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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Paulo Sousa já chegará demitido. Flamengo fez tudo errado na Europa

Paulo Sousa durante entrevista após jogo da seleção polonesa pelas Eliminatórias, em novembro de 2021 - Pedro Salado/Quality Sport Images/Getty Images
Paulo Sousa durante entrevista após jogo da seleção polonesa pelas Eliminatórias, em novembro de 2021 Imagem: Pedro Salado/Quality Sport Images/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

27/12/2021 08h51

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Marcos Braz e Bruno Spindel retornam da "turnê" do Flamengo por Portugal com 100% de aproveitamento zero.

Porque fizeram, e com "capricho", justamente o que não deveriam por lá: despertar no torcedor rubro-negro a esperança do retorno de Jorge Jesus.

Se era para se reunir com o atual treinador do Benfica, que fosse da maneira mais sigilosa possível, só expondo o interesse do clube brasileiro quando Jesus estivesse disponível no mercado. Ir ao Estádio do Dragão para "secar" o time encarnado contra o Porto chegou a ser patético.

Todos os movimentos soaram como uma vingança infantil contra o clube português, que tirou Jesus do Flamengo com contrato renovado em 2020. Caso não conseguissem o intento, ao menos tumultuariam o ambiente em Lisboa. Só não vislumbraram o que aconteceria por aqui.

O Flamengo espera por Jesus e frita treinadores desde a despedida precoce. Sem fim de ciclo, sem uma grande oscilação no trabalho. Foram cinco títulos e quatro derrotas. Mais que isso, as duas únicas frustrações em 2019 terminaram com saldo positivo olhando em retrospectiva: eliminação na Copa do Brasil para o campeão Athletico apenas nos pênaltis, na primeira semana de jogos; derrota só na prorrogação para o poderoso Liverpool no Mundial, considerando a disparidade entre Europa e América do Sul e o trabalho de seis meses contra os então quatro anos de Jürgen Klopp nos Reds.

Não se brinca com essa saudade, esse "sebastianismo". Domènec Torrent, Rogério Ceni e Renato Gaúcho foram esmagados por essa sombra. Quando seus times venciam jogando bem era pela "memória" dos tempos de Jesus. Renato, o último, jogando já com a presença da torcida, teve que ouvir "Mister, Mister" nas arquibancadas.

Braz e Spindel reativaram um vulcão que já queima Paulo Sousa antes de sua chegada. O treinador que tenta se desvencilhar do compromisso com a seleção polonesa para assumir o comando técnico rubro-negro já está com 95% da sua demissão até junho alinhada. Independentemente de sua qualidade profissional. Porque o contexto pesa demais.

Inclusive Sousa pode chegar ao Rio de Janeiro com Jesus desligado do Benfica, por uma eventual nova derrota para o Porto pela liga no dia 30, e sondado por outro clube brasileiro. Se o contrato do "Mister" com o time de Lisboa for cumprido até o final de maio, só um trabalho perfeito até lá salvará Paulo Sousa. Vencendo Carioca, Supercopa do Brasil, liderando com segurança o grupo da Libertadores e iniciando bem o Brasileiro. São os 5% de chances de sucesso. Porque qualquer oscilação será fatal.

É possível dar certo, porque a concorrência de treinadores no Brasil é fraca. Mas a pressão será descomunal. Ainda mais para um profissional que começou a carreira em 2008 e só ostenta títulos na Hungria, Israel e Suíça, mesmo tendo trabalhado na Inglaterra, Itália e França. Aliás, é um dos dois trunfos de Sousa no Flamengo: experiência em países diferentes. O outro é a comissão que trará com seis profissionais, todos ostentando currículos mais robustos que os dos que terminaram o ano trabalhando no Ninho do Urubu.

Parece pouco para o fardo que Braz e Spindel jogaram sobre seus ombros fazendo "pirotecnia" em Portugal e colocando uma doce esperança de Natal no coração rubro-negro que terminou com gosto amargo. Depois de uma temporada frustrante. Combinação explosiva e imprevisível para o 2022 que se aproxima com muitas dúvidas e uma única certeza: o Flamengo fez tudo errado na Europa.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL