José Cruz: Mané Garrincha não merecia homenagem como essa
O jogo em que a seleção brasileira derrotou o Qatar (2x0) seria uma boa oportunidade para lotar o estádio Mané Garrincha, quarta-feira (5), em Brasília. A arena recebe bom público apenas em jogos de grandes times do Campeonato Brasileiro. Fora isso, fica ocioso, consumindo R$ 700 mil mensais a título de "conservação".
Mas, agora, nem a seleção brasileira motiva o torcedor a lotar a arena que teve custo final de R$ 1,8 bilhão. Apesar da presença de Neymar, apenas 34 mil torcedores compareceram ao jogo, deixando 30 mil lugares vazios no gigante de concreto. Parece que o torcedor adivinhou que o craque jogaria por escassos 16 minutos, quando saiu com uma lesão no tornozelo...
Construído para a Copa do Mundo 2014 e anunciado para ser um grande centro de esporte e lazer, o estádio está longe dessa projeção. Sua fama deve-se mais ao desperdício de dinheiro público, numa cidade de futebol inexpressivo, e por trambiques que o monumental espaço abrigou.
No mais recente, há duas semanas, a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu o presidente da Federação de Futebol local, Daniel Vasconcelos, o ex-jogador Roni e outras cinco pessoas acusadas de envolvimento num esquema de fraude de borderôs financeiros.
Fora do guichê da bilheteria, o Mané Garrincha já envolveu outros espertos da política local.
O ex-governador José Roberto Arruda (2007 - 2011), em cujo mandato começaram as obras do Mané Garrincha, recorre em liberdade à condenação a sete anos de prisão por envolvimento no esquema "Caixa de Pandora". Em outro processo, ele é acusado pelo Ministério Público Federal de superfaturar serviços para exigir propina das construtoras do estádio.
Na sequência, o ex-ministro do Esporte, Agnelo Queiroz, tornou-se governador do DF (2011-2014) e também foi envolvido no mesmo processo de Arruda, com outros dez suspeitos, após investigações da Polícia Federal. A acusação do Ministério Público é de fraude em licitação, lavagem de dinheiro e corrupção passiva.
Com grande número de torcedores em Brasília, o Flamengo é clube que mais atrai público ao Mané Garrincha. No ano passado, 60 mil pessoas foram ao Fla-Flu em que o rubro negro venceu por 2x0. Corinthians e Palmeiras também atraem torcedores, mas nada que passe dos 50% da capacidade do estádio.
Fora isso, o estádio serve para os jogos do Campeonato Candango. Em fevereiro deste ano, o jogo Real x Santa Maria motivou a ida de irrisórios 60 torcedores, que ficaram sufocados na imensidão de 73.940 mil cadeiras vazias...
Enfim, há cinco anos comprova-se o discurso mentiroso dos governadores da época e a ganância com que despejaram concreto numa obra que, estava claro, se tornaria inexpressiva. Expressiva, quem sabe, para os suspeitos políticos de então, como demonstra a justiça.
Agora, anunciam que o consórcio Boulevard Show de Bola assumirá a gestão do estádio e do Centro Esportivo. Oxalá não seja mais um escândalo anunciado.
Enfim, o saudoso craque Mané Garrincha não merecia essa homenagem em que o seu nome é citado em meio a grossa corrupção.
Mas são coisa$ do futebol.
Mudança de rumos
O Governo do Distrito Federal informa que o Estádio Nacional Mané Garrincha está sendo repassado à administração do BsB Boulevard Show e Bola, através de uma PPP (Parceria Público Privada). A oferta vencedora da licitação prevê o pagamento anual de R$ 5 milhões ao GDF, além do repasse de cinco por cento do faturamento líquido. A BsB Boulevard assumirá, também, o Ginásio Nilson Nelson e o conjunto aquático Cláudio Coutinho.
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