Antero Greco: Palmeiras e Fla se metem em enrascada
A Copa do Brasil colocou Palmeiras e Flamengo numa enrascada dos diabos. A eliminação nos pênaltis foi trombada e tanto para ambos, do ponto de vista esportivo e financeiro. Prejuízo em dobro. Por quê? Porque deixaram escapar oportunidade de faturar taça de prestígio e, por tabela, viram uma dinheirama de premiação escorrer pelo ralo.
O estrago maior, porém, está no aspecto psicológico, se o amigo que lê esta crônica me permite bancar aqui o analista de botequim. Com a exclusão em um torneio importante, a dupla sofrerá pressão - maior do que já existe - por título. E lhes restam Taça Libertadores e Campeonato Brasileiro. Convenhamos, desafios mais espinhosos do que a Copa do Brasil.
"Bem", dirá o torcedor com senso crítico, "problema deles, investiram alto e agora arquem com as consequências". E eu digo que concordo com quem pensa assim. Rubro-negros e palestrinos não podem tirar o corpo fora e fingir que a rasteira do meio de semana não os afetará. Não é aceitável que se comportem com conformismo, quase indiferença, numa hora dessas.
Felipão, por exemplo, tratou a queda diante do Inter como fato comum no futebol. Numa tentativa de diminuir o impacto e o significado do que ocorreu no Beira-Rio. Com boa vontade, poderia interpretar a atitude do treinador como forma de não derrubar o ânimo dos atletas nos duelos que há pela frente. Não deixá-los com a mente perturbada. Sempre a psicologia de balcão de bar...
Mas também poderia detectar na atitude uma frieza desproporcional para a decepção que o torcedor sofreu. E uma forma de tirar peso sobre as costas dele e do grupo. Vá lá que a vida não acaba por causa disso, tampouco foi algo digerível e menor. Foi uma traulitada nas pretensões de quem arrisca grana alta para ter hegemonia local, nacional e continental.
Algo semelhante se viu nas explicações de Diego, após o fiasco diante do Athletico. O meia assumiu o risco de ter cobrado pênalti com cavadinha (ele diz que foi "colocadinha"), sob a alegação de que havia treinado (com sucesso) daquela forma. Cavadinha em pênalti é linda, se a bola entra. Em mata-mata, decisivo, primeiro da série de pênaltis, a alternativa é o sujeito encher o pé, sem dó. Pode errar, mas com convicção, como aconteceu com o Vitinho.
Bom, de volta ao tema central: Palmeiras e Flamengo terão menos paz daqui para a frente e obrigatoriamente deverão lidar com impaciência de torcedores. Ficaram no ar desconfiança sobre a capacidade dos elencos de lideram com situações extremas e o temor de que terminem o ano chupando dedo, sem volta olímpica em competição de peso.
No Palmeiras, assusta a ineficiência nos mata-matas (quatro frustrações recentes, sob o comando de Felipão, tido como mestre nesse formato de disputa). No Fla, volta o fantasma do time que promete muito e entrega aquém do esperado, sobretudo em casa e contra adversários de menor potencial técnico. De novo, o risco do "cheirinho", mas de queimado.
Para deixar claro: não há demérito para Inter e Furacão. Passaram com louvor, garra, clareza e como consequência do trabalho de seus treinadores, além da dedicação dos atletas. Mas inevitável, também, a impressão de que houve certa presunção de Palmeiras e Flamengo. Sabe aquele sentimento de "somos fortes e ganharemos quando e como quisermos"?
Pois é, a realidade foi dura com os dois candidatos a protagonistas. A tarefa dos "professores" é impedir que percam o rumo, o que não é fora de propósito, ao mesmo tempo em que devem colocar "pilha" adequada na Libertadores e no Brasileiro. Terminar 2019 sem uma conquista (o Estadual não vale) será fiasco. O primeiro teste será neste fim de semana: o Palmeiras na visita ao Ceará e o Flamengo com o clássico com o Corinthians em Itaquera. Não é pouca coisa...
E, sem a intenção de agourar ninguém, o risco de ficar fora do prumo existe; é acentuado na Libertadores (porque lá vêm os mata-matas e seus percalços) e moderado no Brasileiro (campeonato de regularidade, em que elencos melhores tendem a prevalecer). A glória que parecia fácil e natural agora pode virar um pesadelo capaz de derrubar projetos e profissionais, além de humilhar torcidas imensas.
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