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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Ainda sentiremos saudades da "moleza" nas eliminatórias com Tite

O técnico Tite reage durante jogo da seleção brasileira contra o Chile pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, no Maracanã. 24/03/2022 - Buda Mendes/Getty Images
O técnico Tite reage durante jogo da seleção brasileira contra o Chile pelas Eliminatórias da Copa do Mundo, no Maracanã. 24/03/2022 Imagem: Buda Mendes/Getty Images

Colunista do UOL Esporte

30/03/2022 06h56

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29 jogos. 24 vitórias, cinco empates. 70 gols marcados, oito sofridos.

A seleção brasileira terminou na liderança das eliminatórias para as Copas de 2006 e 2010, mas sem sobrar tanto. Sofreu na campanha que precedeu o último título mundial, em 2002. E teve algum trabalho para se classificar na fórmula anterior, de grupos, sempre que tinha que cruzar com Paraguai ou Uruguai.

A trajetória com Tite, desde 2016, é simplesmente avassaladora. Sucedeu Dunga com o Brasil fora da zona de classificação e varreu a concorrência. A Argentina com Messi e Di María, o Uruguai com Suárez e Cavani, a maior geração da história do Chile, o Peru competitivo com Ricardo Gareca, O Paraguai sempre "chato", embora decadente. Equador, Colômbia e Venezuela bem longe da "carne assada" que eram nos anos 1970/1980, por exemplo.

Há críticas ao trabalho? Várias. E todo treinador da seleção será questionado por dois ou três nomes escolhidos por confiança, preterindo dois ou três com bom desempenho em seus clubes. No caso brasileiro, aceitar ser subordinado a CBF sempre será motivo de narizes torcidos, inclusive por desfalcar os times daqui nas datas FIFA.

A comunicação de Tite também é pouco amigável, com termos rebuscados, apelando a um tecnicismo desnecessário em coletivas. Poderia ser mais simples e direto. Mas mesmo que fosse daríamos um jeito de contestar. Afinal, o técnico da seleção é a cara do poder constituído no futebol brasileiro. Colocando o filho para trabalhar com ele, sem uma experiência anterior que justifique o alto cargo então...

Mas ninguém pode negar que Tite e sua comissão técnica trabalharam. Acompanhando tudo sobre 40, 50 jogadores em seus clubes. Viajando quando possível para ver in loco. Estudando adversários e buscando evolução quando se deparou com a linha de cinco inglesa em Wembley no final de 2017. Tentou acrescentar elementos do ataque posicional, errou, oscilou...Mas não pode ser acusado de preguiça ou acomodação.

Agora vai ao Mundial em um momento de ascensão, com a humildade de reconhecer que o time olímpico e "emergentes" como Raphinha e Vinícius Júnior oxigenaram e deram criatividade a uma equipe que dava sinais de estagnação na perda da Copa América para a Argentina. Havia uma base sólida e competitiva e jovens como Antony, Bruno Guimarães, Martinelli... entram como o "molho" e a combinação vai dando liga.

Falta o teste contra uma grande seleção europeia para uma melhor avaliação da capacidade de ser forte na reta final do Mundial. Mas, sem alarde, vai incluindo quem se destaca nas principais ligas do planeta e preterindo os que atuam no Brasil. É bem provável que apenas Weverton e, talvez, Arana estejam entre os 23 da lista final.

Na Copa, tudo pode acontecer. Desde uma trajetória penosa, já com "grupo da morte" na primeira fase, até algo parecido com 2002, com favoritos ficando pelo caminho em um Mundial suis generis, incluindo arbitragens para lá de suspeitas.

Mas o ciclo completo só terá sucesso se levantar a taça. É o único parâmetro para o brasileiro. Não importa se, no caminho, houver a primeira derrota em eliminatórias, como em 1993 para a Bolívia, ou ser humilhado por Honduras na Copa América 2001. Sobrará apenas a imagem do capitão levantando a taça. O que aconteceu antes entra para a "saga da conquista".

Tite foi disparado o mais competente no mais próximo dos pontos corridos que a seleção brasileira pode disputar. Ida e volta contra as outras seleções do continente. E sobrou como nenhum outro na história. Como caiu para a Bélgica em 2018, as vitórias na América do Sul são tratadas como nada.

Mas a desgraça que antecedeu a chegada de Tite mostra que sem competência não há imposição. E o futuro sem ele ainda é um ponto de interrogação. Pode ser um estrangeiro ou Cuca, o brasileiro em alta no momento, como já foi Renato Gaúcho. Como será?

Se algo der errado, sentiremos saudades da "moleza" nas eliminatórias dos últimos cinco anos e meio.