Nem sempre a unanimidade é burra
"Não me falta nada. A minha obrigação é jogar e ganhar."
Foi assim que Abel Ferreira finalizou comigo uma conversa descontraída em dezembro de 2020, poucas semanas depois de ter assumido o desafio de dirigir o Palmeiras. Estava longe da família e nem sequer imaginava o que viria pela frente. Ninguém, aliás.
Se ali, antes de qualquer título na carreira, já não faltava-lhe nada, o que dizer agora então depois da nona taça erguida no massacrante e conturbado futebol brasileiro em apenas três anos de trabalho?
Se rumar para o Qatar, hoje o cenário mais provável, vai atravessar o Oceano Atlântico como o maior técnico da história do Palmeiras, tendo ainda garantido uma cadeira de luxo para sentar na mesa dos sonhos com os mais emblemáticos do país: Telê Santana, Luiz Felipe Scolari, Zagallo, Vanderlei Luxemburgo e Muricy Ramalho.
A equipe alviverde jogou muito. Ganhou ainda mais. Foi coesa e disciplinar do começo ao fim em três temporadas, com raros altos e baixos. Culpa da boa e velha exigência do emotivo e polêmico Abel. As naturais contestações quase sempre recaíram somente sobre os dirigentes, algo inédito no Brasil.
O português de Penafiel tornou-se num escudo de si próprio e praticamente quebrou a ideia de que no futebol (e na vida) toda unanimidade é burra. Não é e nunca vai ser ingrato, mas, se vier a aceitar mesmo o convite para ser o técnico mais bem pago do mundo no Al-Sadd, vai ter a "benção" de tudo e todos.
Há quem saia com a sensação de dever cumprido. Abel Ferreira, por sua vez, pode tranquilamente ir embora tendo feito muito, muito, muito mais do que a tal "obrigação" com a qual chegou ao Palmeiras.
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