais, conquista da Supercopa do Brasil, caso o Flamengo se credencie a disputar o tricampeonato com o título do Atlético Mineiro na Copa do Brasil, e campanha sólida na fase de grupos da Libertadores, além de um bom início nos pontos corridos.

Qualquer oscilação será suficiente para a sombra de um Jorge Jesus desempregado pairar gigantesca sobre a Gávea e o Ninho do Urubu. Ainda mais com as prováveis especulações do técnico campeão brasileiro e da Libertadores em 2019 em outro grande clube daqui. Talvez um Palmeiras, se Abel Ferreira estiver voltando para a Europa. Quem sabe?

O que fará a direção de tantos caciques e tantas cornetas? Vai confiar no trabalho do português ou argentino que estiver no comando ou demitir e pagar mais uma multa por encerrar outro contrato antes do final? E a imagem de máquina de moer gente diante de treinadores como Gallardo pensando no futuro?

Por isso o Flamengo deve avaliar a hipótese de buscar uma última conversa com Jesus, nem que seja um acordo de cavalheiros com o compromisso de assumir o time rubro-negro depois de deixar Lisboa. Até lá, mandato "tampão" com um brasileiro mesmo. Candidatos não faltarão.

É arriscado? Claro! Mas bem melhor que o papelão de contratar um estrangeiro agora falando em "planejamento" e fraquejar novamente de acordo com os humores da torcida. Prejuízo financeiro e de imagem. Desnecessário.

Este colunista defende, em qualquer clube, a contratação com convicção de que a proposta do treinador se encaixa com as características do elenco e o que o clube deseja como estilo. Também se o perfil de comando se encaixa com o que se deseja na gestão do grupo. Depois é dar tempo ao trabalho, com avaliação constante do desempenho e do lastro de evolução. Os resultados contam, muito. Mas não podem definir no curtíssimo prazo as decisões da direção.

Algo básico, mas que tem faltado ao Flamengo. Desde antes de Jesus, um golpe de sorte que fez história.