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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Dinizismo não merece seleção nem perseguição, mas precisa de ajustes

Fernando Diniz observa jogadores durante Fluminense x Coritiba, jogo do Campeonato Brasileiro - Thiago Ribeiro/AGIF
Fernando Diniz observa jogadores durante Fluminense x Coritiba, jogo do Campeonato Brasileiro Imagem: Thiago Ribeiro/AGIF

Colunista do UOL Esporte

16/09/2022 08h19

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Fernando Diniz é um nome que costuma despertar reações extremadas no futebol brasileiro.

Muitos acham que não seria absurdo um jovem treinador sem títulos relevantes ou nome de peso como jogador, comandar a seleção brasileira após o ciclo de Tite. Outros o tratam quase como um impostor, sem nível sequer para comandar uma equipe de Série A no país.

Este que escreve não é fã, nem hater. Também não é isentão. Digamos que o time dele é legal de ver, mas difícil de torcer.

Uma análise descarnando a paixão, porém, pode revelar aspectos interessantes da linha de trabalho, mas que precisam de ajustes para se adequar à realidade brasileira.

Alguns aspectos do modelo de jogo têm como consequência um desgaste físico e mental a longo prazo. Não pode ser coincidência que seus melhores trabalhos tenham definhado com a sequência da temporada.

A "saidinha" não é exatamente um problema por causa dos erros. É possível levar gol também por causa de uma ligação direta mal feita que é rebatida e pega a defesa e o goleiro mal posicionados, como no primeiro gol do Corinthians nos 3 a 0 sobre o Fluminense que colocaram o time paulista na final da Copa do Brasil.

Valorização da posse é uma discussão estéril e ultrapassada. Todo mundo já sabe que ficar 60% do tempo com a bola não significa nada, o que vale é o que se faz nesse período para chegar à meta adversária.

O problema é a extensão do campo que meio-campistas precisam cobrir ao recuar tantas vezes até a própria área para auxiliar na construção e ter que chegar na zona de conclusão para não isolar os atacantes.

Colocar os dois pontas no mesmo lado do campo para criar superioridade numérica no setor da bola é uma ideia interessante. Não exatamente inédita no Brasil, já que o Corinthians de Tite em 2015 tinha Jadson saindo da direita para se juntar a Guilherme Arana, Malcom e Renato Augusto do lado oposto para tabelar e triangular.

Mas imagine que esse ponta, sempre que o time não recuperar a bola rapidamente na pressão pós-perda, terá que cruzar o campo para voltar ao seu setor na fase defensiva. Ou que o lateral que ficou bem avançado do lado oposto para receber uma possível inversão, também terá que correr rápido e por muitos metros para não levar uma bola nas costas.

Tudo isso requer sintonia, entrosamento. E para isso, Fernando Diniz insiste em uma formação titular. A mesma em duas ou três competições, se assim for necessário. E o treinador cobra muito à beira do campo. Principalmente para que se execute o que foi treinado, independentemente do contexto da partida.

Não há corpo e mente, dentro do calendário brasileiro, que aguentem essa maratona.

Caso Diniz não queira ceder um centímetro em sua ideia de jogo, nem no nível de cobrança, que tal rodar mais o elenco? Ou formar duas equipes, já que o entrosamento é tão essencial?

Nada a ver com o Flamengo de Dorival Júnior, que arma dois times por outras demandas - problemas físicos desde o ano passado e um vestiário mais "sensível", que precisa ter todos jogando para evitar melindres.

Apenas uma ideia para que os mesmos não estejam em campo todo jogo para correrem além da conta e serem pressionados pelo chefe obsessivamente.

É possível evoluir e se adaptar, sem se curvar ou perder a essência. E, dentro da realidade brasileira, Diniz precisa de um título relevante. Senão entrará em um ciclo ruim na carreira: não vence porque comanda elencos fracos. Ou comanda elencos fracos porque não tem currículo.

O Dinizismo não merece seleção, nem perseguição. Mas pode mudar para melhor.