Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.
Caso Cuca: o mundo evoluiu nos últimos 36 anos, e o jornalismo também
Onde estava o jornalismo investigativo esportivo nos últimos 36 anos? A resposta é tão fácil quanto procurar hoje os vários jornais da época sobre a condenação por estupro cometido por Cuca no fim da década de 80: era feito por homens para homens e estava estagnado lado a lado da nossa sociedade atrasada, machista e patriarcal.
O jornalista não é um ser supremo, acima do bem e do mal, tampouco um super-herói de caneta e bloquinho nas mãos. Sobretudo no passado, tinha os mesmos defeitos e preconceitos como qualquer outro cidadão ou profissional. A cobertura da imprensa brasileira do caso de 1987 na Suíça é prova disso.
O mundo evoluiu, mas nem tanto. Ainda dividimos espaço com paladinos de uma justiça que só convém para um lado. Aqueles que questionam o "por que a verdade surgiu agora?", ao invés de destacarem o "ainda bem que a verdade apareceu agora". Provavelmente os mesmos que pensam "por que a menina estuprada saiu de casa com uma saia curta?".
Do que importa se os detalhes sórdidos da condenação de Cuca em 1989 foram expostos há 20 anos, dez anos, na semana passada ou hoje? Ou quando ele estava no São Paulo, Flamengo, Palmeiras, Atlético-MG ou Corinthians? É um significativo avanço do ser humano perante o próprio ser humano. Antes tarde do que nunca.
Depois de anos e mais anos, Cuca perdeu o controle da narrativa, graças aos diversos jornalistas e comentaristas, especialmente mulheres, que felizmente não ficaram sentados no conservadorismo e evoluíram nas últimas décadas, assim como os milhões de corintianos e corintianas que contestaram desde o primeiro minuto a contratação do treinador.
Apesar da sentença favorável, a jovem vítima, hoje uma senhora de quase 50 anos, enfim começa a ver, mesmo que com um oceano de distância, uma pequena parte da justiça ser feita. Seguramente, nada que conforte de todo uma vida repleta de fantasmas e traumas.
Infelizmente, enquanto houver uma boa desculpa, nunca a justa razão vai ter caminho aberto para prevalecer. Hoje é "porque é o Corinthians", até ontem era "ela subiu para o quarto dos jogadores porque quis". Um sinal claro que 2023 não está assim tão distante de 1987.
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