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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Cuca volta ao Galo para ser algoz do Palmeiras ou repetir fracasso de 2017?

Desafio do Cuca é segurar a ansiedade dos jogadores do Atlético-MG - Pedro Souza/Atlético
Desafio do Cuca é segurar a ansiedade dos jogadores do Atlético-MG Imagem: Pedro Souza/Atlético

Colunista do UOL Esporte

23/07/2022 08h56

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Cuca está de volta ao Atlético Mineiro. Pacote completo: o treinador que quase sempre monta times competitivos, a personalidade complicada que mantém o clube mobilizado na base da pressão e desgasta relações pessoais ao longo do tempo, além daquela mancha indelével, sem ser "prisão perpétua", pelo que fez na Suíça nos anos 1980 e nunca sequer se desculpou de fato.

Assim como no Palmeiras em 2016, saiu pensando só em si e deixou o clube no mão. Direito dele, ainda mais no país em que clubes demitem técnicos por nada, justamente por contratá-los sem convicção alguma. É inegável, porém, que se transforma em um profissional nada confiável para projetos de médio e longo prazo.

Mas o fato é que o Galo precisava dessa mudança. Com o "Turco" Mohamed não dava mais. Ganhou sobrevida com as vitórias sobre o Flamengo no Mineirão, quando a mobilização para enfrentar o maior rival nacional e a crise do outro lado ajudaram.

Mas a eliminação da Copa do Brasil que poderia ter vindo com uma sacola de gols rubro-negros minou de vez o trabalho do argentino. A lamentável atuação em Cuiabá, já com três contratados em campo, foi o ato final de um trabalho ruim, mas que ao menos rendeu os títulos mineiro e da Supercopa do Brasil.

A grande questão agora é se haverá tempo para uma recuperação que transforme um elenco forte, porém combalido na confiança, no grande algoz do Palmeiras, melhor time do país em 2022. No Brasileiro e nas quartas da Libertadores.

São quatro pontos na principal competição nacional, com o encontro do returno no Mineirão, e o confronto direto, ida em Belo Horizonte e volta no Allianz Parque pelas quartas do torneio continental. Um pode interferir no outro.

Se o Galo seguir na Libertadores, Abel Ferreira terá apenas a competição por pontos corridos para se dedicar. Mas talvez com a confiança abalada, abrindo espaço para uma arrancada do próprio Atlético, que com Cuca soube administrar bem três competições e, quando ficou só em duas ao ser eliminado pelo time de Abel, atropelou e levou as taças para casa.

É possível, pela qualidade do elenco e a renovação das esperanças que o "sebastianismo" do retorno provoca. E Cuca é bom treinador para o nível de futebol jogado no Brasil, indubitavelmente.

Mas pode fracassar também. Como aconteceu no Palmeiras em 2017, com cenário parecido. Largou o clube sem técnico depois de ser campeão, voltou nos braços da torcida meses depois para comandar um grupo sem Gabriel Jesus, vendido ao Manchester City, mas reforçado, incluindo Borja e Guerra, destaques do então campeão sul-americano Atlético de Medellín;

Um desastre, também pela dificuldade de fazer a gestão de vestiário depois de virar as costas. Saiu para que o auxiliar Alberto Valentim tentasse uma arrancada que não evitou o título brasileiro do rival Corinthians. E a temporada foi uma das duas únicas, junto com 2019, em que o clube paulista saiu com as mãos abanando, sem taças, desde 2015.

Eis a grande dúvida que Cuca traz para duelar com o clube em que foi feliz há seis anos. Incógnita que ele mesmo criou ao pensar apenas em si, inventar desculpas esfarrapadas para abandonar o barco e depois voltar como se nada tivesse acontecido. Dará certo dessa vez?