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Bala na Cesta

Fim de uma jornada. Muito obrigado.

Obrigado - Arquivo pessoal
Obrigado Imagem: Arquivo pessoal

30/04/2020 00h02

Tudo que começa um dia termina. O meu ciclo com o Bala na Cesta se iniciou em 21 de setembro de 2008 e hoje, 30 de abril de 2020, chega ao fim. Por opção, por exaustão, por falta de motivação, por não querer seguir com algo que sempre me deu um prazer danado apenas pelo lado financeiro e também por ausência (no caso aqui, com a minha família).

Foram mais de 10 anos de uma rotina louca que envolvia um trabalho (nunca vivi, e nunca viverei, do basquete - também por opção) e um blog que cresceu muito mais do que poderia supor com uma renúncia de amigos, família e lazer que consegui conviver legal por, sei lá, 7, 8 anos. Eu não sei exatamente o motivo de ter dado tão certo (pros meus padrões, claro), mas acho que a empreitada foi bacana e me orgulho dela.

A audiência cresceu, as redes sociais bombaram, o reconhecimento foi lindo. Consegui me equilibrar graças a uma rotina obsessiva de organização, auto-cobrança (e me cobro absurdos!), planejamento, responsabilidade e um comprometimento que achei que não tinha. Tudo isso por um amor gigantesco que tenho, e sempre terei, pelo basquete. Acordava com o celular na mão, escrevia indo pro trabalho (andando no meio da rua), usava horas de almoço para apurar, escrevia quatro textos em uma noite para adiantar a semana, fazia cinco posts pro mesmo dia, uma loucura só.

Tentei ser o melhor mesmo com uma limitação (tempo) gigante. Foram dez anos ouvindo "larga esse celular e presta atenção na conversa" e "você é maluco de continuar com isso". Mas eu segui. Insisti, persisti, teimei e fui feliz. Não me arrependo. Lutei, conquistei, dei com a cara na parede, vibrei. Só que a conta chega pra todos, né?

Nos últimos dois anos, porém, comecei a sentir muita falta de algumas coisas "normais", muito cansaço e me vi ausente. Minha motivação pra agitar o basquete, apurar e destrinchar dados diminuiu muito. Olhava tudo e achava um porre. E, vejam que surpresa, passei a sentir falta de ver uma série sem o celular do lado, sair com os amigos, conversar com minha esposa com calma, ler e ficar com meus filhos sem ter que me preocupar se houve um triplo-duplo ou uma cesta no último segundo.

Antes era só um (eu mesmo), e era fácil escrever e viver uma vida "normal". Depois éramos dois e deu pra conciliar (graças a Dona Bala, a mais compreensiva das esposas). Com quatro ficou impossível e na ordem de importância o basquete ficou lá longe. Sempre fui feliz com o blog mas a minha grande felicidade, mesmo, mora em coisas que não estava conseguindo dar conta (como era possível prever quando um mero hobby se tornou algo carnal e quando as demandas profissionais e pessoais cresceram). Orçamento a gente ajusta, adapta. Estar com seus filhos, não.

Por isso nos últimos meses eu olhava a tela do computador e não sabia como escrever. O que escrever. Pra quem escrever. Faltavam motivação, propósito, tempo e sobretudo uma missão bacana pra eu crer e seguir. Tinha, também, um livro pra terminar, mas era difícil escrever duas linhas. Não saía nada de muito útil. O dia a dia no basquete me irritava mais do que me alegrava. E aí o correto é pensar, refletir, receber um empurrão, às vezes de onde você menos espera, e parar.

Comecei pra tentar fazer algo diferente e acho que consegui. Não queria fazer amigo, levar tapinha nas costas e receber palavras de amor em redes sociais. Isso nunca foi comigo e tenho horror a quem, como jornalista, faz isso. É um desrespeito a profissão e um desrespeito ao basquete (e eu sempre respeitei ambos). Sempre quis fazer jornalismo independente, crítico e sem o ar contemplativo que a gente conhece por aí. Errei muito, mas acho que o saldo é positivo e por isso me despeço com a sensação do dever bem cumprido. Comprei brigas, desnudei muita gente, mostrei realmente as vísceras do basquete brasileiro praticamente sozinho (isso me desgastou muito e fechou muitas portas, vocês devem imaginar), lancei luz sobre balanços financeiros, cobri grandes eventos, fiquei próximo e respeitado pelos meus ídolos (grande prêmio!), entrevistei muita gente e escrevi quase 10 mil textos.

Agradeço ao UOL pela liberdade e pelo apoio incondicional (Murilo, Vinicius e Dani principalmente), ao Pedro Rodrigues, que surgiu com a ideia do Podcast e se tornou um amigo incrível, à minha família, que foi mais do que compreensiva ao longo deste tempo, aos técnicos, dirigentes e jogadores de basquete que (quase) sempre me atenderam muito bem e sobretudo aos leitores, que entenderam o que estava fazendo por aqui e (quase sempre) compraram o barulho comigo, algo raríssimo e que me deu um prazer danado. Sei que tem muita gente que gosta de mim e agradeço de verdade pelo carinho, pelas palavras de conforto em momentos difíceis e por doses diárias de "não para, Bala" mostrando uma importância que sei que não tenho.

Nunca diga nunca, mas é improvável que eu volte. Amo basquete, amo o jogo, certamente estarei acompanhando de longe porque é o esporte mais incrível que há, mas é hora de experimentar novas fontes, beber novas águas e ser um pai e um marido melhor enquanto é tempo. Um dia os Balinhas lerão este texto e entenderão tudo.

Muito obrigado,
Bala