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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Milagre do goleiro argentino pode empurrar CBF para uma aventura perigosa

Emiliano Martínez, da Argentina, brincou ao receber troféu de melhor goleiro da Copa do Mundo - Kai Pfaffenbach/Reuters
Emiliano Martínez, da Argentina, brincou ao receber troféu de melhor goleiro da Copa do Mundo Imagem: Kai Pfaffenbach/Reuters

Colunista do UOL Esporte

21/12/2022 09h47

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A final da Copa do Mundo no Qatar entre França x Argentina foi a maior e mais eletrizante que este colunista assistiu ao vivo. E por todas as imagens disponíveis das anteriores, talvez tenha sido também a de todos os tempos.

Além dos seis gols e dos pênaltis, que já dariam uma edição de melhores momentos de um bom tamanho, um lance sem bola na rede acabou se destacando mais do que os outros em 120 minutos repletos de oportunidades claras.

Aos 18 minutos do segundo tempo da prorrogação, Kolo Muani apareceu livre diante do goleiro Emiliano Martínez. Finalização forte, assertiva, com endereço certo. Mas o arqueiro teve arrojo e muita sorte para que a bola encontrasse sua coxa. Ninguém calcula uma intervenção como aquela. Teve mérito, porém enorme felicidade.

Sem dúvida, uma das maiores defesas da história das Copas. Talvez a mais importante, pelo contexto.

É natural que ao ver e rever o lance as atenções estejam em Muani, Martínez e a bola. Mas se olharmos o entorno veremos uma Argentina totalmente desorganizada, em uma decisão que chegou a abrir 2 a 0, depois 3 a 2. Com mais substituições durante a prorrogação que o adversário.

O mais provável era o quarto gol francês e sem muito tempo e força para a reação. França 4 a 3, de virada. Seria também a maior reviravolta em uma final de Mundial. Martínez impediu.

Em caso de derrota argentina, qual seria a narrativa dessa decisão? Uma "pipocada" histórica, no mínimo. Nem Messi escaparia.

Muito menos Lionel Scaloni. Todos os méritos apontados agora, como a capacidade de alterar o time conforme o adversário, seriam soterrados pelas críticas mais resultadistas, oportunistas e covardes. O sufoco no final contra a Austrália, com empate também salvo por Martínez, o empate cedido para o Holanda nos minutos derradeiros do tempo normal, e com um gol "varzeano" também, seriam resgatados como "avisos".

O goleiro salvou, foi protagonista nos pênaltis e o tricampeonato veio para consagrar Messi e também Scaloni. O auxiliar que acabou ficando, cresceu com o título da Copa América no Brasil que nem deveria ter sido disputada em 2021 e agora campeão do mundo. Venceu e virou referência.

Em cima desse título, as vozes que defendem Fernando Diniz na seleção brasileira ganharam força e eco. Afinal, Scaloni não tinha nenhuma experiência, muito menos conquistas em clubes. Se ele pode, por que não Diniz?

E realmente a impressão que passa é que qualquer um pode comandar a seleção. Se a única meta possível e o único parâmetro de avaliação é o título mundial, tanto fez se o treinador é Ancelotti, Guardiola, Jorge Jesus, Abel Ferreira ou Fernando Diniz. Nenhum deles é garantia absoluta do hexa.

Mas não parece o momento. Nem para a CBF, nem para Diniz, muito menos para o Fluminense, que planeja 2022 pensando na manutenção da comissão técnica. Pode, inclusive, afundar a carreira de um técnico promissor.

Por mais incrível que possa parecer, o "milagre" de Martínez corre o risco de empurrar a CBF para uma aventura perigosa. Será mais uma vitória argentina?