Topo

André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Pelé: o maior ciclo do futebol se fecha e precisa ser respeitado como tal

Pele is lifted up by his Santos team mates after scoring the 1,000th goal of his career during a game against Vasco da Gama at the Maracana Stadium, Rio de Janeiro, Brazil, 19th November 1969. (Photo by Pictorial Parade/Archive Photos/Getty Images) - Pictorial Parade
Pele is lifted up by his Santos team mates after scoring the 1,000th goal of his career during a game against Vasco da Gama at the Maracana Stadium, Rio de Janeiro, Brazil, 19th November 1969. (Photo by Pictorial Parade/Archive Photos/Getty Images) Imagem: Pictorial Parade

Colunista do UOL Esporte

29/12/2022 16h55

Receba os novos posts desta coluna no seu e-mail

Email inválido

17 anos. Jogou quatro partidas na Copa do Mundo de 1958. Marcou seis gols. O única da vitória nas quartas, mais três na semifinal e dois na final. Dois antológicos, o primeiro contra Gales e o penúltimo, o primeiro da grande decisão. Contra a Suécia, dona da casa.

Com isso colocou seu país de vez no mapa do futebol e cumpriu a promessa feita ao seu pai quando o viu chorando em 1950 pelo Maracanazo.

Quanto valeria Pelé hoje?

Provavelmente seria descoberto antes do Mundial, ainda marcando gols em Santos. Ou Bauru. Talvez o scout de um clube europeu o descobrisse ainda no berço, em Três Corações.

O maior ciclo da história do futebol se fecha e precisa ser respeitado como tal.

Sem eurocentrismo. Pelé não jogou no Velho Continente porque não quis, nem era preciso. Na verdade seria um empecilho para servir à seleção fora do período de Copa do Mundo.

Era assim na época. O contexto, cada vez mais importante, justamente por ser esquecido tantas vezes. O mundo não começou com a internet, ou a TV a cores.

Pelé tem muitos gols em amistosos porque o calendário não era como hoje. Não havia receitas de TV, marketing, etc. Era cota de amistoso, bilheteria e mensalidade de sócio, sem programa específico para isso. Só.

Na Copa em que estava mais preparado para brilhar, e o fez pelo Santos atropelando o campeão europeu Benfica no Mundial de Clubes, uma lesão o tirou do torneio. Mas procure o gol contra o México, único dele no Chile em 1962. Ele ATROPELA os adversários, na técnica e no físico.

Isso era o Pelé. O atleta do século combinado com o melhor e mais inovador jogador da história do esporte. Agora pululam vídeos mostrando que o que Zidane, Maradona, Messi, Fenòmeno, Ronaldinho, Cristiano Ronaldo, Cruyff e outros faziam ou ainda fazem ele já inventava, dava seu jeito nos anos 1950/60. Com uniforme encharcado de lama ou suor e bola pesada em gramados impraticáveis.

Ao invés de pensar que os marcadores eram mais ingênuos e o futebol mais lento e menos físico, tente imaginar Pelé com os recursos de hoje.

Seria o que foi, é e sempre será: Rei. O maior e melhor. O mais transformador. O verdadeiro divisor de águas entre recreação e esporte de alto rendimento no mais apaixonante deles. O Atleta do Século XX.

Então respeite, não só agora que ele não está mais entre nós. Com a pele, os ossos e os músculos que era difícil acreditar que tinha do mesmo material que nós. Mas seguirá reinando.

A primeira vez que este colunista ouviu falar em Pelé foi quando a mãe contou que o irmão, nascido em 1969, aprendeu a falar "mãe", "pai", coisas básicas como "xixi" e "papá" e a primeira "subjetividade" que saiu de sua boca do nenê foi "gopeié", que seria "Gol do Pelé!". Na sua grande Copa, a de 1970. A despedida inigualável.

Ele era isso. Gigante no futebol até em pequenas coisas. Vá em paz, Pelé!