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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Rocha: Tite deve esquecer "brasileiros" e focar meta dos três jogos na Copa

Raphael Veiga, do Palmeiras comemora gol marcado sobre o Flamengo, na final da Libertadores 2021 - Staff Images/Conmebol
Raphael Veiga, do Palmeiras comemora gol marcado sobre o Flamengo, na final da Libertadores 2021 Imagem: Staff Images/Conmebol

Colunista do UOL Esporte

12/03/2022 09h10

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Tite convocou a seleção brasileira para as últimas rodadas das eliminatórias, contra Chile e Bolívia. Apenas dois jogadores atuando no Brasil: Weverton e Guilherme Arana.

De novo, a gritaria. Por convocar Arthur e não Raphael Veiga. Até por não ter chamado nenhum atleta do Flamengo, justo no momento em que as ausências não prejudicariam o time na temporada.

A Copa está chegando e Tite precisa fazer as últimas experiências e dar as oportunidades derradeiras. É parte do processo, muito pelo mérito de ter sobrado nas eliminatórias.

O problema é essa obrigação de seguir cumprindo uma "cota" de jogadores atuando no Brasil em toda convocação. Para a roda do nosso futebol continuar girando e Tite justificar a presença dele e de seus auxiliares em jogos no país. Para gerar algum engajamento dos torcedores, clubistas desde sempre.

Ou alguém acha que a mística sobre a seleção de 1982 até hoje não se explica, principalmente, pela presença de ídolos e ícones de grandes torcidas, como Zico no Flamengo, Sócrates no Corinthians, Falcão no Internacional - embora já jogasse pela Roma na época - e Éder no Atlético Mineiro?

Uma cultura tão forte que se discute convocação de jogadores atuando por aqui mesmo sabendo que eles vão desfalcar seus clubes, muitas vezes em jogos fundamentais na temporada. Veiga é só a bola da vez.

Só que o contexto mudou. Há um abismo de intensidade entre o futebol jogado no Brasil e nos principais centros do planeta. Na maioria das vezes parece outro esporte. E diante da impossibilidade no calendário de enfrentar as principais seleções europeias, o único parâmetro possível de avaliação é observar quem se destaca atuando ao lado e contra os melhores do mundo duas vezes por semana.

Porque, no fundo, todo esse ciclo de quatro anos tem uma meta de três jogos. Um condicionado ao outro. Quartas, semi e final da Copa do Mundo.

É quando o Brasil cruza com fortes seleções da Europa. E tem sucumbido. Em 2006 diante da França de Zidane, quatro anos depois contra a Holanda de Robben e Sneijder, nos 7 a 1 da Alemanha no Mineirão em 2014 e caindo para a Bélgica de Lukaku e De Bruyne na Rússia.

Três eliminações nas quartas, uma na semifinal. Em 2014, justamente porque cruzou com a Colômbia antes, e não contra outra força europeia. Na fase de grupos e nas oitavas a seleção sempre se vira. Mesmo sofrendo, como contra o Chile há oito anos e diante da Costa Rica e do México em 2018.

Para essas três partidas não cabe nenhum "brasileiro" que, na prática, pode se tornar um elo fraco. Não por limitação técnica, mas porque atua em outra rotação. A chance de ficar perdido é imensa.

Uma verdade inconveniente, que Tite não pode escancarar. Porque abalaria toda cadeia produtiva do futebol brasileiro. Como dizia um colega, o nosso jornalismo fala com o torcedor do Flamengo, do Corinthians, do Atlético e não do Real Madrid, do Chelsea ou do Bayern de Munique. É claro que existem torcedores dos gigantes europeus por aqui, mas fazem parte de um nicho que não gera tanta audiência e engajamento.

Tite vai seguir levando pancada. De Casagrande, Galvão Bueno, Neto e outros comunicadores de grande apelo. Porque convoca dois ou três e querem nove ou dez daqui convocados. Já sabendo que, se não ganhar a Copa, será culpado porque não levou, ou levou e não escalou Gabigol, Hulk, Veiga e outros que pouco contribuiriam nesses três jogos decisivos.

É um dos ônus no sonho de seis anos do treinador da seleção. Será que ele já está com saudades ou louco para terminar logo?