Vinícius Junior sabe jogar. Talvez se torne um craque
Vinicius Junior poderá se tornar um craque. Seu limite será determinado pelo que ele fará com os talentos que recebeu. Talentos notórios: a velocidade, o drible e a capacidade de mudar de direção sem perder o controle da bola; e, não menos relevante, o sentir-se capaz de decidir os jogos mais importantes e difíceis.
Certamente não é comum um jogador de 18 anos desembarcar na Espanha e, meses depois, ser escalado frequentemente no time titular do Real Madrid. O cara sabe jogar. Para ser um jogador extraordinário, porém, Vinícius Junior terá de melhorar sua técnica.
Tostão já nos alertou várias vezes para a diferença entre habilidade e técnica: aquela é essência do drible e do domínio de bola; esta se expressa no passe e na finalização. Habilidade é genética, e dom, e intimidade com o instrumento de trabalho; técnica é treino, e treino, e mais treino. A técnica é exigência para a boa execução dos fundamentos, ou seja, marcar, passar, lançar e chutar.
É claro que habilidade e técnica muitas vezes estão misturadas, ou mesmo amalgamadas, no drible ou na cobrança de falta; no entanto, são diferentes na origem e no desenvolvimento. É possível ser craque sem a habilidade de um virtuose; mas não há craque sem técnica. O ideal, por óbvio, é ter ambas.
Tornou-se provérbio a ideia de que o craque nasce pronto. Partes imprescindíveis do ser craque nascem antes do parto, enquanto outras vêm do ambiente e das condições em que a criança aprende a jogar - no futebol, particularmente, campos acidentados ou de areia já obrigaram muita gente a desenvolver habilidade. A técnica, contudo, só pode decorrer de muito treino, trabalho exaustivo e repetição. Não há vontade humana ou treino capaz de transformar um jogador mediano em craque; no entanto, os fenômenos do esporte sempre foram mais que apenas talento.
Michael Jordan nunca se acomodou ao talento recebido; antes, treinava mais que qualquer outro jogador daquele time excepcional do Chicago. Mozer já contou que, quando foi para o elenco profissional do Flamengo, ficou impressionado com a dedicação de Zico nos treinamentos. Todos que jogaram com Pelé no Santos ou na Seleção compreenderam que ele sempre acrescentou rios de transpiração à inspiração incomum e ao talento antológico.
O mesmo vale para Messi e Cristiano Ronaldo, ou eles não conseguiriam jogar tanta bola por tanto tempo. Garrincha foi único, pois fintou até limites da física, mas seu futebol espantoso não era somente o drible espetacular e a intuição formidável. Garrincha tinha muita técnica nas finalizações e nos cruzamentos.
Vinicius Junior não é um jogador comum, mas, para ser mais do que bom, precisa melhorar o passe e a finalização, além de desenvolver a calma necessária para tomar as decisões certas nos lances capitais. Deve também ignorar os elogios fáceis e exagerados. Sim, Vinícius sente-se capaz de decidir os jogos mais importantes e difíceis, mas só conseguirá fazê-lo quando for além de seus notórios talentos.
Vinicius Junior poderá se tornar um craque. Se assim for, a seleção brasileira terá a chance de recuperar sua histórica peculiaridade de não depender de um único jogador.
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