Seleção feminina luta, mas está fora da Olimpíada pela 1ª vez desde 1992
Acabou o sonho da seleção brasileira feminina. O time do técnico José Neto se esforçou, tentou, lutou, correu, fez o seu melhor jogo na competição, mas não resistiu a uma superior Austrália e perdeu, no Pré-Olímpico de Bourges, por 86-72 (39-33 no intervalo), fechando a sua participação com nenhuma vitória e três derrotas (também para França por 89-72 e Porto Rico, por 91-89). Com isso, francesas, australianas e porto-riquenhas avançam às Olimpíadas de Tóquio e o Brasil está fora dos Jogos no lado das meninas pela primeira vez desde 1992, quando desde Barcelona participou de todas as edições. A última ausência foi em Seul, 1988, quando a equipe também não passou do Pré-Olímpico.
O jogo começou e ficou clara a estratégia do técnico José Neto - forçar o jogo em cima da gigante Liz Cambage (2,03m), melhor jogadora australiana. Deu certo rapidamente, quando Érika conseguiu forçar uma falta da pivô rival, mas não por muito tempo. Inteligente, Cambage começou a rodar a bola e ver suas companheiras anotarem pontos com constância, fechando o primeiro período com 21-18. O segundo período começou e o panorama não mudou muito. O ataque travou, ficou 5 minutos sem pontuar e as adversárias foram abrindo diferença, que chegou a 30-20 com 4 minutos por jogar. No intervalo, 39-33 para a Austrália. Naquela altura, Liz Cambage tinha 13 pontos e 3 rebotes. Pelo Brasil, Tainá com 12 liderava as estatísticas.
Com 15 pontos de Damiris, que entrou no jogo definitivamente, o Brasil jogou muita bola no terceiro período, teve Debora e Tainá inspiradas, fez 27-22, deixou as australianas totalmente sem ação e foi para os dez minutos finais perdendo de apenas 61-60. O começo do quarto período foi horrível para a seleção brasileira, que ficou de novo quatro minutos sem pontuar, viu as rivais abrirem a sequência com 11-0 e tentou desesperadamente se recuperar com arremessos de Tainá e Patty, mas sem sucesso no final das contas. O placar marcou 86-72 para a Austrália, que se classificou, eliminou o Brasil e também garantiu Porto Rico nos Jogos de Tóquio. Craque, Liz Cambage foi a melhor em quadra com 29 pontos.
É uma pena, realmente uma pena, hoje é um dia triste para o basquete brasileiro, mas quem acompanha este blog e segue o esporte feminino com um mínimo de senso crítico sabe que o cenário não é bom no basquete das meninas no mínimo desde 2008, quando os anos de desmando da Confederação Brasileira e sua falta de organização atroz começaram a se fazer sentir. Seria equivocado, também, não falar de uma gigante falta de planejamento da atual gestão também, que não mostra nenhuma estratégia para fazer renascer o lado feminino. O conformismo por parte das atletas, por fim, também merece ser citado como um dos fatores gritantes da tragédia que é o basquete feminino nacional nos últimos anos (pra elas está sempre tudo bem, tudo ótimo, tudo tranquilo, tudo numa boa, tudo suave).
O reflexo disso tudo se vê na quadra (a bola não entra por acaso e como em tudo na vida resultados esportivos são consequência de eficiência na gestão). Desde a Olimpíada de Pequim, há 11 anos, os fracassos são retumbantes. Abaixo estão alguns exemplos de como nos grandes palcos (Olimpíadas e Mundiais) o time feminino tem pagado micos com constância, mas não custa dizer que em 2018 não houve participação no Mundial devido a eliminação na Copa América para... PORTO RICO, mesmo time que venceu a equipe de José Neto na quinta-feira - e muita gente achou a maior das surpresas.
OLIMPÍADAS
--> Pequim/2008: 1-4 (penúltimo lugar, eliminado na primeira fase)
--> Londres/2012: 1-4 (antepenúltimo lugar, eliminado na primeira fase)
--> Rio/2016: 0-5 (último lugar, eliminado na primeira fase)
--> Tóquio/2020: Fora
MUNDIAIS
--> República Tcheca/2010: 4-4 (nona colocação)
--> Turquia/2014: 1-3 (eliminação na primeira fase)
--> Espanha/2018: Não participou
Em breve farei uma análise mais profunda sobre a situação do basquete feminino. No momento, só lamentação, mas não surpresa. A modalidade está pagando, e vai continuar pagando por um longo tempo, um preço altíssimo pela falta de planejamento, organização, renovação e gestão. Enquanto não houve realmente um planejamento estratégico para renascer alguém que está moribundo há mais de uma década nada de bom acontecerá.
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