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Rocha: Mesmo sem Mundial, "seita" de Abel no Palmeiras seguirá forte
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Em nenhum jogo do Palmeiras a estratégia habitual de Abel Ferreira foi tão adequada quanto na final do Mundial de Clubes em Abu Dhabi.
Rony se juntar à linha de cinco para negar espaços ao ala Hudson-Odoi e deixando Dudu isolado à frente era mesmo a solução para resistir por mais tempo ao Chelsea. Mesmo com o campeão europeu não vivendo o melhor momento e hoje não sendo mais, na prática, o melhor time do continente e, consequentemente, do mundo.
A diferença para os times sul-americanos é técnica, reflexo do abismo financeiro na formação de seleções transnacionais do lado de lá. Mas, principalmente, no nível de competição. Mesmo em uma fase não tão boa, a imposição na intensidade de jogo é clara. Ainda mais para uma equipe que disputa a nata do futebol mundial: Premier League e Liga dos Campeões.
Não fosse o tolo pênalti de Thiago Silva, mais um na carreira praticamente da mesma forma de posicionar o braço na disputa aérea dentro da área, e a final teria sua definição em 90 minutos, com o gol de cabeça de Lukaku. Precisou de outro, um tanto inevitável de Luan pelas novas orientações da FIFA, para decidir, de novo com Havertz, na prorrogação em que o Palmeiras não finalizou na direção da meta de Mendy.
Além do gol de Veiga, duas boas chances nos pés de Dudu em 120 minutos. Concentração defensiva, transição em velocidade, definição rápida dos ataques. Era mesmo o que o Palmeiras poderia oferecer para competir. E competiu como pôde. A campanha foi digna desta vez.
Por isso Abel Ferreira deve seguir forte no Palmeiras. Hoje só sai se quiser. O bicampeonato da Libertadores colocou o treinador português na história do clube. Os títulos, porém, consolidam e respaldam o poder de persuasão do comandante. Uma força impressionante, quase religiosa. Como se fosse líder de uma "seita".
"Eu tenho um plano". É para confiar cegamente e a grande maioria envolvida com o clube realmente acredita sem questionar. Dirigentes, torcida e até a parte da imprensa mais ligada ao clube pelo coração.
A Libertadores é a competição preferida e os jogos decisivos são planejados com antecedência. Nem a eliminação precoce na Copa do Brasil fez o Brasileiro, com semanas cheias para trabalhar, ganhar importância. Até porque é difícil criar o clima de uma disputa épica a cada sábado ou domingo. Trinta e oito rodadas dão trabalho.
Se isso significasse uma imposição absoluta no torneio que prioriza talvez justificasse o planejamento. Mas as classificações e a vitória na final tiveram estratégia, mas também sofrimento. Sem domínio ou controle. Dependendo de pênalti perdido por Hulk no Allianz Parque, chance clara desperdiçada por Vargas e falha de Nathan Silva no Mineirão. Por fim, o chute de Michael para fora e a falha grotesca de Andreas Pereira na disputa derradeira em Montevidéu.
Mas se a taça veio, Abel estava 100% certo. Então é seguir a mobilização: "contra tudo e contra todos", "todos somos um", "cabeça fria, coração quente". Até música com letra repleta de clichês motivacionais fizeram. A estrela é o técnico em um time de operários. Sem grandes craques é mais fácil convencer que a única proposta de jogo possível é a reativa, até contra times mais fracos, como o Al Ahly desfalcado na semifinal.
Outra característica de "seita" é isolar o grupo no cenário. O exterior é o inimigo, são os "antis". Os puros contra os ímpios. Nenhuma crítica ao líder é tolerada. Seus feitos devem ser exaltados como algo transcendental.
Suas limitações encobertas por um discurso de analistas mais próximos que deveriam ser críticos, mas se tornam praticamente ideólogos na defesa incondicional. Então aparece repertório onde não existe e até o erro grosseiro do adversário vira algo "induzido" pelo grande mestre.
Esses reforçarão as teses agora, superestimando a atuação apenas correta contra o Chelsea como uma disputa igual. Não foi e não há como ser, mas em tempos de "pós-verdade" a narrativa é o que vale. E sempre haverá alguém para acreditar.
Pouco antes da cobrança de pênalti de Raphael Veiga, a transmissão mostrou um palmeirense na torcida apontando para a cabeça como se estivesse em transe, repetindo o gesto de Abel. Depois do jogo, o português afirmou que obrigaria seus jogadores a celebrarem o vice-campeonato com cerveja. Certamente todos os que bebem atenderam à ordem.
Porque o Palmeiras está entregue nas mãos desse homem, como não esteve nas de Oswaldo Brandão, Vanderlei Luxemburgo, Felipão ou Cuca. E assim seguirá. E ai daquele que discordar, pois não encontrará o Reino dos Céus.
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