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Futebol e política

Urna eletrônica que será utilizada nas eleições - Alan Marques/Folhapress
Urna eletrônica que será utilizada nas eleições Imagem: Alan Marques/Folhapress

Colunista do UOL

22/10/2020 21h03

As eleições no Brasil, mesmo sendo obrigatória para maiores de 18 anos, nunca foi de real interesse da população. Na verdade, foram dois momentos em que se viu tamanho envolvimento.

A primeira vez foi nas Diretas Já e, agora, com o acesso às redes sociais, o que auxilia para obtermos informações sobre os candidatos e suas plataformas.

Desta forma, observamos uma segunda onda de interação e debates até entre os mais descrentes. Em momentos como estes devemos aproveitar para nos instruir, desenvolver nosso pensamento crítico e parar de aceitar opiniões impostas a nós.

Falar sobre política é muito diferente de falar de partido político, candidato X ou Y. A política está no nosso dia a dia, em ações que influenciam diretamente nossas vidas, principalmente nas eleições municipais, que causam ainda mais reflexos diretos no nosso cotidiano.

É na cidade que as políticas públicas que mais impactam na vida dos cidadãos são aplicadas. É o prefeito que define, por exemplo, onde serão aplicadas as verbas e impostos repassados pela União e pelo Estado, garantindo assim o bem-estar dos habitantes. Organizar os serviços públicos de interesse local também são funções do prefeito e compete aos vereadores analisarem e votarem as propostas orçamentárias que o prefeito sugeriu, entre tantas outras funções.

Urnas eletrônicas usadas na eleição de 2018 - Rodolfo Buhrer/Reuters - Rodolfo Buhrer/Reuters
Urnas eletrônicas usadas na eleição de 2018
Imagem: Rodolfo Buhrer/Reuters

O jogador de futebol não tem obrigação de se posicionar politicamente, e muitas vezes não o faz para evitar ainda mais críticas. A maioria dos jogadores não possui uma base nem argumentos para um debate político mais profundo. Não entende como a política funciona, o que impede um posicionamento convicto ou mais apurado. Isso se deve muito ao desinteresse popular, que de certa forma é estimulado pelos próprios governantes a fim de manipular e usar a população como massa de manobra.

Nós crescemos ouvindo que ser político é ruim, é ser desonesto, enquanto os políticos faziam fortuna e o bastão é constantemente passado de pai para filho, de filho para neto...

Hoje em dia, o país está dividido entre esquerda e direita, e para o atleta que resolve se posicionar, a chance de ser cancelado (gíria da internet para boicote) é muito grande e pode custar sua carreira.

Visto que os jogadores que recebem altos salários e os mais bem preparados financeiramente são pouquíssimos, se comparado à realidade de mais de 80% dos atletas. Este é um fator relevante para o não posicionamento em questões políticas e outros pontos extracampo.

Para se ter uma ideia, apenas 0,28% dos jogadores ganha acima de R$ 100 mil. A grande maioria, aproximadamente 82%, recebe até R$ 1 mil, enquanto 13% têm salários entre R$ 1 mil e R$ 5 mil mensais. Essa é a realidade do futebol brasileiro.

Porém, com a influência que jogadores exercem sobre a população, se torna necessário o debate político, não só sobre partidos e candidatos, mas sobre a importância de eleger nossos governantes, de conhecer as propostas, os planos de governo para a cidade. Este é o ponto crucial do momento: encontrar candidatos que beneficiem e impactem na realidade na cidade onde você vive.

O cidadão que mora em uma comunidade não pode olhar para um candidato com propostas elitistas e achar que aquilo servirá para a realidade dele.
Então, nestas eleições, espero que os atletas passem a se preocupar mais com as questões fora de campo e façam bom uso da sua grande influência. Se estes jogadores conseguem influenciar pais a comprarem chuteiras que custam mais de um salário mínimo -- algumas em torno de R$ 2 mil --, eles podem usar este prestígio para incentivar seus seguidores a se interessarem pela política de sua cidade.

Assim, todos estarão envolvidos em ações que realmente podem transformar a vida da maioria das pessoas com um gesto simples, que é o voto consciente.

*Com colaboração de Augusto Zaupa