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André Rocha

OPINIÃO

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

Os racistas precisam temer a lei como temem o futebol de Vini Jr

Vini Jr. dança após marcar pelo Real Madrid em partida contra o Atlético de Madri na Copa do Rei - Oscar J. Barroso/Europa Press via Getty Images
Vini Jr. dança após marcar pelo Real Madrid em partida contra o Atlético de Madri na Copa do Rei Imagem: Oscar J. Barroso/Europa Press via Getty Images

Colunista do UOL Esporte

27/01/2023 07h48

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Rodrygo tem a pele preta. Marcou um gol de Pelé e evitou a derrota para o Atlético de Madri, que abriu o placar com Morata, no Santiago Bernabéu pelas quartas da Copa do Rei.

Levou a disputa para a prorrogação e Benzema marcou o gol que seria o da vitória do Real Madrid se não fosse o golpe final de Vinicius Júnior, arrancando contra a defesa exausta que perdeu Savic na prorrogação, decretando os 3 a 1.

Um golpe duro, especialmente para os Ultra que colocaram uma faixa próxima ao CT dos merengues declarando ódio ao rival e pendurando um boneco de Vinicius Júnior simulando enforcamento. Uma imagem perturbadora que fez lembrar Gilead, a república distópica de "O Conto da Aia".

Por que Vinicius e não Benzema, um francês de origem argelina que sempre pode ser alvo de xenofobia na Europa?

Porque é preto, brasileiro, de origem humilde, e marcou o gol do título da última Liga dos Campeões. Ou seja, é racismo. Ponto.

Precisa ser punido com rigor. Ou vão esperar alguém atentar de fato contra a vida do jovem atacante do Real Madrid? Sem notas de repúdio, advertências ou falas hipócritas de dirigentes.

Mais que a cultura da violência, impressiona a cultura da autoridade sobre os corpos.

Vale também para Daniel Alves, outrora alvo de racismo na Espanha, mas agora preso preventivamente por acusação de estupro. Apenas pelos relatos, inclusive do próprio jogador, já chama a atenção a audácia de definir que um corpo deve estar à sua disposição. Em um camarote de boate, depois em um banheiro. Independentemente da sentença, já é absurdo e repugnante.

Vinicius Júnior tem ao menos o privilégio de ser homem e agora rico. Mas continua fazendo parte de uma minoria social e correndo riscos. Porque um desses criminosos pode achar que tem autoridade sobre o seu corpo para exterminá-lo.

Os racistas precisam temer a lei como temem o futebol de Vini Jr.

Errata: este conteúdo foi atualizado
Diferentemente do que foi publicado no texto, Savic foi expulso na prorrogação, e não no tempo normal. O erro foi corrigido.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL