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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Maior mérito de Lewandowski é a motivação em uma estrada solitária

Robert Lewandowski recebe prêmio The Best como melhor do mundo da Fifa em 2021 - Reprodução/Twitter
Robert Lewandowski recebe prêmio The Best como melhor do mundo da Fifa em 2021 Imagem: Reprodução/Twitter

Colunista do UOL Esporte

18/01/2022 09h29

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O segundo prêmio "The Best" da FIFA para Robert Lewandowski foi uma grande surpresa, já que imaginava-se a consagração de Lionel Messi, vencedor da Bola de Ouro da "France Football". Até pela maior poder midiático do argentino e o fato de ter, enfim, alcançado uma conquista com a seleção albiceleste.

Também porque os maiores vencedores da temporada europeia 2020/21, o Chelsea na Liga dos Campeões e a Itália na Eurocopa, não apresentaram nenhum grande destaque individual no ataque. Era mesmo difícil imaginar Kanté, Jorginho ou Donnarumma faturando uma premiação que considera muito o "top of mind".

Em termos coletivos, não foi uma grande jornada de Lewandowski. Cumpriu o "protocolo" na Bundesliga com o eneacampeonato do Bayern de Munique e faturou a Supercopa da Alemanha, porém o gigante bávaro desabou na segunda fase da Copa da Alemanha para o minúsculo Holsten Kiel.

Além das fronteiras alemães, caiu nas quartas da Champions para o PSG. Mas o polonês se lesionou a serviço de sua seleção e perdeu os dois confrontos da reedição da final de 2019/20. Marcou apenas cinco gols no torneio continental, um terço da temporada anterior. Na Eurocopa, eliminação da Polônia na fase de grupos, como lanterna contra Suécia, Espanha e Eslováquia. Mesmo indo às redes três vezes no mesmo número de partidas.

Ainda assim, conseguiu marcar 69 gols no mesmo número de jogos em 2021. Os 41 na Bundesliga ajudam a "vitaminar" os números impressionantes. Mas é uma liga moralmente vencida desde a primeira rodada. A cultura de vitória do Bayern é massacrante e praticamente todos os adversários, talvez com exceção do Borussia Dortmund, planejam a liga da segunda colocação para baixo e projetando não mais que três pontos em casa contra o time dominante.

Talvez seja aí que more o grande mérito do camisa nove bávaro. Aos 33 anos, ele consegue se motivar em uma estrada muito solitária. De domínio absoluto na Alemanha e o contraste com a certeza de que pouco conseguirá na seleção polonesa, por mais que se esforce. A Champions torna-se a única competição real com seus verdadeiros pares na Europa.

Mas podendo sofrer interferência das outras duas frentes, justamente porque Lewandowski nunca tira o pé, não se poupa para o mais importante. Ele e o Bayern sofreram na pele em 2020/21, vendo Choupo-Moting comandando o ataque no grande confronto europeu até então.

Messi e Cristiano Ronaldo, até hoje, têm a disputa particular que já está na história e deve ser tema de filme muito em breve. O português roda a Europa em busca de mais competição. Já Messi foi para a França obrigado pelo caos financeiro do Barcelona. Mas mesmo sem o grande rival, sempre teve na Espanha um Real Madrid pesado pela frente. Sem contar o Atlético de Madri de Diego Simeone.

Além disso, os dois defendem seleções com capacidade competitiva para brigar pelas primeiras posições, em seus continentes e também na Copa do Mundo. CR7 ganhou Euro e Liga das Nações, Messi chegou à decisão do Mundial em 2014 e faturou a última Copa América. É mais uma meta palpável em suas carreiras.

Lewandowski sabe que não tem o mesmo tamanho, embora seja um atacante completo. Muitos recursos técnicos, inteligência na movimentação e ocupação dos espaços. Está sempre bem inserido no trabalho coletivo do Bayern.

Mas o que chama atenção são a disciplina e o foco, mesmo com os caminhos quase sempre tão bem definidos. O polonês não precisa entregar 100% para vencer na Alemanha e perder com a seleção. Mas sempre deixa tudo em campo.

Poderia buscar uma Premier League, como fez Cristiano Ronaldo? Sim, mas será que o Bayern permitiria? Será que é o caso deixar um dos maiores times da Europa, sempre candidato a Champions, para uma aventura em reta final de carreira?

Discutível. Assim como é possível questionar os confusos critérios da FIFA na premiação. Mas nunca a capacidade deste artilheiro que impressiona e até comove ao buscar metas em um cenário que mistura sensações como conforto e impotência ao longo da temporada. Eis o maior mérito do bi do "The Best".