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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Só há um parâmetro para o Flamengo avaliar treinadores portugueses

Paulo Sousa, técnico da seleção polonesa, passa instruções ao astro do time, Robert Lewandowski - Foto Olimpik/NurPhoto via Getty Images
Paulo Sousa, técnico da seleção polonesa, passa instruções ao astro do time, Robert Lewandowski Imagem: Foto Olimpik/NurPhoto via Getty Images

Colunista do UOL Esporte

17/12/2021 08h57

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Marcos Braz e Bruno Spindel partem para mais uma missão de contratar treinador estrangeiro na Europa para o Flamengo.

De novo vão sem alguém com interlocução para entender propostas de jogo e metodologias de trabalho. Por isso os alvos têm perfis tão distintos: Paulo Sousa, Carlos Carvalhal, Paulo Fonseca e Rui Vitória, sem contar o tal "café" com Jorge Jesus.

Seria importante o Flamengo chegar sabendo o que quer além de obviedades como "vencer" ou "ser ofensivo". Mas, no fundo, tudo que o profissional que vier realizou até hoje terá que ser adequado à realidade do futebol brasileiro.

Por isso o único parâmetro possível para o Flamengo avaliar os treinadores portugueses é a capacidade de adaptação. Como se viraram em outros países, ligas e culturas.

Porque não dá para falar em periodização tática no nosso calendário caótico. Não no conceito original, de Vitor Frade na Faculdade de Desporto da Universidade do Porto. Aliás, nem na Europa é possível executar com precisão, já que o método prevê semana "cheia" para preparar a equipe e a maioria hoje joga a cada três ou quatro dias, seja em torneios continentais ou copas nacionais, além da liga. Tudo precisa ser "condensado" na pré-temporada.

As análises sobre como os técnicos procurados costumam montar suas equipes são válidas para informar, porém não significam uma previsão do que farão no Ninho do Urubu.

O próprio Jorge Jesus teve que rever uma marca de seus times: o centroavante de referência. O Flamengo não contratou, até porque já tinha investido muito em Gabigol, Bruno Henrique e De Arrascaeta, e o "Mister" soube se reinventar com um ataque mais móvel e dinâmico.

É preciso entender também que o contexto do novo treinador será diferente. Jesus, em 2019, teve praticamente um mês na parada para a Copa América e depois, com elenco completo, um setembro com apenas cinco partidas, já que a Copa do Brasil, competição da qual foi eliminado em julho, foi decidida neste período.

O novo técnico terá pré-temporada de apenas duas semanas antes da estreia no Carioca. A menos que o clube repita a estratégia de colocar um time com sub-23 e alguns reservas, comandado por Mauricio Souza, nas primeiras rodadas.

No mais, é o torcedor entender que em dezembro é mais difícil buscar treinador na Europa. Será alguém desempregado ou em vias de ser dispensado. Não significa que é um mau profissional ou que dará errado no Brasil.

Os Paulos, Sousa e Fonseca, tiveram problemas defensivos nos últimos trabalhos. Carvalhal busca o equilíbrio, mas o Braga vem oscilando muito. Rui Vitória, desafeto de Jorge Jesus, tem personalidade forte e precisaria contar com muito respaldo da direção para fazer a gestão de vestiário.

Mas Jorge Jesus e Abel Ferreira também tinham suas limitações para competir na Europa e são os campeões da Libertadores desde 2019, além de outras conquistas. Para ser bem-sucedido no Brasil é preciso ter algum jogo de cintura. Domènec Torrent era gentil no trato, mas um tanto inflexível nas ideias de jogo e não entendeu muito bem onde estava pisando.

Quem chegar terá que compreender rapidamente o contexto em que está inserido, incluindo imprensa, redes sociais e política dentro do clube. Se souber conduzir, a chance de ser vitorioso na competição com a fraca concorrência nacional é enorme.